Piauiense contou que há 20 anos um tumor apareceu em suas costas.
Procissão é acompanhada por romeiros de todas as regiões do Piauí.
Agricultor Joaquim Gonçalves arrasta cruz de madeira há 19 anos (Foto: Pedro Santiago/G1)
O agricultor Joaquim Gonçalves, de 51 anos, arrasta por 60 km uma cruz
de madeira há 19 anos para pagar uma promessa feita para Bom Jesus dos
Passos. Ele é um dos milhares de fiéis que compareceram à procissão,
realizada nesta sexta-feira (27) em Oeiras, cidade localizada a 290 km de Teresina. Segundo tenente Josué Ferreira, cerca de 25 mil pessoas participaram da festa.O piauiense contou que há duas décadas um tumor apareceu em suas costas, e ainda que os médicos disseram que ele não era do tipo operável. Abalado, Joaquim fez uma promessa pedindo cura e como pagamento, andaria de Dom Expedito Lopes, sua cidade, para Oeiras puxando uma cruz que pesa 40 kg, um percurso de 10 léguas.
Procissão iniciou na Igreja do Rosário com a
imagem de Jesus (Foto: Pedro Santiago/G1)
“O tumor era uma coisa feia, que doía muito. Eu fiz uma promessa para
Bom Jesus dos Passos, que se me curasse, eu arrastaria uma cruz todos os
anos enquanto eu tivesse saúde. Deus é tão bom, que eu não sinto nada
durante a caminhada. Nem meus ombros doem. Quando estou aqui na
procissão, é uma emoção muito grande. Eu sou muito agradecido”, disse
ele.imagem de Jesus (Foto: Pedro Santiago/G1)
“O canto da Maria de Beu convida a todos a olhar para Jesus Cristo penitenciado. Convida a refletir que sofrimento dele também é culpa nossa, que todos nós somos pecadores, mas podemos dar nosso testamento de pé ao pedir perdão e ser fiel”, disse o padre Kleiton.
“Aqui em Oeiras os médicos não descobriram o que meu filho tinha. Eu apeguei com Bom Jesus dos Passos e pedi sua cura, disse que caso ele me concedesse essa benção, enquanto eu vivesse eu caminharia aqui junto com José agradecendo. Fomos para Teresina e lá descobriram que ele tinha intolerância a lactose. Hoje, tirando o leite, meu filho come tudo e é saudável”, disse a romeira com os pés descalços e de roxo, também parte da penitência.
O agricultor Alcides acompanha o pagamento da
promessa do amigo (Foto: Pedro Santiago/G1)
A procissão teve início às 16h55 na Igreja do Rosário, onde a imagem do
filho do Deus cristão carregando uma cruz dá o primeiro passo. No adro
da igreja, milhares esperam pelo início do cortejo que levará a imagem
do Jesus por todos os passos até chegar a Igreja Nossa Senhora da
Vitória.promessa do amigo (Foto: Pedro Santiago/G1)
Procissão de Bom Jesus dos Passos seguiu até a
noite em Oeiras (Foto: Pedro Santiago/G1)
Antes disso, se dá o encontro da imagem de Nossa Senhora das Dores com a
do filho maltratado pela via sacra. “Esse encontro simboliza a dor do
encontro da mãe com o filho machucado. Ali, simboliza todas as mães que
perderam o filho, que perderam um ente. É a maior dor que se pode sentir
e muitas pessoas se emocionam, tomam aquela dor para si”, explicou o
padre Kleiton.noite em Oeiras (Foto: Pedro Santiago/G1)
Durante todo o trajeto da procissão, seu Joaquim Gonçalves segue puxando sua cruz de madeira atrás do Cristo ajoelhado. Ao seu lado, há 15 anos o também agricultor Alcides dos Santos, de 84 anos, acompanha o pagamento de promessa do seu conterrâneo, percorrendo a pé os 60 km que separam Dom Expedito Lopes de Oeiras.
“Eu já tinha amizade dele há muito tempo, somos nascidos e criados juntos. Os pés não sentem nenhum cansaço (pela viagem) que a vida ainda não tenha me dado. Faço isso porque gosto dele”, disse com simplicidade.
Capital da fé
Segundo o historiador Fonseca Neto, a Procissão do Bom Jesus dos Passos é a uma das mais antigas manifestações religiosas do Piauí, já existem referências que apontam que essa tradição possa ter começado no início do século 19. Neto, que também professor da Universidade Federal do Piauí, afirma que a apropriação do evento pela população e a atuação da igreja são fundamentais para explicar a grandiosidade da procissão.
Milhares de fiéis participam da procissão de Bom Jesus dos Passos (Foto: Pedro Santiago/G1)
“Em Oeiras tem muitas marcas do antigo, da colonização portuguesa,
dessa mística cristã em torno do crucificado. Essas marcas ajudam a
criar a força da tradição que vem de tantas e tantas gerações. Aqui, os
passos são identificados pelas famílias que antes eram donas das
capelas. Ou seja, o povo cultiva isso com muito cuidado. Isso ajuda a
realçar a manifestação”, afirmou.Para o professor, mais do que em livros e estudos sobre Oeiras e sua procissão, a história e religiosidade do povo oeirense está na memória coletiva das pessoas. “Toda essa expressividade religiosa é muito claro quando se está aqui, como o povo conduz como valores de identidade e pertencimento do ser oirense. Isso se transmite para outros como eu, que não sou daqui e já acompanho essa via sacra há 17 anos”, finalizou.
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