MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

EUA: mídia blinda Obama e Hillary do fracasso na Líbia


ohCom um novo relatório do Parlamento britânico condenando a decisão do seu próprio país de ajudar a intervir na Líbia, a grande mídia começou a reescrever a história. O revisionismo da mídia visa reparar o legado danificado da política externa de Obama culpando outros países, especialmente França e Inglaterra, pela decisão de intervir na Líbia.
Um artigo da CNN escrito com tal propósito traz a manchete, "a intervenção na Líbia pela Grã-Bretanha levou a um crescimento do ISIS, constata investigação." Angela Dewan escreve, "a intervenção militar da Grã-Bretanha na Líbia foi baseada em" inteligência imprecisa"e "suposições erradas", conforme constatou reportagem divulgada quarta-feira, acusando o ex-primeiro-ministro David Cameron por não desenvolver uma estratégia inteligente para a Líbia. "No entanto, ela acrescenta,"os Estados Unidos se envolveram e desempenharam um papel fundamental. "
O papel da América neste desastre não é apenas de um adendo à interferência pela Grã-Bretanha e França. Como o The New York Times informou  em fevereiro, a "convicção de Hillary Clinton seria fundamental para persuadir Obama a juntar-se aos aliados nos bombardeios das forças do coronel [Muammar] Kadafi." O artigo do Times cita o ex-secretário de Defesa, Robert Gates, que atribuiu a influência de Hillary em convencer Obama a favorecer uma intervenção ali.
Apesar da presença de outras nações da coalizão, Clinton recebeu o crédito pelos primeiros desenvolvimentos na Líbia. Ela anunciou na televisão, "Nós viemos, nós vimos, ele morreu." Seu ajudante, Jake Sullivan, escreveu em um e-mail do Departamento de Estado que Clinton tinha "liderança/propriedade/administração da política deste país para a Líbia, do princípio ao fim."
Uma das decisões que Sullivan observa que Clinton tomou foi assegurar que os russos se absteriam, e que outros países apoiariam a resolução de 1973 da ONU – a resolução que autorizava uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia.
Mas a mídia está trabalhando para garantir que o desastre líbio não afete a campanha presidencial de Hillary Clinton. Artigos sobre o relatório do Parlamento britânico pela Bloomberg, The Wall Street Journal e Newsweek deixam até de mencionar Obama ou Clinton.
"A Comissão de Relações Exteriores conclui que o governo britânico não conseguiu identificar se a ameaça aos civis era exagerada e se os rebeldes representavam uma ameaça islâmica significativa", escreve Ben Norton para o site esquerdista Salon. "O resumo do relatório também observa que a guerra não foi baseada em inteligência precisa", continua Norton. Ironicamente, é o Salon, que, pelo menos em parte, descreve o papel de Obama e Clinton em criar o caos que envolve a Líbia hoje.
"Saif Kadafi discretamente abriu comunicações com os Chefes de Estado Maior Conjuntos, mas a então secretária de Estado, Hillary Clinton, interveio e pediu ao Pentágono para parar de falar com o governo líbio", escreve Norton. "A secretária Clinton não quer negociar de forma alguma",  disse um oficial da inteligência dos EUA a Saif ", continua ele.
Ficou claro agora – e deveria ter ficado claro na época – que  Kadafi não tinha intenção alguma de massacrar civis em Benghazi. Como temos salientado em nossos relatórios de 2014 e 2016 da Citizens’ Commission on Benghazi (Comissão dos Cidadãos sobre Benghazi) [CCB], o contra-almirante Chuck Kubic (reformado) estava trabalhando com militares de Kadafi para intermediar uma trégua. Kadafi já havia, observa Kubic, começado a retirar suas tropas de Benghazi e Misrata. Os Estados Unidos decidiram não prosseguir com as conversações para uma trégua. O Pentágono desde então confirmou (ver a parte superior da página 680 do relatório)  que a proposta por uma trégua ocorreu.
O presidente Obama disse à Fox News que o seu "pior erro" foi "provavelmente a falta de plano para o dia seguinte". Kadafi foi derrubado na Líbia. "O que deu errado?" De acordo com este artigo no The Atlantic ", Obama colocou a responsabilidade sobre o tribalismo enraizado na sociedade líbia, bem como no fracasso de aliados dos americanos na OTAN de assumirem sua responsabilidade."
Mas não era necessário se envolver na Líbia, em primeiro lugar, uma vez que Kadafi tinha-se tornado um aliado na guerra contra o terror e tinha desistido de suas armas de destruição em massa. A intervenção demonstra como a administração Obama mudou de lado na guerra contra o terror.
No entanto, a grande mídia procura exonerar o presidente Obama de suas ações na Líbia. Ao informar sobre os detalhes de um relatório estrangeiro descrevendo os erros cometidos pela liderança do governo britânico, a mídia pode convenientemente inventar a história sobre a inépcia britânica.
Mas e os erros do nosso próprio governo?
Hillary Clinton e Barack Obama não podem fugir de sua participação neste desastre e de assumir a uma parte significativa da responsabilidade pela intervenção fracassada na Líbia, mesmo que a mídia se recuse a atribuir a culpa onde ela realmente exista. Como ex-secretário de Defesa, Leon Panetta escreveu em seu livro, Worthy Fights (Lutas Dignas), "no Afeganistão eu coloquei erroneamente nossa posição sobre o quão rápido nós estaríamos trazendo as tropas para casa, e eu disse o que todos em Washington sabiam, mas não podíamos oficialmente reconhecer: que o nosso objetivo na Líbia era a mudança de regime."
Claramente, a mudança de regime era o objetivo do governo dos Estados Unidos desde muito cedo. E este fracasso levou ao crescimento do ISIS. Como destacamos em nosso relatório CCB 2016, a administração Obama facilitou o fornecimento de armas aos rebeldes ligados à al-Qaeda. Obama também autorizou apoio secreto aos rebeldes sírios. "O Grupo de Apoio Sírio, com as conexões de Obama / Chicago, tornou-se o conduto dos EUA para a ajuda a várias milícias rebeldes sírias. A Turquia se tornou o centro de distribuição ", afirma o relatório CCB. "... Agora parece que, pelo menos, alguns dos destinatários, em vez disso, eram unidades jihadistas que acabariam por se aglutinar no Estado Islâmico no Iraque e no al-Sham (depois ISIS, simplesmente Estado islâmico ou EI)."
Em outras palavras, a decisão do presidente Obama de mudar de lado na guerra contra o terror conduziu diretamente ao armamento de radicais islâmicos na Líbia e na Síria. Isso está longe de ser um erro em não fazer planos para o dia seguinte – mas é uma série de erros por uma administração, e presidente, ignorando deliberadamente as simpatias jihadistas daqueles que o governo está armando.
Os ataques terroristas de Benghazi em 2012 começaram com a aventura ilegítima da administração Obama e de seus aliados da OTAN, que foram empurrados para o objetivo da mudança de regime na Líbia. Depois veio o fracasso em garantir o nosso Composto da Missão Especial e Anexo da CIA em Benghazi, o descumprimento do dever por não virem em auxílio de nosso pessoal quando eles estavam sob o ataque terrorista de 11 e 12 de setembro de 2012, e o consequente acobertamento . Apesar das tentativas da mídia de proteger o presidente Obama da culpa, ele e sua ex-secretária de Estado Hillary Clinton tiveram muito a ver com o caos recente e atual na Líbia.

Roger Aronoff é editor do Accuracy in Media, e membro do Citizens’ Commission on Benghazi.
Tradução: William Uchoa

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