Principais atores das negociações veem 'fragilidade' no plano de resgate.
Políticos e entidades duvidam das chances de sucesso do pacote.
O
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, durante cerimônia em Atenas,
Grécia, neste sábado (18) (Foto: Reuters/Alkis Konstantinidis)
O novo plano de resgate da Grécia
ainda não foi concluído, mas já vem sendo criticado por atores-chave do
acordo (Atenas, Berlim e o FMI), que duvidam de suas possibilidades de
êxito.Esse ceticismo imperante, que vai além do círculo de economistas, deve ser dissipado nas negociações sobre as modalidades do plano de ajuda que serão feitas depois do acordo fechado na última segunda-feira (13) em Bruxelas.
Aprovação no Parlamento
A Grécia tinha até esta quarta para votar 4 medidas exigidas pela Europa:
1. Ajustar o imposto ao consumidor e ampliar a base de contribuintes para aumentar a arrecadação do estado;
2. Fazer reformas múltiplas no sistema de aposentadorias e pensões para torná-lo financeiramente viável;
3. Privatizar o setor elétrico, a menos que se encontre medidas alternativas com o mesmo efeito; e
4. Criar leis até que assegurem "cortes de gastos quase automáticos" se o governo não cumprir com suas metas de superávit fiscal.
Ao todo, são 14 exigências. Veja a lista completa aqui.
O novo pacote de ajuda grega, além de não conter qualquer tipo de perdão de dívidas, impõe duras condições a Atenas, com medidas de "aperto" econômico que não apenas o governo grego tinha prometido não adotar, mas que também foram recusadas por 61% dos gregos em um plebiscito realizado há duas semanas.
Grécia não acredita no plano
As maiores reservas procedem, como se espera, de Atenas. O acordo concluído na segunda-feira passada impõe ao país uma nova solução de austeridade e praticamente submete o país a uma tutela econômica.
Logo depois de acordo ter sido assinado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se referiu ao tratado como um texto em que ele mesmo não acredita, apesar de esse acordo ter evitado a saída de país da zona do euro.
"Disse que estava em desacordo com muitos elementos do texto", afirmou na quarta-feira ao parlamento. O ministro grego da Economia, Euclide Tsakalotos, se manifestou na mesma linha diante dos legisladores: "Não sei se tomamos a decisão correta".
O caminho parece longo até que as autoridades "se apropriem" do plano de reformas, como pretende a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.
Alemanha e a tentação do "Grexit"
A
chanceler alemã, Angela Merkel, e o ministreo das Finanças do país,
Wolfgang Schaeuble, durante sessão no Parlamento em Berlim, na
sexta-feira (17) (Foto: REUTERS/Axel Schmidt)
Não é segredo para ninguém: Berlim, o maior credor da Grécia, pisou no
freio antes de assinar o acordo, colocando sobre a a mesa o cenário de
uma "Grexit" em cinco anos.A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o texto na sexta-feira no parlamento alemão, considerando que seria a única alternativa ao "caos", embora suas condições sejam "duras para o povo da Grécia".
Seu ministro da Economia, Wolfgang Schäuble, foi mais longe na quinta-feira, quando mencionou novamente a hipótese de uma "Grexit" temporária. "Não podemos, não queremos, mas talvez seja a melhor solução", declarou.
"Muitos dizem isso, inclusive a própria Grécia", concluiu, levantando dúvidas sobre a pertinência de outro resgate para o país, depois dos de 2010 e 2012
FMI: "dívida insustentável"
Diretora do FMI, Christine Lagarde: 'plano não é viável' (Foto: AFP Photo/Nicholas Kamm)
Vinculado aos planos de ajuda, o FMI ameaçou abandonar os europeus,
caso eles não reduzam a dívida grega, considerada "completamente
insustentável".Questionada sobre a viabilidade do plano sem uma redução da dívida, Christine Lagarde foi direta: "A resposta é bastante categórica: não". Um alto funcionário do FMI que pediu anonimato avalia que o acordo com a Grécia não é "realmente concreto" e deixa muitas dúvidas.
Os especialistas parecem se somar às exigências do FMI sobre a dívida, mas as dúvidas do Fundo não se limitam a essa questão. Segundo o FMI, as metas orçamentárias previstas para a Grécia no acordo assinado na segunda-feira estão praticamente fora de seu alcance.
Supostamente Atenas deveria atingir e manter um excedente primário (fora a dívida) equivalente a 3,5% de seu Produto Interno Bruto.
"Poucos países têm conseguido. A anulação de reformas cruciais do setor público que já está em marcha (...) levanta dúvidas sobre a capacidade da Grécia de conseguir esse objetivo", avaliou o Fundo em relatório publicado na terça-feira.
Outra instituição de Washington que reúne os bancos mais importantes do mundo, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), afirmou que o acordo volta a cometer o mesmo erro de fazer prevalecer o corte orçamentário sobre a reativação da economia grega.
"O programa deveria dar mais atenção às medidas de apoio ao crescimento e não pretender somente atingir um superávit primário a qualquer preço", afirmou a organização.
Primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, observa
posse de novos ministros neste sábado (18)
(Foto: REUTERS/Alkis Konstantinidis)
RESUMO DO CASOposse de novos ministros neste sábado (18)
(Foto: REUTERS/Alkis Konstantinidis)
- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
- Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
- Em 30 de junho, venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro. Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro. No dia 13 de julho, outra dívida com o FMI deixou de ser paga, de € 450 milhões.
- Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
- A Grécia depende de recursos da Europa para manter sua economia funcionando. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu em 30 de junho.
- Em 5 de julho, os gregos foram às urnas para decidir se concordam com as condições europeias para o empréstimo, e decidiram pelo "não".
- Nesta semana, os líderes europeus concordaram em fazer um terceiro programa de resgate para a Grécia, de até € 85 bilhões, mas ainda exigem medidas duras, como aumento de impostos, reformas no sistema previdenciário e mais privatizações.
- O parlamento grego aprovou na quarta-feira (15) o primeiro pacote de reformas para conseguir dinheiro para saldar parte do que deve aos credores. Com isso, o Eurogrupo deu aval prévio ao empréstimo.
- Na sexta-feira, a União Europeia aprovou uma antecipação de € 7,16 bilhões do pacote de ajuda que vem sendo negociado, para que o país não dê "calote" no pagamento de € 3,5 bilhões que tem que fazer na segunda-feira ao Banco Central Europeu (BCE).
- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.
Protesto na Grécia em dia de votação sobre o pacote de ajuda (Foto: Andreas Solaro/AFP)
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