O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixou com amigos, nos
últimos dias, da ausência de manifestação mais contundente da presidente
Dilma Rousseff em sua defesa desde o recrudescimento do bombardeio
contra ele. Na avaliação de Lula, o Ministério da Justiça deveria coibir
"abusos" da Polícia Federal para devassar sua vida nas investigações.
Em reunião com dirigentes do PT, deputados e advogados, anteontem, Lula
argumentou que, diante do desgaste sofrido, é preciso uma nova
estratégia de comunicação. A ideia do PT para estancar a crise é montar
uma rede de apoio ao ex-presidente, na linha "somos todos Lula" -
incluindo políticos de outros partidos e representantes de movimentos
sociais -, com ações de rua e de mídia. Dilma confirmou presença na
comemoração dos 36 anos do PT, marcada para os dias 26 e 27, no Rio,
quando a cúpula do partido fará um desagravo a Lula. No ato, os petistas
baterão na tecla de que há uma "caçada política" contra o ex-presidente
para interditar o PT, inviabilizar o governo e derrotar a esquerda nas
eleições de 2018. Lula sempre foi o "plano A" do PT para a sucessão de
Dilma, mas agora tudo depende dos desdobramentos das investigações. O
Palácio do Planalto foi informado da insatisfação do ex-presidente no
último dia 28, um dia depois de Dilma ter voltado de viagem a Quito. Na
ocasião, ao ser questionada se a Operação Lava Jato se aproximava de
Lula, Dilma criticou as "insinuações" contra ele e disse achar
"extremamente incorreto" esse tipo de vazamento, mas não quis se alongar
no assunto. Embora o ex-presidente esperasse mais solidariedade da
sucessora, um integrante do Instituto Lula tentou pôr panos quentes.
"Como é que a Dilma vai defender o Lula se ela própria não consegue se
defender?", perguntou ele, sob a condição de anonimato, em referência ao
cerco contra o Planalto. Lula é alvo da Operação Zelotes, que investiga
um esquema suspeito de "compra" de medidas provisórias em seu governo. O
Ministério Público de São Paulo, por sua vez, apura a suspeita de
ocultação de patrimônio relacionada à compra de um tríplex no edifício
Solaris, no Guarujá, no litoral paulista. Lula admite ter visitado o
condomínio com o então presidente da empreiteira OAS, Léo Pinheiro,
condenado à prisão, mas nega ser proprietário do apartamento. A Lava
Jato também vasculha benfeitorias executadas por empresas envolvidas no
escândalo da Petrobras em um sítio frequentado por Lula e sua família,
em Atibaia, no interior de São Paulo. O ex-presidente afirma que usa o
sítio para descansar, mas não é dono da propriedade. No Planalto,
auxiliares de Dilma comparam as investigações da Polícia Federal à CPI
dos Bingos, batizada de "Fim do mundo" pelo ex-presidente por abrir
várias frentes contra o governo e o PT, em 2005 e 2006. Ministros do
núcleo político dizem não ter dúvidas de que a oposição quer "esquentar"
o processo de impeachment contra Dilma, jogando agora os holofotes
sobre Lula. (Estado de Minas)
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