por Aninha Franco / CORREIO
A
semana que deslanchou no sábado de Aleluia foi panquérrima. Semana de
escutar Lula chamar seus antagonistas de fascistas e cachorros doidos e
de assistir Bolsonaro declarar que se for presidente, o Ministro do MinC
será Alexandre Frota. Motivos cavalares para bater duas DRs, encher os
cabelos cinzas de cinzas e jejuar, mesmo num sábado de Aleluia que ainda
grelha Judas aqui e ali. Quem será que inventou essa ideia macabra de
queimar Judas? Pergunto ao Google, e ele me responde que surrar e
queimar Judas Iscariotes foi um hábito introduzido na AL pelos invasores
ibéricos. Mil vezes melhor o comer dendê dos Africanos e depois deitar
na Rede dos Tupinambás.
Mas nem os hábitos Africanos e Tupinambás
têm me livrado de pensar coisas insanas, porque está complicado ser
brasileira, porque o Brasil está perturbando os lúcidos, os racionais,
os kantianos com o seu jeito ensandecido de ser sem lógica, sem lucidez,
sem coerência. No Brasil, a lógica muda de nexo dependendo da
necessidade de seus políticos. E quando esta semana santa acabar,
amanhã, virá uma semana mundana brasileira com os próximos capítulos de
Temer e Lula, os líderes dos partidos que conduziram a República
brasileira ao frangalho.
A
República iniciada na Salvador colônia há 469 anos, quando 6 caravelas
estacionaram no Porto da Barra e desembarcaram Jesuítas, militares, o
arrecadador de impostos, degredados e artesãos, está com seus dois
líderes mais importantes dos últimos anos em situações esdrúxulas, um a
um fio da prisão ou da decretação da impunidade, e o outro com todos os
seus contatos próximos presos. Não é peculiar que o presidente de uma
república não possa telefonar para nenhum amigo numa manhã de sábado
porque todos estão presos? Não é extravagante que um cara eleito para
combater a corrupção torne-se o garoto propaganda da impunidade?
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Pois é, poderíamos ficar aqui batendo essa
duas DR enquanto alguns Judas ainda são queimados e a carne volta às
mesas dos carnívoros neste fim de semana, santa, em que a declaração
estrondosa do Papa Francisco provocou pouco impacto. Não existe Inferno,
nos garantiu o Santo Padre lá do Vaticano, este Estado que está conosco
desde nossos primeiros momentos de Colônia, e continua – menos forte –
nesses tempos de República esfrangalhada. Se não existe Inferno, existe
Céu tive vontade de perguntar ao Google, mas desconfiei que ele tentaria
me responder ideologicamente, e desisti.
O Inferno são os outros, lembrei de Sartre
de quem lembro raramente, hoje, mas que já li muito, um dia. E fui ao
Inferno de Dante, um Paraíso para quem ama a Poesia e li que “no inferno
os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a
neutralidade em tempo de crise.” E voltei ao Papa Francisco que disse a
um jornalista que as almas daqueles “que se arrependem obtêm o perdão de
Deus e vão entre as fileiras das almas que o contemplam (...) mas
aqueles que não se arrependem e, portanto, não podem ser perdoados,
desaparecem.”
Não, não, não! Sem partidos políticos, sem
políticas públicas, sem líderes, sem lucidez e agora sem Inferno! Melhor
que o Inferno exista, Papa Francisco! Aleluia!
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