Coluna dominical do jornalista Carlos Brickmann, publicada em vários jornais do país e surrupiada aqui na íntegra:
Os livros sagrados
judeus, base dos livros sagrados cristãos, ensinam que Deus criou um
único homem, Adão, para mostrar que um só assassínio equivale à
destruição da Humanidade. Cada pessoa é única, mas todas saíram do mesmo
molde em que foi criado Adão; e cada uma pode dizer que por sua causa o
mundo foi criado.
Marielle foi
assassinada. Não importa seu lado ideológico, não importa sua ação
política. Foram mortos, no Rio, mais de cem policiais. Houve, e há, dos
dois lados, centenas, milhares de mortos, na maior parte das vezes em
desafio impune às leis do país, na totalidade dos casos em desafio à Lei
maior. O caro leitor não é religioso e acha correto explorar
politicamente o assassínio de alguém de seu lado, enquanto festeja a
morte de adversários?
Pois bem, deixemos
claro o pensamento deste colunista: FODA-SE. E diga se esse Rio de tiros
cruzados é melhor do que a Cidade Maravilhosa.
Lamentemos os mortos,
exijamos que os assassínios sejam investigados e os assassinos punidos.
Não é possível, num país civilizado, que bandidos circulem com armas
longas de grosso calibre, em público, como se isso fosse normal. Não é
possível, num país civilizado, que sejam poupados pela lei. E cobremos
coerência dos parlamentares: se quiserem organizar-se como Bancada da
Bíblia, que sigam os preceitos bíblicos (se acharem difícil, os Dez
Mandamentos servem: não matar, não roubar). É fácil.
Vergonha na casa
Os lamentos seletivos
por pessoas assassinadas, de acordo com sua posição política, não são a
única iniciativa estarrecedora: há jornalistas, ou ex-jornalistas em
atividade, empenhados em denunciar profissionais que, nas redes sociais,
sem anonimato, defendem a prisão de Lula. O nome do jogo é dedoduragem
(ou caguetagem, talvez); e envolvem todos os favoráveis à prisão de Lula
quando terminados os trâmites judiciais, seja qual for sua motivação.
Não incluem os que petistas gostam de ver presos, como Geddel; ou
“cumpanhêrus” que já caíram em desgraça, como Palocci. Traduzindo, bota
no deles e esquece do nosso. Hoje, na tropa virtual lulista, há um
tremendo declínio de qualidade. Os competentes que faziam notícias
falsas foram trocados por gente de projeção bem menor.
Todos juntos…
Quantos candidatos
haverá à Presidência da República? Esqueça a política; os partidos que
melhores alianças farão serão os que tiverem mais verba para financiar a
campanha. Não adianta surgir um partido muito bem espalhado pelo país,
com bons candidatos ao Senado e à Câmara, se a verba para a campanha
presidencial for pequena. Como a verba é uma só, um partido que destine
boa quantia à luta pela Presidência terá menos dinheiro para disputar
Senado e Câmara. Se preferir o fortalecimento do partido, não terá como
conduzir boas negociações com quem lhes propuser aliança.
…vamos
É uma lista imensa:
salvo falha (ou novos candidatos que apareçam entre a redação e a
publicação desta coluna), já se lançaram ou estão na fila José Maria
Eymael, Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Lula, Manuela d’Ávila, Geraldo
Alckmin, Valéria Monteiro, Henrique Meirelles, Michel Temer, Álvaro
Dias, Flávio Rocha, João Amoêdo, Marina Silva, Jair Bolsonaro ─ e,
claro, Levy Fidélix, o do aerotrem. Há candidatos tradicionais que ainda
não se definiram, como Zé Maria (“contra burguês, vote 16”), e Rui
Pimenta, do PCO. Dificilmente a lista final terá tantos nomes. A verba
curta será o grande estímulo para reduzir a lista.
Ninguém escapa
A empresa Elijet
Participação entrou na Justiça cobrando R$ 32,6 milhões de Joesley
Batista. Na ação, diz a empresa que foi contratada para intermediar a
compra de dois aviões Gulfstream, e que Joesley não pagou a corretagem. O
primeiro Gulfstream foi pedido verbalmente e, dizem os queixosos,
Joesley não pagou a corretagem. Para o segundo Gulfstream, mais moderno,
foi feito um contrato. Ele não pagou; mas os corretores dizem ter um
documento em que a dívida é reconhecida.
Sem espaço
O Brasil foi suspenso
do Observatório Europeu do Sul, ESO, por falta de pagamento. O Brasil
pediu entrada no ESO no final de 2010 e o pedido foi aceito por
unanimidade. O acordo foi assinado em 2011 e aprovado no Congresso em
maio de 2015. Mas o pagamento, que é bom, esse não foi feito: participar
do ESO custa algo como 270 milhões de euros, parcelados em dez anos (às
cotações de hoje, a quantia chega perto de US$ 1 bilhão). Mesmo antes
de pagar, o Brasil tinha livre acesso a três observatórios astronômicos
instalados no deserto do Chile, mantidos e administrados por países
europeus, asiáticos, Canadá e EUA. E por que não foi pago? O Governo não
diz que temos reservas de quase 400 bilhões de dólares?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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