Bruno Garschagen, colunista da Gazeta do Povo,
escreve sobre a vitória de Bolsonaro, que, de fato, deve ser saudada,
pois agora teremos, pela primeira vez em 30 anos, alternância no poder -
um atributo da democracia. Nas três últimas décadas, tivemos apenas
governos de esquerda, centro-esquerda, extrema-esquerda:
A vitória de Jair Bolsonaro é simbólica por revelar empiricamente uma
obviedade que só políticos oligarcas e de esquerda, festejados
especialistas, comentaristas e jornalistas ignoravam ou preferiam
ignorar: parcela significativa da sociedade brasileira ansiava por um
representante que comungasse com ela uma agenda política, econômica e
moral à direita, e que não tivesse medo de defendê-la.
Bolsonaro venceu porque atendeu a uma demanda reprimida da sociedade
por um candidato de direita que oferecesse o pacote completo: ser e
parecer honesto, corajoso, contundente, e defender uma agenda política
baseada no combate à criminalidade, na defesa do direito à autodefesa,
no respeito à propriedade privada, na liberdade de mercado (interna e
externa), na ruptura com o presidencialismo de coalizão que corrói
Presidência e Congresso, nas reformas necessárias para que o Estado
deixe de atrapalhar a sociedade e que possa cumprir as suas atribuições
constitucionais mais urgentes, como segurança pública.
Os desafios de Bolsonaro, agora, são usar o primeiro semestre de
governo para realizar o que for possível dentro de tão pouco tempo, mas,
principalmente, sinalizar com discursos e atos concretos que está
disposto e empenhado a cumprir a agenda política e econômica com a qual
se comprometeu com seus eleitores de primeira hora e com os que
depositaram nele um voto de confiança para evitar que o PT voltasse ao
poder.
A partir da posse, Bolsonaro terá uma janela temporal fundamental
para corrigir as suas fragilidades individuais e ajustar o seu plano de
governo, mostrar a que veio e garantir apoio por mais tempo. O
presidente eleito certamente contará com a simpatia inicial de parte dos
políticos que não o apoiaram e da parcela da sociedade que optou por um
voto não ideológico em seu adversário, Fernando Haddad (PT), mas terá
de renovar constantemente a confiança nele depositada. Até porque, a
partir de janeiro, Bolsonaro será vigiado e combatido a todo momento
pela esquerda na política formal, na cultura, na televisão, no
jornalismo, e terá no parlamento representantes de uma direita
independente, que se elegeu sem o seu apoio, e que o apoiará quando for
preciso e que o confrontará quando for necessário.
Se o presidente eleito agir da maneira que prometeu, as negociações
com o Congresso serão provavelmente feitas às claras e assim a sociedade
saberá o que se passa e poderá imputar sobre o presidente e os
parlamentares as responsabilidades individuais em vez de, como sói
acontecer, fazê-lo coletivamente na forma de expressões tão indignadas
quanto vagas (“político é tudo igual” etc.) que beneficiam os políticos
incompetentes e criminosos.
Se, por outro lado, Bolsonaro não fizer o que disse que faria,
titubear nas decisões importantes, demonstrar qualquer tipo de tibieza
na condução do Poder Executivo ou cometer erros na relação política com
os parlamentares recém-eleitos para o Congresso, terá não só mais
deputados e senadores contra ele, mas uma parte da sociedade que o
apoiou apenas porque queria impedir a volta do PT e que sabe de sua
força nas redes sociais e nas ruas para derrubar um presidente.
A vitória de Bolsonaro também representa um desafio para a direita
conservadora, que deverá aprimorar o trabalho incipiente em curso,
trabalhar para conquistar relevância intelectual no debate público e
protagonismo acadêmico, e assim ter estofo e legitimidade para orientar
as ideias e a práxis política não apenas do governo Bolsonaro, mas de
todos os políticos que se elegeram se apresentando ao eleitor como sendo
“de direita” ou conservadores, muitos dos quais sem fazer a menor ideia
do que isso significa.
Para um conservador, Bolsonaro não pode nem deve ser visto como
alguém que, sozinho, vai redimir o país. Quem deve fazê-lo somo nós, a
sociedade, que descobrimos a nossa força e ideias conservadoras e
liberais. Em varias declarações públicas, o próprio Bolsonaro se recusou
a vestir a roupa de salvador da pátria, atitude prudente que poderia
alimentar as piores paixões que sempre existem em grupos de eleitores.
Bolsonaro é, portanto, como já escrevi aqui na coluna, parte de um
processo maior de descoberta e tomada de posição à direita de parte da
sociedade brasileira, e deve ser visto como tal, ou seja, não como o
protagonista único do processo de transformação nem como o guia que
conduzirá sozinho e de forma centralizada a mudança do país. Até porque
vários foram os candidatos conservadores e liberais que se elegeram sem o
seu apoio direto, Bolsonaro deve ser visto como mais um dos
instrumentos políticos valiosos neste momento grave e delicado, e seu
governo não pode, portanto, se sobrepor à sociedade que o elegeu.
Vencida a eleição, a partir de agora, intelectuais, analistas,
comentaristas, jornalistas conservadores e liberais deverão assumir com
independência a responsabilidade de colaborar com o novo governo, que
venceu a disputa com uma agenda em parte conservadora, em parte liberal.
Essa colaboração deve se dar com orientações, sugestões, proposições e
críticas para que o governo Bolsonaro – ele, sua equipe e base aliada –
encontre no debate público uma fundamentação qualificada para aprimorar
os seus acertos e corrigir os seus equívocos.
A presidência de Bolsonaro também será – e deve ser – julgada pela
forma como ele, sua equipe e base de apoio vão lidar com sugestões e
avaliações contrárias formuladas por conservadores e liberais, mas
também pela oposição de esquerda. Mais do que qualquer outro presidente,
Bolsonaro será cobrado a respeitar as instituições e posições
contrárias, francas e não criminosas, para que não seja acusado de
repetir o comportamento persecutório que foi institucionalizado pelos
petistas.
O PT, aliás, tentará fazer o tipo de oposição infame que sempre fez,
mas não terá mais a vida fácil que tinha quando seus adversários eram
tucanos, emebistas et caterva. Na Presidência e dentro do Congresso, os
petistas enfrentarão uma oposição diferente daquela a que estavam
acostumados, e que será formada por conservadores, liberais e
bolsonaristas.
No exercício da Presidência, caso Bolsonaro aprimore e cumpra a sua
agenda política e econômica de fazer com que o Estado brasileiro deixe
de atrapalhar quem quer trabalhar, de abrir o país para o comércio
internacional, de eliminar a burocracia nociva, de trabalhar com o
Congresso para simplificar o sistema tributário, reduzir a carga
tributária, aprovar uma reforma da Previdência, estimular a
implementação de um federalismo de fato, enfrentar o déficit, reduzir os
gastos e limitar o poder do Estado, restringir a atuação da Presidência
às suas obrigações constitucionais, sem exacerbá-las, e, na área de
segurança pública, dispor de tudo o que estiver ao alcance do Poder
Executivo para ajudar os governadores a combater a violência
descontrolada no estados, pavimentará o caminho para realizar um ótimo
governo de feições conservadoras e liberais.
Por mais que muitos desgostem e neguem, o fato incontornável é que a
eleição de Bolsonaro representa a vitória da democracia brasileira, que
também é instrumento de alternância de poder entre visões políticas e
ideológicas divergentes. Dessa vez, o país terá, finalmente, um
presidente de direita.
Se Bolsonaro for bem-sucedido, consolidará a direita conservadora e
não conservadora como alternativas políticas viáveis e confiáveis. Caso
contrário, poderá comprometer todo um trabalho intelectual e de ativismo
de ideias que o precede e do qual ele foi beneficiário, e prejudicar a
formação em curso de uma melhor e mais qualificada elite política
conservadora. Reside aqui a fundamental importância de os conservadores
aconselharem e eventualmente criticarem as decisões políticas do novo
governo.
Considerando os problemas urgentes do país e a oposição brutal que
certamente será feita pelo PT e por seus partidos e organizações
satélites, a tarefa do governo Bolsonaro e dos conservadores está longe
de ser fácil, mas plenamente possível e necessária. Porque agora
teremos, finalmente, no Poder Executivo federal um presidente – e, no
Congresso, parlamentares – com uma agenda em parte conservadora, em
parte liberal. É um novo país que agora se expressa na política.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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