MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Estiagem atinge mais de 5 mil famílias em quatro municípios no Amazonas


Mais de 27 mil sofrem com desabastecimento de alimentos e água.
Governo encaminhou ajuda humanitária aos municípios.

Ive RyloDo G1 AM
Defesa Civil constatou impactos da estiagem no interior do Amazonas (Foto: Divulgação/Defesa Civil )Defesa Civil constatou impactos da estiagem no interior do Amazonas (Foto: Divulgação/Defesa Civil )
Mais de 5 mil famílias foram atingidas pela estiagem atípica em quatro municípios amazonenses localizados na calha do rio Negro. Nas atuais condições adversas de navegabilidade, alimentos, medicamentos e combustíveis têm chegado dificuldade aos moradores dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos. Já em Presidente Figueiredo, a preocupação maior é com o fornecimento de água potável para a população.

Diante desta situação, o governo anunciou na manhã desta terça-feira (23) o repasse de R$ 1,2 milhão, sendo R$ 300 mil para cada um dos municípios, além de enviar 200 toneladas de alimentos. A verba deve ser investida com a compra de combustíveis, aluguel de embarcações e carros-pipa.  O primeiro município a receber a ajuda humanitária será de Presidente Figueiredo, a 117 km de Manaus.

De acordo com dados levantados pela Defesa Civil do Estado, são 5.478 famílias atingidas, o que corresponde a aproximadamente 27.390 pessoas, nos quatro municípios que tiveram a situação de emergência decretada no dia 11 de fevereiro.

Comunidades ribeirinhas do município de São Gabriel da Cachoeira, a 853 km da capital já sofrem com o isolamento. De acordo com informações repassadas pelo representante do município, Diego Sales, 400 comunidades foram atingidas diretamente, o que equivale a cerca de 50 mil pessoas. “O município além de ser distante, não tem acesso por estrada, somente por navegação ou aéreo. Desde 1992 não tínhamos uma seca tão grande”, afirmou Sales.

Ao menos 700 famílias estão acampadas no Porto Queiroz Galvão, na sede do município, sem poder voltar para a casa por conta da seca dos mananciais. “Os barracões de apoio estão todos lotados. Aproximadamente 700 famílias estão dormindo no Porto, em canoas ou barracas improvisadas. Eles não têm como retornar para as comunidades. Muita gente vem à sede comprar alimento e tenta voltar, mas com o rio seco, não consegue e consome o alimento ali mesmo. Também não tem como trazer as produções da roça para vender na cidade”, informou.

Com os rios secos, os alimentos que antes chegavam em grandes embarcações, estão sendo transportadas de avião, o que encarece os produtos. “Não tem como as balsas com alimentação e barcos chegarem ao município porque não tem mais água para navegar. O expresso que levava 24h, está tirando na faixa de 3 dias. Os alimentos subiram de preço por conta da logística. O quilo do tomate chegou a R$ 28, por exemplo”, disse.
El Niño afeta o nível dos rios no interior do Amazonas; canoas ficaram encalhadas em leito de rio seco (Foto: Divulgação/Defesa Civil)El Niño afeta o nível dos rios no interior do Amazonas; canoas ficaram encalhadas em leito de rio seco (Foto: Divulgação/Defesa Civil)
Presidente Figueiredo
Já em Presidente Figueiredo, a preocupação maior é com a distribuição de água potável às comunidades ribeirinhas. De acordo com o prefeito, Neilson Cavalcante, sofrem com o desabastecimento aproximadamente 12 mil moradores de 12 comunidades, localizadas ao longo da rodovia federal BR 174, a caminho do Estado de Roraima.

“Estamos cavando poços e abrindo acessos com tratores para facilitar acesso à cidade e para que a população possa sair do isolamento e buscar água. Estamos levando o caminhão pipa até a beira do ramal. Lá, colocamos a água em tambores e levamos em picapes para atender”, explicou.
Tabém foram eviados 5 mil litros de água potável para os locais desabastecidos (Foto: Ive Rylo / G1 AM)Também foram enviados 5 mil litros de água potável
para os locais desabastecidos
(Foto: Ive Rylo / G1 AM)
O consumo de água imprópria já tem refletido no aumento de pessoas que procuraram os postos de saúde com alguma enfermidade.  “Ontem a secretária de saúde já nos informou que aumentou muito o índice de pessoas da área rural com dores no abdômen. Isto já pode ser proveniente de consumo de água inadequada”, afirmou o prefeito.

