Embora
Merval Pereira não diga, no artigo que reproduzo abaixo, o fato é que o
RJ tem digamos, dois "estados": o paralelo e o oficial. Essa guerra,
aliás, vem de longe:
A
explicação mais plausível para o ataque ao carro da Força Nacional que
resultou no ferimento grave de um dos soldados é também a confirmação da
situação de guerra que estamos vivendo no Rio de Janeiro. Os membros da
Força Nacional, por serem de outros Estados e não conhecerem o Rio,
seguiram a orientação de um aplicativo e entraram por engano na Vila do
João.
Acidentes
como esse já aconteceram em outras ocasiões, sempre com resultados
desastrosos, e só revelam uma coisa: existem territórios na cidade do
Rio de Janeiro em que a lei é ditada pelos traficantes, e onde as
instituições oficiais não entram.
Esse é o
dado mais alarmante da situação. Depois de ações das Forças Armadas de
retomada de territórios, e da implantação do programa de Unidades de
Polícia Pacificadora, as UPPs, cujo objetivo era justamente não deixar
que bandidos dominassem áreas da cidade, estamos diante da explicitação
do fracasso dessa política, que inicialmente foi vitoriosa e parecia ser
uma solução viável para a nossa segurança pública.
De nada
adianta fazer incursões pelas chamadas comunidades para prender os
autores dos disparos contra a Força Nacional, pois o que é preciso
retomar é uma política de segurança que impeça os traficantes e
milicianos de dominarem áreas da cidade.
A tese de
que a venda de drogas não é a prioridade das ações se segurança, mas
sim a liberação de territórios do domínio de gangues, está correta em
tese, mas só se o controle territorial for mantido e a bandidagem for
mantida sob controle, sem exibições de armas nem tentativas de ditar as
regras dos locais em que atuam.
O triste
dessa história é que a cada dia se revela que os bandidos simplesmente
perderam o respeito até mesmo pelas Forças Armadas, e já não têm medo de
atuar numa cidade que está super policiada. Estávamos acostumados a
que, nos grandes eventos, a criminalidade ficasse sob controle, mas não é
o que estamos vendo nessa Olimpíada.
Já antes
mesmo de seu começo, quando as primeiras levas de soldados chegavam na
cidade, bandidos fizeram arrastões no Túnel Rebouças, e temos notícias
esparsas de arrastões acontecendo nas principais vias de acesso à
cidade, mesmo com o policiamento reforçado.
O mais
perigoso é que, com a crise econômica, nós sabemos, e os bandidos
também, que a Polícia não tem dinheiro nem para a gasolina, e que os
policiais não têm equipamentos adequados para sua missão. Essa situação
estimula a ação dos bandidos, reforçando a sensação de impunidade.
Os
pedidos para que as tropas das Forças Armadas permaneçam na cidade até
as eleições municipais de outubro ganham força com os recentes casos, de
que a escolta armada que passará a acompanhar os ônibus que transportam
os jornalistas estrangeiros, alvos de ataques recentes, e os tiroteios
noturnos em diversas comunidades que certamente são ouvidos pelos
estrangeiros, são apenas sinais de que estamos vivendo em uma cidade em
guerra civil, às vezes camuflada, outras declarada.
O pior
sintoma de que estamos nos acostumando com situações que apenas ocorrem
em locais em guerra é a explicação para uma bala perdida ou para um
ataque a um ônibus.
Atacar um
drone que passou por cima da comunidade por não querer ser espionado, é
uma atitude de guerra de quem tem o controle daquela área. Atirar
pedras – se não foram balas – em um ônibus identificado como da Rio2016,
pode ser um protesto por uma desapropriação mal feita, mas é uma
atitude de guerra, assim como queimar ônibus em protestos contra a
inação da autoridade pública.
É preciso
dar uma atenção muito maior do que a dada até agora para que a situação
não fique fora de controle, como parece estar em alguns momentos (O Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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