MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Haitiana improvisa pratos típicos do Haiti para imigrantes em abrigo do AC


Rosana Volmar, de 51 anos, cozinha para os imigrantes no abrigo da capital.
Haitiana foi contratada por um brasileiro para cozinhar no local.

Aline Nascimento Do G1 AC
Rosana cozinha pratos típicos do Haiti para imigrantes em abrigo no Acre (Foto: Aline Nascimento/G1)Rosana prepara pratos típicos do Haiti para imigrantes em abrigo no Acre (Foto: Aline Nascimento/G1)
É em uma pequena cozinha improvisada e com poucos utensílios que a imigrante haitiana Rosana Volmar, de 51 anos, prepara pratos típicos do seu país para os haitianos instalados na Chácara Aliança, em Rio Branco, local que tem servido de abrigo para os imigrantes. No Acre há mais de um mês, Rosana veio para o Brasil também em busca de trabalho e uma nova chance de recomeçar a vida. Enquanto não segue caminho para outro estado, a imigrante foi contratada pelo comerciante Antônio Gadelha, ou 'Zezinho Gadelha', como é conhecido, para cozinhar no abrigo.
Rosana utiliza os mesmos temperos usados pelos brasileiros. Geralmente prepara frango ou carne, no almoço, e serve com arroz, feijão e, às vezes, uma salada. De acordo com ela, a principal diferença entre a comida servida no abrigo e a que ela prepara, é quantidade de sal utilizada.
“Lavo a carne ou o frango com vinagre e bastante limão. Uso muito legume na comida, não uso muito óleo e nem muito sal. A comida servida nas marmitas aqui no abrigo é salgada, pelo menos para o nosso paladar”, justificou.
No dia que recebeu a reportagem do G1, Rosana havia preparado carne com bastante legume, prato conhecido no Haiti, segundo a imigrante, como ‘legumbre’, e uma porção de ‘mollo’, que é arroz misturado com feijão, o tradicional baião de dois dos brasileiros. A porção é servida em uma marmita e custa R$ 10.
“Preparo primeiro o arroz com alho e manteiga. Mexo e coloco o cheiro verde. O feijão também é cozido à parte com caldo de carne e depois misturo com o arroz. Lavo a carne com limão, vinagre e depois coloco dentro da água bem quente. Se chama legumbre porque a carne é cozida com muitos vegetais. Coloco batata, beterraba, berinjela, cenoura, muita verdura e pimenta. Haitiano gosta da comida picante”, revela.
A comida servida nas marmitas aqui no abrigo é salgada, pelo menos para o nosso paladar"
Rosana Volmar
Muita pimenta. Talvez essa seja a maior diferença na comida preparada pela haitiana para a comida dos brasileiros. Ela conta que os imigrantes gostam de comida apimentada e revela que sempre pedem para colocar um pouco mais de molho no prato. Ela revela ainda que apenas haitianos comem da comida, pois os senegaleses não frequentam o “restaurante” da imigrante.
“Eu comi a comida das marmitas. É diferente, o frango parece que vem mal cozido, sem cor e muito salgado. Eles não gostam dessa comida e vêm comprar aqui. Já os senegaleses não aparecem muito por aqui, não se misturam”, destaca.
Rosana conta ainda que prefere cozinhar frango, pois além de ser mais rápido, pode servir apenas com macaxeira ou banana, como os haitianos preferem. Ela diz que os companheiros não comem a mesma comida no período da noite, que preferem um prato chamado de ‘salsa de pollo’, que consiste em frango servido com macaxeira ou banana cozida.
“Eles não comem a comida que comeram no almoço e nem comem arroz durante a noite. Sirvo a salsa de pollo com macaxeira ou banana. Cozinha o franco e separa do molho que sobra. Coloco mais verdura, massa de tomate e muita cebola no molho e sirvo com o frango e com banana cozida ou com macaxeira”, pontuou.
Prato conhecido como legumbre é servido para imigrantes (Foto: Aline Nascimento/G1)Prato conhecido como legumbre é servido para imigrantes (Foto: Aline Nascimento/G1)
Contratação
Os alimentos e o material utilizado para preparar as refeições são fornecidos pelo comerciante Zequinha Gadelha. O comerciante visita o local pelo menos uma vez por dia e, segundo relato da haitiana, leva os mantimentos para as refeições. Rosana diz que conheceu Gadelha depois que ficou sabendo que o comerciante procurava uma imigrante para cozinhar no abrigo.
“Eu encontrei esse senhor que precisava de alguém para cozinhar comida haitiana e que falasse espanhol. Eu vim falar com ele e ele disse que sim. Eu recebo R$ 1.200 por mês para fazer a comida e cuidar das coisas que ele trás”, diz.
Zezinha Gadelha é um velho conhecido dos imigrantes. O comerciante já chegou a montar uma lan house dentro do abrigo, primeiramente em Brasileia e depois em Rio Branco, para facilitar a comunicação dos imigrantes com os parentes no exterior. Ele explica que teve a ideia depois de perceber que os haitianos não gostavam da comida servida no abrigo.
“Percebi que eles não comiam da comida servida e contratei a haitiana para cozinhar para eles. Não compensa muito fazer essas refeições, porque às vezes não vende quase nada e estraga comida. Mas, gosto de ajudar porque nem todos têm o que comer, chegam sem dinheiro e já tem a dificuldade com a comunicação, dos costumes e eu queria amenizar o problema com a comida”, justificou.
Haitiana veio para o Brasil em busca de uma nova chance (Foto: Aline Nascimento/G1)Haitiana veio para o Brasil em busca de uma nova chance (Foto: Aline Nascimento/G1)
Vinda para o Brasil
Rosana faz parte dos 40 mil imigrantes que já cruzaram a fronteira e vieram para o Brasil em busca de uma nova chance, segundo dados levantados pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre (Sejudh). Assim como os demais imigrantes, Rosana também deseja ir para outro estado brasileiro para trabalhar, de preferência, que não seja como cozinheira.
Mãe de três filhos e avó de sete netos, Rosana revela que veio sozinha para o país, que pretende juntar dinheiro para mandar buscar pelo menos o esposo, de 62 anos, que ficou em São Domingos, local onde a família vivia.
“Vim sozinha. Soube que as pessoas estavam vindo para cá atrás de trabalho e, então, vim junto. As coisas estão muito difíceis, não tem trabalho lá em São Domingos. Meus filhos já estão casados, mas meu marido ficou sozinho, vim buscar trabalho e ver se posso trazer ele para cá, para trabalhar”, confessou.
A imigrante confessa ainda que deseja ir para Santa Catarina, trabalhar em alguma fábrica, mas tem algumas dificuldades pois não conhece ninguém no Brasil e ainda quer juntar dinheiro para ir embora. Quero ir para outra cidade, mas agora não posso, não conheço ninguém aqui no Brasil. Tenho que ganhar dinheiro para ir embora", finaliza.

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