Com a estiagem, os dois principais setores da  economia do município também foram afetadas. A produção rural de hortaliças, macaxeira e frutas reduziu mais que a metade. “Em media por semana, eu trazia 12 caminhões de produção da agricultura familiar de Figueiredo para Manaus. Agora eu trago três ou quatro no máximo”, informou.

Além disso, a quantidade de turistas que visitavam as cachoeiras reduziu sensivelmente. “As pessoas procuram Figueiredo para tomar banho nas cachoeiras. A corredeira do Urubuí está um filete de água. A Cachoeira de Iracema do mesmo jeito, só está a queda e a pedra. Mas sabemos que isso vai passar”, analisou.

Santa Isabel do Rio Negro
Em Santa Isabel do Rio Negro, a 630 km de Manaus, além da estiagem, a população tem sofrido com a fumaça proveniente dos focos de incêndio. “É cultura da região as pessoas queimarem o lixo. Mas, as queimadas maiores são em Barcelos e a fumaça invade o Santa Isabel e dificulta muito a navegação”, afirmou o representante João Raimundo Guimarães.

Ele explicou que o problema já atinge a sede do município e as 60 comunidades. “Tirando esta, em 2005 tivemos uma grande seca. Este ano está pior devido às queimadas”, disse.

Sem condições de navegar, as grandes embarcações e balsas que abasteciam o município com alimentos foram aposentadas. Agora todos os mantimentos chegam em pequenas voadeiras. “Tudo tem chegado em pequena quantidade e está sendo difícil. A mercadoria já encareceu 30%. O transporte está mais caro. Agora não cobram somente a passagem, mas o excesso de bagagem. Limitaram a 20 kg por bagagem”, afirmou.
Ajuda humanitária
Serão encaminhados 200 toneladas de alimentos não perecíveis aos quatro municípios (Foto: Ive Rylo / G1 AM)Serão encaminhadas 200 toneladas de alimentos
não perecíveis aos quatro municípios
(Foto: Ive Rylo / G1 AM)
Além do R$ 1,2 milhão, também será repassado 200 toneladas de alimentos não perecíveis, 15 mil kits de dormitórios que incluem redes, colchões e mosqueteiros, 5 mil kits de higiene, 5 mil litros de água potável, 10 mil frascos de hipoclorito de sódio, 100 caixas d´água e 150 unidades de moto bombas com mangueiras de 100 metros.

“O Rio Negro é uma das regiões mais pobres do estado e de difícil acesso. Com esta estiagem estamos entrando para socorrer com ajuda humanitária e convênio de R$ 300 mil com cada município, para que possam fazer a mobilização de entrega dos kits de ajuda humanitária“, disse o governador do Estado, José Melo.

O secretário executivo da Defesa Civil, Coronel Fernando Júnior, Coronel Fernando Pires Junior, explicou que o órgão iniciou, antes do feriado de Carnaval, o levantamento do número de famílias afetadas. “Em Presidente Figueiredo, a nossa preocupação é com relação à água potável. Estamos demandando 3 mil litros. Para os três municípios acima do rio Negro é o reabastecimento tanto de combustível como de gênero, por isso a ajuda do estado”, disse.

Alteração no clima
Ainda de acordo com a Defesa Civil, s quantidade de chuva abaixo da média no Alto Solimões - motivada pela ação do El Niño, em pleno “inverno amazônico” - refletiu sobre o Rio Negro.

“A estiagem é resultado do clima atípico que assola não somente a região amazônica, mas todo o Brasil. No Amazonas pela sua extensão temos um momento atípico do clima. A região Norte do Estado é assolado pela estiagem. No Sul, a quantidade de água está vindo em níveis considerados e trazendo aumento do volume da calha do rio Juruá. Em outra mediação, a calha do Solimões também passar por atipicidade, com pouca água, mas em situação ainda de observação”, explicou o  secretário executivo da Defesa Civil, Coronel Fernando Júnior, Coronel Fernando Pires Junior.

De acordo com estudos, a redução na quantidade de chuvas deve se estender até o final de abril. “Após abril, volta a normalidade das chuvas na região, porém relatos dos especialistas apontam que a quantidade de água e chuva vai ser abaixo do esperado”, analisou.

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