Não é demais ressaltar: o
presidente Temer recebeu um país destroçado por anos de
irresponsabilidade populista. "O momento não é o da aposta em
popularidade irresponsável", escreve Denis Rosenfield no jornal O Globo:
A grande vantagem dos
governos populistas, como os que presidiram o país nos últimos anos,
consiste no exercício ideológico da irresponsabilidade. Os recursos
públicos foram simplesmente vilipendiados, quando não tratados como cosa
nostra, sendo o mensalão e o petrolão os seus melhores exemplos.
Contudo, enquanto a
farra imperava, houve inegáveis ganhos de popularidade política. Em seu
corte esquerdista, estes governos caracterizavam-se pela dita afirmação
dos direitos, como se os deveres não fizessem parte da cidadania.
Observávamos — e
observamos — corporações e sindicatos assim cooptados tomarem para si
uma parcela cada vez maior dos recursos públicos. Os gastos tornaram-se
cada vez maiores, sem as correspondentes receitas. Chega um dia em que a
conta deverá ser paga. E ela chegou!
Para ter-se uma ideia
do descalabro reinante quando o presidente Michel Temer assumiu o
poder, o país perdia mensalmente cem mil empregos. Hoje, recupera 30 mil
por mês, e os índices tendem a melhorar. O PIB era negativo, e já se
pode prever para o próximo ano um crescimento entre 2,5% e 3,5%. A
inflação nunca foi tão pequena em décadas, situando-se agora abaixo do
piso da meta. Evidentemente, nada disto pode ser feito sem medidas
duras, que, como é normal, produziram baixos índices de popularidade
presidencial.
Há os que perderam os
privilégios, os que não conseguem se dar conta de que a atual situação é
decorrência de uma verdadeira herança maldita e os que seguem reféns da
cegueira ideológica produzida pelo lulopetismo. É muito mais fácil
vender ilusões, alicerçadas em dispêndios estatais crescentes, do que
governar responsavelmente.
Aliás, um dos graves
problemas das democracias contemporâneas consiste em que essas procuram
ganhar popularidade com políticas socialmente distributivas, como se
essas fossem inesgotáveis, e não se preocupam com as questões atinentes à
produção de riquezas, sem a qual nenhum distributivismo é capaz de se
sustentar.
O presidente Temer
assumiu um país virtualmente falido, correndo para o abismo e a
insolvência. É bem verdade que muitos viviam na ficção dos “direitos” e
de um “desenvolvimento” que se tornara inexistente. A nova classe média
já tinha perdido a sua condição e voltava para a sua situação anterior.
Apartamentos e carros, tão celebrados pelo lulopetismo, foram
devolvidos, com uma enorme quebra de esperança. A inflação passou a
corroer os salários e o poder de compra das famílias. Quem experimentou o
gosto do melhor sofre muito mais com a sua perda.
Teve o novo
presidente a coragem de assumir suas responsabilidades, despreocupado
com sua popularidade e eleições. Talvez o seu maior erro tenha sido não
ter apresentado ao país, no momento adequado, a herança recebida.
Poderia ter aceito uma mera postergação do status quo, que, certamente,
lhe teria granjeado popularidade. Poderia ter assumido o discurso fácil
de venda de imagens de bem-estar social desconectadas da realidade. Em
vez disto, decidiu colocar o país nos trilhos, no caminho das reformas
necessárias.
Na medida em que se
assumiu como “presidente reformador”, trouxe para si a impopularidade. A
opinião pública, amortecida pelos governos anteriores, seguia na ilusão
de que nossos problemas seriam meramente passageiros, uma “marolinha”
que logo passaria. Uma pequena turbulência, e não a expressão de
questões estruturais.
Ora, reformas não são
aprovadas do nada, sobretudo se o seu escopo for muito abrangente,
atingindo vários dos interesses enclaustrados no próprio aparelho
estatal. Na falta de popularidade, resta ao governante, se responsável
for, apoiar-se no Parlamento, salvo se outra opção residir em um governo
autoritário, que meramente impõe o que deve ser feito. O novo
presidente não escolheu nem o populismo esquerdista, nem a solução
autoritária, mas enveredou por negociações exaustivas e muitas vezes
fisiológicas com a Câmara dos Deputados e o Senado.
Note-se que o Poder
Legislativo é fruto desta mesma irresponsabilidade dos últimos governos,
devendo passar ele também por um choque de realidade. De nada adiante
criticar estas negociações parlamentares se nada for posto em seu lugar
e, sobretudo, se o preço a pagar for a omissão, a irresponsabilidade e a
manutenção do status quo.
Muito foi feito em curto espaço de tempo. A agenda reformista é extensa. Dentre outras iniciativas, observe-se:
a) o teto do gasto público, que impôs um limite à gastança irresponsável imperante;
b) a reforma do ensino médio, que vinha sendo negligenciada;
c) a aprovação da
terceirização, que abre uma nova época para a produção de riquezas,
dando uma nova agilidade aos processos econômicos;
d) a aprovação da
modernização da legislação trabalhista, que cria novas oportunidades de
emprego e tira a economia brasileira de seu engessamento, em consonância
com o que ocorre nos países desenvolvidos;
e) a introdução de critérios de eficiência e de profissionalismo na gestão de empresas estatais e bancos públicos.
Ainda nestas últimas
semanas, tivemos um aprofundamento do processo de desestatização de
empresas públicas, sob a liderança do ministro Moreira Franco. Foi um
ato de coragem mexer com símbolos de um país que deve se modernizar,
como a Eletrobras e o aeroporto de Congonhas. Lembre-se dos benefícios
da privatização da Telebras e a explosão de novas tecnologias e
eficiência, colocando celulares baratos nas mãos de qualquer cidadão.
Também está o governo cortando a bolsa-empresário, procurando equalizar
as taxas de juros do BNDES com as do mercado, acabando com privilégios.
A consciência de todo
este processo de reformas e de inovação deveria ser uma obrigação mesma
dos parlamentares, em cujas mãos está a necessária reforma da
Previdência, sem a qual o quadro de transformações do país ficará
incompleto. Pense-se igualmente no projeto de simplificação tributária.
O momento não é o de aposta na popularidade irresponsável.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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