MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Seria Moro também um censor?, por Raul Monteiro


Foto: Divulgação
Juiz Sérgio Moro criticou publicação pela folha de artigo que questiona seus métodos
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo recentemente, o cientista Rogério Cesar de Cerqueira Leite fez duras críticas ao juiz Sérgio Moro, a quem chamou, dentre outros adjetivos, de “justiceiro messiânico”, defendendo, naturalmente, o ex-presidente Lula (PT) do que considera uma caçada empreendida pelo magistrado. Não é apenas por ser um cientista renomado nem integrar o conselho editorial de um dos mais importantes jornais brasileiros que Cerqueira Leite pode criticar o juiz que trouxe a esperança de que a impunidade pode ter fim no Brasil.
A Cerqueira Leite é facultado dizer o que pensa de Moro na Folha porque, de fato, conquistou status e legitimidade para emplacar suas análises no veículo, mas fundamentalmente porque vive numa democracia, onde opiniões podem circular livremente sem o controle dos que julgam estar com a razão ou o domínio da correção. Com certeza, não teria tal oportunidade se morasse em Cuba e atacasse um dos altos membros do regime castrista ou na Venezuela e criticasse um membro da alta magistratura do time do deplorável Nicolás Maduro.
Esta não parece, no entanto, a avaliação do próprio juiz que cumpre um dos papéis mais importantes da história da nação brasileira, ao ajudar a desvendar um dos mais robustos e organizados esquemas de corrupção existentes no país e a colocar na cadeia alguns dos seus protagonistas, gente importante que, se fosse levada em conta a tradição e os costumes nacionais, jamais alguma vez seria obrigada a ver o sol nascer quadrado, como milhares de brasileiros pobres ou miseráveis que pagam com a liberdade por terem roubado simplesmente para comer ou alimentar seus filhos.
Numa carta ao jornal, o juiz não só manifesta sua surpresa com o artigo “Desvendando Moro”, de autoria de Cerqueira Leite, como classifica de lamentável o fato de a Folha ter lhe concedido espaço para fazer críticas à sua pessoa e ainda sugere que a publicação de “opiniões panfletárias-partidárias” deva ser evitada. “Embora críticas a qualquer autoridade pública sejam bem-vindas e ainda que seja importante manter um ambiente pluralista, a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveriam ser evitadas, ainda mais por jornais com a tradição e a história da Folha”, diz Moro.
Ora, ora! Não há dúvida do valor do grande trabalho, para o Brasil e os brasileiros, de Moro. Até por sua dimensão, importância e o stress que deve envolver, o juiz deve ter, no entanto, perdido a dimensão do seu próprio papel. Ninguém é inatacável. E a melhor maneira de enfrentar uma opinião dura, injusta ou intelectualmente desonesta é confrontando-a de forma clara e transparente. Mostrar com argumentos sua inconsistência ou incongruência, sua desconexão com a realidade, a que interesses serve. Nunca, jamais, tentar suprimí-la, desejo típico de resquícios autoritários com os quais o Brasil que se moderniza pela punição dos usurpadores não pode conviver.
* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia
Raul Monteiro*  POLÍTICA LIVRE

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