Lula continua o mesmo, segundo editorial do Estadão. Já rifou seu poste, Dilma, e tenta reerguer seu maldito partido:
Lula,
pragmático como sempre, já entregou os pontos em relação ao impeachment
da pupila da qual é o criador arrependido. Considera “remota” a
possibilidade de o afastamento definitivo de Dilma Rousseff não ser
aprovado pelo Senado, segundo afirmou a senadores e deputados com os
quais se reuniu na quarta-feira à noite em Brasília. Para o
ex-presidente, o PT precisa se concentrar, daqui para a frente, em dois
objetivos: preparar-se para ser novamente oposição e lutar pela
preservação do legado do partido depois de 13 anos no poder.
Dilma
Rousseff, efetivamente, já era. Pouco importa, portanto, saber se vai ou
não divulgar a tal Carta aos Senadores e aos Brasileiros, na qual
deposita suas últimas esperanças vãs de não perder o mandato de
presidente da República. Tampouco se vai ou não excluir daquele
documento o termo “golpe”, que foi aconselhada a abandonar para não
ferir as suscetibilidades dos senadores que ela espera que revertam
votos a seu favor no julgamento final. Nesse quadro patético, Dilma só
poderá continuar contando com o apoio da brancaleônica tropa de choque
de senadores – e senadoras, é claro – que têm usado e abusado em
proveito próprio de cada segundo de valiosa exposição diante das câmeras
de televisão, como também de seu fiel e eloquente advogado, que
igualmente tem sabido aproveitar a preciosa oportunidade de se redimir,
perante seus companheiros petistas, das acusações de ter sido um
ministro da Justiça “frouxo” no controle da Operação Lava Jato. A Dilma,
portanto, só resta decidir como passar a longa vilegiatura que terá à
sua frente.
Já Lula
da Silva parece disposto a seguir em frente, administrando como puder
aqueles dois desafios impostos a seus seguidores. Um deles, o de voltar a
fazer oposição, é mais fácil, porque corresponde à verdadeira vocação
do lulopetismo. Manter vivo o legado do PT é um pouco mais complicado,
até porque implica, para começar, chegar a um acordo sobre o que vale a
pena trombetear como resultado positivo dos governos Lula e Dilma.
Os
petistas jamais se preocuparam em ofender a inteligência e o
discernimento dos eleitores. Essa é uma característica comum ao
populismo, qualquer que seja. Por isso, não será problema, tanto para
fazer oposição quanto para polir a imagem de 13 anos de poder, usar os
velhos recursos de apregoar feitos extraordinários, não necessariamente
verdadeiros, e de transferir para terceiros a responsabilidade pelo que
não deu certo. E também, obviamente, prometer o que não têm intenção de,
ou capacidade para, cumprir.
Um
governo se julga pelos resultados concretos que apresenta, não por suas
maravilhosas intenções. Diante do verdadeiro legado do lulopetismo com o
qual o País terá que se haver agora – finanças públicas arrombadas,
inflação, recessão, desemprego, corrupção generalizada no governo e em
certos meios empresariais, etc. – não há margem, mesmo com muita boa
vontade, para uma avaliação positiva de resultados. E não é por outra
razão que o impeachment vem aí, apoiado pela existência de crimes de
responsabilidade que representam, em última análise, o modus operandi de
um governo arrogante e incompetente.
É óbvio
que nos últimos 13 anos – descontados todos os exageros do marketing
político – houve conquistas que fizeram o Brasil andar para a frente.
Mas são avanços naturalmente resultantes de uma dinâmica social que, em
boa parte, independe de governos. O que poderia ser um legado do qual se
orgulhar – o resgate de milhões de brasileiros da pobreza e sua
ascensão à classe média – provou-se, em grande parte, demagogia de
efeito efêmero.
O mais
desalentador, contudo, na perspectiva de ação definida por Lula para o
futuro imediato de seu agonizante partido, é a inexistência de pelo
menos um aceno em direção à urgente necessidade de se tentar um
entendimento amplo, suprapartidário, capaz de favorecer o trabalho de
tirar o País do buraco. Lula prefere continuar cultivando o ambiente em
que se sente à vontade: de um lado, “nós”, de outro, “eles”. De novo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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