No espaço que ocupa em O Globo e na Folha de São Paulo, as quartas-feiras e domingos, na edição de ontem de ambos os jornais, Elio Gaspari apresentou o resultado de uma pesquisa feita pelos professores Joaquim Falcão, Alexandre de Moraes e Ivar Hartmann para a Fundação Getúlio Vargas mostrando que são mínimas as decisões do Supremo Tribunal Federal que revisaram as decisões da Justiça Federal de Curitiba, dirigida pelo juiz Sérgio Moro, as quais tiveram origem em denúncias do Ministério Público, baseadas em investigações da Polícia Federal.
Com a colocação, Gaspari, um dos mais importantes jornalistas do país, na verdade lançou um jato de água fria na esperança que acusados de corrupção ainda tinham de terem suas prisões preventivas revogadas pela Corte Suprema. Essa esperança tinha sido alimentada e explicitada através do manifesto dos advogados, articulado por Nabor Bulhões, que defende Marcelo Odebrecht. O próprio Gaspari, em artigo do domingo 24, havia comentado o assunto, destacando pontos de controvérsias, que, para ele e para Nabor Bulhões, acentuavam erro de interpretação de Sérgio Moro.
MANIFESTO INOPORTUNO
A reação foi proporcional ao conteúdo do manifesto por parte da Procuradoria Geral da República e pelos Procuradores do Ministério Público. Verificava-se assim a inoportunidade política do documento, que, em vez de aliviar as pressões legais sobre os réus, ainda as tornou mais fortes. Tenho a impressão que, ao examinar bem o quadro nacional, Gaspari mudou de opinião, como seu texto de ontem reflete. Nada contra alguém mudar de ideia, ou de pensamento, interpretação, afinal de contas, depois da decisão do STF motivada na campanha de Ruy Castro contra a censura prévia, nenhuma exposição de ideia pode ser censurada ou interditada. Todos são livres para opinar.
Tanto assim que também na própria Folha de ontem Jânio de Freitas sustentou que a Andrade Gutierrez, uma das grandes empreiteiras do país, realizou obras no sítio de João Figueiredo em Nogueira, e no sítio comprado por Fernando Henrique Cardoso na cidade de Goiás de MInas. Portanto, não é novidade o envolvimento de empresas que mantém contratos com o governo de realizarem favores a presidentes da República. Jânio de Freitas destacou o que ele percebeu como uma sociedade entre o ex-presidente FHC e o então ministro das comunicações de seu governo, Sérgio Mota. Isso, entretanto, a meu ver não reduz a responsabilidade que o Ministério Público Federal está levantando a respeito do ex-presidente Lula pelas obras no sítio de Atibaia, em São Paulo. Na realidade este seria mais um caso de vínculos pouco transparentes entre empresários e políticos. Mas esta é outra questão.
SÓ ESPERANÇAS
Retornando ao artigo de ontem de Gaspari, tem lógica deduzir-se que se o MPF está arguindo acusações contra o ex-presidente Lula, e elas chegaram à intensidade refletida na imprensa, não é cabível, como o colunista afirmou, que réus da Lava-Jato, entre eles Marcelo Odebrecht possam esperar ter êxito no roteiro que poderá levar seus processos ao Supremo Tribunal Federal. De qualquer forma, devemos admitir que o direito à esperança é legítimo para todos os seres humanos. Mesmo com base em argumentos marcados pela fragilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário