Ruy Fabiano escreve, via Blog do Noblat, sobre a vergonha que os brasileiros sentem em relação ao STF:
A atual composição do Supremo Tribunal Federal, em que parte de seus
membros passou a ser hostilizada de maneira recorrente pelo público, nos
mais distintos ambientes, é a maior aliada dos que propõem mudanças no
modo de nomeação de seus ministros.
Há diversas propostas nesse sentido, que vão do concurso público à fixação de um mandato para seus integrantes.
Não se trata apenas de a nomeação ser política. Também o é nos Estados Unidos, mas com algumas diferenças básicas.
Lá, os indicados submetem-se a uma sabatina rigorosa no Senado (que
já barrou alguns postulantes), têm seu passado e atividade acadêmica
virados do avesso e, a partir da nomeação, assumem estilo de vida quase
celibatário.
Não frequentam, por exemplo, convescotes com políticos e advogados,
como é comum por aqui. Os grandes nomes da advocacia em Brasília
adquiriram reputação menos por razões de ordem técnica e mais pelos
relacionamentos que mantêm com os ministros.
As sabatinas no Senado são meras formalidades. Nenhum postulante jamais foi barrado. E não há coincidência.
Os senadores são julgados pelo STF e os ministros do STF são, em tese
(jamais houve um caso), julgados pelo Senado, instância que pode
decretar o impeachment de um ministro. O que se tem é uma espécie de
acordo tácito entre as Casas, jamais descumprido.
Há, neste momento, alguns pedidos de impeachment no Senado, todos
devidamente engavetados. Gilmar Mendes é o alvo preferencial, mas Dias
Toffoli, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski também são
demandados.
Lewandowski, inclusive, acaba de ter novo pedido encaminhado ao
Senado pelo jurista Modesto Carvalhosa, que o acusa de abuso de poder,
por ter mandado prender um advogado que lhe disse, a bordo um avião, se
envergonhar do STF.
Não é seguramente uma opinião solitária.
A Constituição exige, dos postulantes a uma vaga no Supremo,
reputação ilibada e “notório saber jurídico”. Ou seja, não basta saber; é
preciso que esse saber seja notório, de conhecimento público, o que
pressupõe obras publicadas.
O atual presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, ao ser nomeado
por Lula, não tinha (como ainda não tem) um só livro publicado e havia
sido reprovado em dois concursos para juiz. Detalhes, achou o Senado.
Graças ao quinto constitucional – dispositivo previsto no artigo 94
da Constituição, que determina que 20% das vagas dos tribunais sejam
preenchidos por advogados e promotores, e não por juízes de carreira -, a
Corte Suprema tem um único juiz: Rosa Weber.
Os demais são egressos da advocacia ou do Ministério Público. Uma
Corte sem juízes. Seu atual presidente era advogado do PT e ex-chefe de
gabinete de José Dirceu. No STF, mostrou-se leal a suas origens, ao
liberar da prisão seu ex-chefe, não obstante sobre ele pesar uma
condenação, em segunda instância, de 30 anos de prisão.
A impopularidade, decorrente do descrédito, chegou ao paroxismo em face da notória resistência à Operação Lava Jato.
O ex-ministro Ayres Brito, que presidiu a Corte ao tempo do Mensalão,
costuma dizer que “o STF é uma porta que só se abre por dentro”. Ou
seja, deve ser seletiva em relação ao que lhe mandam.
No entanto, Lula já o mobilizou sucessivas vezes com pleitos
idênticos – alguns despropositados – e a fez rever sua própria
jurisprudência diversas vezes, em prazos inusitados.
Uma jurisprudência se estabelece para durar indefinidamente. Mas, não
obstante o STF ter decidido por três vezes, nos últimos três anos, em
favor da prisão em segundo grau, o tema voltará ao exame no início de
2019. Não por acaso, o postulante é, mais uma vez, Lula.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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