MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

'El País': Doria seria Berlusconi brasileiro?

Reportagem fala que Lula já o compara com Collor, mas ha controvérsias


Matéria publicada nesta quarta-feira (5) pelo jornal espanhol El País fala sobre João Doria Jr., que será o próximo prefeito de São Paulo. Ele ganhou na primeira rodada e se tornou assim a maior surpresa das eleições municipais do Brasil realizadas no domingo(2). Este homem que patrocinou Geraldo Alckmin, será uma novidade promissora e inovadora, ou acabar sendo um Berlusconi brasileiro conforme alguns críticos sugerem?
O artigo de Juan Arias fala que as eleições foram atípicas, cheia de surpresas que levam a inúmeras reflexões, especialmente sobre o colapso da PT e a vitória dos partidos que apoiaram a queda de Dilma. Estas foram as primeiras eleições após o furacão político e grande crise econômica que o Brasil está passando. A primeira após o escândalo da Lava Jato, de grandes manifestações contra o PT e a velha política e o impeachment de Dilma.
> > El País ¿Hemos encontrado en Doria al Berlusconi brasileño?
El País afirma que de acordo com pesquisas, quatro em cada dez eleitores não escolheram nenhum candidato. Os brasileiros se tornaram mais exigentes com seu voto, o que significa uma democracia mais forte. No entanto, a surpresa das surpresas foi o empresário milionário quase alheio à vanguarda política, desconhecido pelo público em geral, que venceu na primeira rodada, com grande maioria de votos a prefeitura da cidade São Paulo, desde as classes altas até os subúrbios mais pobres.
El País explica que comparação de Doria com Silvio Berlusconi se deu pelo triunfo sem experiência política em um país totalmente politizado
El País explica que comparação de Doria com Silvio Berlusconi se deu pelo triunfo sem experiência política em um país totalmente politizado
Dizem que seu sucesso é fruto da astúcia do incansável governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o autêntico grande vencedor de uma eleição que já antecipa a disputa presidencial de 2018.
O texto questiona se teria sido a magia do alquimista Alckmin que tornou possível o Furacão Doria ou há algo mais? Entre as muitas interpretações do fenômeno, uma que não pode ser descartada é o cansaço do eleitor com a velha política e a busca de figuras novas que podem oferecer esperança de mudança. E aqui entraria o marketing do empresário gestor, capaz de criar postos de trabalho, do trabalhador incansável que com seu esforço e talento foi capaz de criar um império.
É bom ou mau para a democracia essa busca por políticos fora da política, sejam de esquerda, vindos da faculdade, ou liberais, saídos das empresas, capazes de garantir emprego e bem-estar para todos?
Essa é a incógnita e a preocupação de muitos, analisa Juan Arias para El País.
Por honradez política e ética devemos respeitar os eleitores da cidade de São Paulo, a maior do país e da América Latina, pulmão econômico e financeiro do Brasil. E devemos apostar que a nova experiência seja um sucesso.
O que não impede que o fenômeno Doria e seu padrinho, o triunfante Alckmin, possam ser analisados com atenção e até com perplexidade e preocupação. Temos exemplos parecidos na Europa que nos obrigam a refletir. Um dos que mais lembram a história de Doria é a do italiano Silvio Berlusconi, que triunfou sem experiência política em um país totalmente politizado.
O jornal espanhol observa que o país passava por um momento parecido ao que vive o Brasil hoje, cansado dos partidos tradicionais que tinham se corrompido e com uma taxa de desemprego que assustava as famílias. Berlusconi era mestre e senhor de um império da construção criado nos arredores de Milão. Era o Rei Midas do emprego. E se apresentou aos eleitores como alguém capaz de revitalizar a política e devolver a prosperidade ao país.
Os políticos e intelectuais da época desdenharam o candidato empresário e milionário e não acreditaram que ele poderia ser eleito. Estavam errados. Lembro a entrada triunfal de Berlusconi em Palermo, a capital da máfia siciliana. Chegou como uma divindade em helicóptero, recebido por meio milhão de pessoas com as mãos no alto em sinal de vitória. Era o escolhido até pela máfia. Berlusconi, empresário apolítico ganhou a eleição para primeiro-ministro em 1994.
Também teve seu grande padrinho político, o então líder do Partido Socialista Italiano, Betino Craxi, aplaudido na Europa, que abençoou o novo primeiro-ministro de direita. O líder socialista o cobriu de privilégios e protegeu até quando começaram a entrar no túnel da corrupção.
Foi então que começou a operação de Tangentopoli ou Mani Pulite, a Lava Jatoitaliana, que varreu os velhos partidos e mandou para a prisão seus líderes políticos, alguns dos quais cometeram suicídio na prisão ou fugiram do país (começando com Craxi que para escapar da prisão, se refugiou em sua vila na Tunísia, onde morreu, esquecido, em 1999).
A Tangentopoli levou ao poder o Partido Comunista de Enrico Berlinguer, então o eurocomunista mais importante da Europa.
Os herdeiros do austero e honesto Berlinguer, cujo funeral foi acompanhado por dois milhões de pessoas em Roma, terminaram, no entanto, eles também enredados nas redes da corrupção, e os italianos novamente votaram em Berlusconi, cuja triste história até hoje é mais que conhecida.
Doria será como Berlusconi ou, como chegou a afirmar Lula, como um novo Collor?
A história não costuma se repetir e é possível, e desejável, que sua experiência de empresário transformado em político possa ter sucesso e oferecer surpresas. Se for capaz de transformar, como prometeu, a cidade em um piloto de sucesso econômico e eficiência, sua novidade poderia ter consequências positivas na política tão destroçada deste país.
Todo mundo está procurando um substituto para a velha política. A Espanha é um exemplo, com a chegada do novo partido de esquerda Podemos e com novos líderes que começaram a ser vistos, especialmente pelos jovens, como uma nova luz capaz de entusiasmá-los e levar a uma reconciliação com a política.
No entanto, quando chegam ao poder, já começam a ser acusados de cair nos mesmos vícios da velha casta. E a Espanha está há meses sem governo depois de duas eleições consecutivas, precisamente pela intransigência dos novos políticos não políticos.
O Brasil está no meio de uma transformação onde o velho se mistura com as novas experiências, como a de Doria em São Paulo, sem que os eleitores saibam ao certo por que e em quem apostar. Muitas incógnitas estão abertas. O positivo, no entanto, é que hoje é mais difícil ouvir que todos os políticos são iguais e que tanto faz votar por um ou por outro. Desta vez, o não voto é o novo partido que avisa que algo está mudando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário