No Reino Unido do século 19, registros eram vistos como forma de preservar memória de entes queridos.
Na
Era Vitoriana, era comum que famílias tivessem muitos filhos e que
muitos morressem antes dos cinco anos; nesta foto, a criança à esquerda
está morta e foi colocada de pé para o registro (Foto: Domínio Público)
Fotografar parentes e amigos depois de mortos pode parecer algo mórbido
nos dias de hoje. Mas na Era Vitoriana britânica (1837-1901), fazer
imagens dos falecidos - e até mesmo juntar-se a eles no registro - era
uma maneira de homenageá-los e de tentar arrefecer a dor da perda.Em fotos que são ao mesmo tempo duras e perturbadoras, famílias posam com seus mortos, crianças parecem estar apenas adormecidas e jovens aparecem reclinadas. A morte lhes tomava a vida, mas também aumentava sua beleza - em meados do século 19, a palidez e a magreza causadas pela tuberculose eram vistas como atrativos em mulheres.
A
captação fotográfica de exposição longa fazia com que os mortos
parecessem mais nítidos que os vivos exatamente por causa da ausência de
movimento; à direita, um "memento mori" (Foto: Domínio Público)
A vida vitoriana estava cercada pela morte. Epidemias de difteria, tifo e cólera assolavam a Inglaterra,
e o luto permanente assumido pela rainha Vitória em 1861 após a morte
do marido, o príncipe Albert, fizeram das comiserações algo em voga.Suvenires
No entanto suvenires do tipo memento mori (do latim "lembre-se que você vai morrer") tinham várias formas e já existiam em tempos pré-vitorianos.
A captação fotográfica de exposição longa fazia com que os mortos parecessem mais nítidos que os vivos exatamente por causa da ausência de movimento; à direita, um "memento mori"
Mechas de cabelo dos mortos eram usadas em joias e máscaras mortuárias eram criadas em cera, por exemplo.
Mas, com a fotografia se tornando cada vez mais popular e acessível, um novo tipo dessas "lembrancinhas" surgiu em meados do século 19.
Barateamento
O daguerreótipo, primeiro processo fotográfico a ser anunciado e comercializado ao grande público, era um luxo caro, mas nem de longe com preço tão salgado quanto o de ter o retrato pintado - até então, a única maneira de preservar permanentemente a imagem de alguém.
Mortos eram simplesmente colocados em frente à câmera como se ainda estivessem vivos. E frequentemente bem vestidos, para que parecessem bem em seu último "momento social".
Mas, na medida em que cresceu o número de fotógrafos, o custo dos daguerreótipos caiu. E, na década de 1850, surgiram procedimentos ainda menos custosos, como o uso de vidro e papel para as impressões em vez de placas de metal.
O bebê gêmeo à direita está morto (Foto: Domínio Público)
Assim, os "retratos da morte" se tornaram incrivelmente populares. Para
muitas famílias, era a primeira chance de tirar uma foto conjunta, e ao
mesmo tempo a última de ter uma lembrança de um ente querido.Dois fatores, porém, logo iriam condenar a prática à extinção.
Primeiro, a qualidade dos serviços de saúde britânicos melhorou e aumentou a expectativa de vida da população, em especial a infantil. E o surgimento da fotografia instantânea permitiu que pessoas tirassem fotos uma das outras em vida, o que basicamente derrubou a demanda pelos "retratos da morte".
Hoje, eles são apenas um lembrete de nossa mortalidade.
Os
olhos do menino foram pintados sobre a foto, enquanto a menina foi
colocada de forma a posar com seus brinquedos (Foto: Domínio Público)
Pais também posavam com os filhos mortos (Foto: Domínio Público)
Nenhum comentário:
Postar um comentário