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Gregorio Vivanco Lopes
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Catalina
de Jesús Herrera (1717-1795)
A Justiça é uma
das virtudes mais esquecidas no mundo atual. Que Deus é misericordioso, todos
concordam avidamente, mesmo porque têm razões pessoais para necessitar de
misericórdia. Entretanto, Deus é também justo e pune aqueles que abusam de sua
misericórdia, e isso não se quer reconhecer.
Dois fatores se
acumpliciam contra a aceitação da justiça divina: no campo temporal, a presente
doutrina dos direitos humanos, e no campo espiritual, uma ideia sentimental de
misericórdia.
Pela presente
noção de direitos humanos, fartamente propagandeada, é preciso defender os
direitos dos bandidos, dos adúlteros, dos terroristas, dos blasfemadores, dos
invasores da propriedade alheia e de outras categorias que tais, deixando para
segundo plano a punição de seus crimes. Por detrás dessa mentalidade está a
afirmação, clara ou insinuada, de que não há pessoas más, apenas indivíduos ou
coletividades equivocados, arrastados por circunstâncias invencíveis, e outras
mesmices do gênero. Não cabe tratá-los com justiça.
No campo
espiritual é a mesma ideia com outro invólucro. O pecador é sempre um coitado
que precisa ser compreendido, nunca uma pessoa que ofendeu a Deus e violou seus
Mandamentos. Todos são bons. Pode haver extravios, escorregões, coisas da vida,
nunca maldade. Conclusões estas que levam a uma religiosidade baseada apenas nos
sentimentos, e não na fé e na razão. Como se houvesse oposição entre
misericórdia e justiça! A misericórdia sem justiça é sentimentalismo barato que
destrói toda virtude.
Essas reflexões me
vieram à mente lendo a autobiografia de Catalina de Jesús Herrera (1717-1795),
freira da Ordem dominicana no convento de Santa Catarina de Quito (Equador), em
processo de beatificação (cfr. Autobiografía de la Venerable Madre Sor
Catalina de Jesús Herrera, Edit. Santo Domingo, Quito – Ecuador,
1954).
Catalina foi
agraciada com favores celestes insignes, teve visões e revelações, dons
proféticos, chegava a conhecer o interior das almas das pessoas com quem
mantinha contato. Famosa por suas grandes virtudes, foi também muito perseguida
pelo demônio, mas sempre amparada por Nosso Senhor e Nossa Senhora.
Certa feita em que
passava pela provação de sentir-se desamparada por Deus, alguns demônios se
apresentaram como vítimas diante dela, abandonados também eles injustamente por
Deus, procurando assim tentá-la pela via do sentimentalismo. Relata
Catalina:
“Logo aparecia o
demônio com outras tentações: ‘Olha-me, (dizia ele, muito dolorido),
como Deus foi terrível conosco, pois sem nos dar tempo, nos lançou no
Inferno. A mim (disse-me um outro) sem culpa me precipitou com os
demais culpados’.
“Queriam com isso
que eu ficasse com pena deles e julgasse mal a Misericórdia de Deus e a sua
Justiça. Então eu dizia: ‘Senhor, eu te confesso como justo e
misericordioso, e venero teus altos e secretos juízos’” (p.
118).
Catalina se acusa
de ter passado por um período de tibieza, quando ainda bem jovem, antes de
entrar no convento. Nessa ocasião, após ter sido advertida por Jesus uma
primeira vez, Ele lhe aparece novamente:
“Ó Senhor,
apareceste à minha alma como na primeira vez, mas não tão manso como naquela
ocasião. Com o braço ao lado do coração me chamavas, e na mão direita tinhas uma
espada de Justiça. Teu rosto mostrava ao mesmo tempo Justiça e Misericórdia. E
assim me falaste: ‘Alma ingrata, se te negas ao apelo deste braço de
misericórdia, queres que com este outro de minha justiça te lance nos abismos do
inferno? Se assim perseveras, tem por certa tua condenação àqueles
calabouços’.
“E logo me fez ver
com os olhos da alma um caos profundo de confusão, onde habitam as almas que
perdem a Deus” (p. 32).
(*) Gregorio
Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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sexta-feira, 27 de março de 2015
Uma religiosa nos fala através dos séculos
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