Pesquisadora americana explica como descobertas da neurociência podem ajudar aprendizado na escola
Quem já passou anos em cursos de língua estrangeira durante a adolescência ou já na fase adulta sem progredir da maneira esperada pode ter desconfiado que o problema parecia não ser algo pessoal. E de fato não é. Patricia Kuhl, diretora do Instituto do Cérebro e de Ciências do Aprendizado da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, demonstrou em sua palestra no Simpósio Internacional em Ciência para Educação, que é na infância, mais precisamente até sete anos, que o cérebro vive um período mágico para aprendizado de uma segunda língua.No evento realizado no Rio de Janeiro, em 5 e 6 de julho, a pesquisadora americana mostrou que, sobretudo nos primeiros seis meses de vida, somos cidadãos universais do mundo e capazes de distinguir sons de todas as línguas. Entre 8 e 10 meses, o foco muda para língua dos nossos pais. “Tudo isso acontece no cérebro antes que a criança possa nos dizer alguma coisa”, explica. A partir dos sete anos e ao longo da vida adulta ocorre uma desaceleração na curva de habilidade para aprendizado, o que, segundo a especialista, já pode servir para o direcionamento de políticas públicas de educação.
Para Patricia, descobertas como essa deixam claro como países como os EUA (e o Brasil) erram, por exemplo, ao deixar o ensino de uma segunda língua somente para o ensino médio, quando alunos já têm entre 15 e 18 anos e já não conseguem ouvir todas as nuances fonéticas. Como consequência, a primeira língua aparece como uma barreira.
“A neurociência mostra que nós não precisamos investir tanto dinheiro em aulas de segunda língua para essas idades e podemos antecipá-las para a pré-escola, quando as crianças são como esponjas e estão absorvendo as informações de maneira totalmente natural”, explica.
Outra vantagem por mudar o foco para os primeiros anos da vida escolar é o fato de que, no ensino médio, professores se preocupam mais com verbos do que com a interação social. Isso, segundo Patricia, não tem funcionado. “O que os EUA precisam fazer é mudar o ensino de segunda língua para um ambiente mais divertido onde as crianças mais livres para aprender”, argumenta.
Entretanto, ela divide a importância da escola com os estímulos recebidos dentro do ambiente familiar. Patricia explica que toda criança vem ao mundo com uma curiosidade inata e pronta para aprender, mas se os pais não entenderem isso, os filhos podem ficar distantes das oportunidades. “Não se trata de brinquedos caros, videogames, computadores e iPhones. São os pais. Sua fala, atitude socioemocional, toque, calor e amor. É disso que se trata”.
E na vida adulta?
Apesar de concentrar sua fala na maior facilidade para aprendizado durante a infância, Patricia ressalta que é possível aprender ao longo de toda a vida. Ela cita um estudo feito com jovens que estudaram uma segunda língua entre os 10 e os 25 anos e que passaram longos períodos nos EUA.
A análise de questionários que incluía perguntas sobre passatempos e também contato com o inglês e dos exames de imagens mostrou um cérebro diferente daqueles de pessoas monolíngues. A imersão cultural, ainda que tardia, traz benefícios ao cérebro, que continua a mudar, se adaptar e melhorar as conexões que são necessárias para aprender a nova língua.
“Quanto mais tempo eles moraram nos EUA, mais vemos mudanças nas fibras difusas. Essa diferenças podem explicar um pouco as funções executivas e por que bilíngues são mais criativos e mais flexíveis cognitivamente”, exemplifica.
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