Cresce aposta em modelos com visual clássico, de até R$ 60 mil.
Colunista explica a tendência mundial e fala sobre os diferentes exemplares.
Roberto Agresti
Especial para o G1
Triumph Bonneville, um dos poucos exemplares 'retrô' de última geração à venda no Brasil (Foto: Divulgação)
O fenômeno “retrô” que ronda o mundo da motocicleta há tempos está mais
forte no mercado internacional. Agora, praticamente todas as marcas têm
modelos do tipo. Uma das mais recentes representantes é a
BMW R Nine T, moto para poucos e abonadíssimos – custa R$ 61.500. Porém, no segmento há modelos mais acessíveis, como a
Triumph Bonneville T100, à venda no Brasil por menos de R$ 30 mil.
O estilo, que vêm aos poucos para o país, foca apenas no essencial:
guidão, tanque, banco, motor bem exposto e um par de rodas. Nada de
carenagens, nada de formas rebuscadas. É a moto em seu conceito
original, que remete a modelos que, no século passado, disseminaram o
gosto pelo veículo de duas rodas.
Elas, no entanto, também entregam aos fãs do estilo o melhor da
tecnologia. No caso da BMW R Nine T, até o nome evoca o passado. "Nine
T" (pronuncia-se “naineti”, como "ninety" ou 90, em inglês) alude aos 90
anos de lançamento da primeira motocicleta da BMW, a R 32.
Mas ela não é uma réplica da máquina pioneira da marca, e sim uma moto
de visual minimalista, com o melhor da tecnologia alemã em termos de
freios, suspensões e motorização. A graça dela é justamente o design
pouco ou nada revelar sobre isso.
BMW R Nine T, lançamento recente do estilo 'vintage' (Foto: Divulgação)
Também a inglesa Triumph Bonneville T100 segue a onda "flashback",
escancarando isso em seu nome, que homenageia conquistas dos modelos da
marca nos anos 1960, na longa planície do Bonneville Salt Flats, o leito
seco do lago salgado no estado norte-americano de Utah. Todos os anos, o
local é palco de tentativas de quebra de recordes de velocidade máxima
de carros e motos.
Na aparência, a T100 pouco se diferencia das Triumph do final dos anos
1950, porém, no lugar do problemático par de carburadores Amal, há agora
um avançado sistema de alimentação por injeção eletrônica e, em vez do
limitado sistema de freios a tambor, freios a disco. Além disso,
substituindo o precário sistema elétrico Lucas (à época jocosamente
apelidado de “príncipe das trevas”), há um luminoso farol e um aparato
de partida elétrica à prova de falha. Ou seja, é uma moto com cara de
antiga, mas com funcionamento impecável.
Triumph Bonnevile T100: a atual e a pioneira, de 1959, à dir. (Foto: Divulgação)
Outra marca que se rende a essa tendência é a italiana Ducati, que nos
últimos dias mostrou a um seleto grupo de jornalistas, do qual o
G1 fez parte, a
reedição de sua clássica Scrambler,
modelo que fez muito sucesso no final dos anos 1960. Devidamente
revisitado, ele seguirá a mais alta tecnologia da marca e será um dos
protagonistas dos Salões de final de ano, em Colônia, na Alemanha, e em
Milão, na Itália, as “passarelas” por onde desfilarão as novidades da
alta moda motociclística para a temporada de 2015.
Ducati Scrambler de 1975 é vista em encontro de motociclistas na Itália (Foto: Rafael Miotto/G1)
Modelos mais acessíveis
Nem só de marcas premium e modelos carregados de passado esportivo é
feito o florescente mercado de motocicletas de estilo “retrô”. As
japonesas Honda, Kawasaki e Yamaha também oferecem a seus clientes
modelos com gosto de revival.
Dois modelos pioneiros desta tendência retrô são as Kawasaki W650 e
W800, reedições das Kawasaki W dos anos 1960, que nada mais eram do que
motocicletas escancaradamente inspiradas nas inglesas daquela época
(Triumph Bonneville e BSA A7). Como se sabe, o sucesso da indústria
motociclística japonesa começou exatamente assim, com a reprodução – com
qualidade construtiva superior – dos modelos da então dominante
indústria europeia de 50 anos atrás.
Kawasaki W800, reedição da Kawasaki dos anos 60 (Foto: Divulgação)
Outra moto que é um bom exemplo do crescente gosto por visuais de
outros tempos é a Honda CB 1100, uma feliz interpretação atual das
primeiras Honda de alta cilindrada, notadamente a CB 750 Four de 1969,
modelo responsável pelo “golpe de misericórdia” que determinou a troca
da liderança europeia pela japonesa na indústria motociclística. Se hoje
o mundo da moto tem como líderes as marcas da terra do sol nascente,
muito se deve à tecnologia da Four, que assombrou o mundo há 45 anos no
Salão de Tóquio.
A Honda CB 1100 é exatamente o que a atual Triumph Boneville, a BMW R
NineT ou a vindoura Ducati Scrambler são: motos com estilo clássico, mas
com performance global que nada deve a modelos mais modernos e de
design contemporâneo.
Honda CB 1100, na qual laços técnicos e estilísticos com a lendária CB 750 Four são bem evidentes (Foto: Divulgação)
Também a Yamaha tem em seu catálogo exemplos de forte característica
“vintage”. O destaque vai para a família SR, surgida no fim dos anos
1970. A mais recente desta estirpe, a SR 400, mescla a simplicidade
clássica dos motores monocilíndricos a elementos de design dos modelos
pioneiros da Yamaha, como a XS-1 650 de 1968.
Os formatos do tanque e do banco, entre outros detalhes da SR 400,
evocam modelos do passado, mas com parte mecânica atual e, é claro,
atendendo às exigentes normas relacionadas a emissões de poluentes. Por
ser uma 400cc, esta Yamaha tem uma vantagem sobre as outras motos
anteriormente citadas: o precinho camarada, pouco mais de 6 mil euros na
Europa (cerca de R$ 18 mil).
Yamaha SR 400 evoca o design de modelos do passado (Foto: Divulgação)
De todas as motos que mencionamos aqui apenas duas estão disponíveis no
mercado brasileiro, a BMW R Nine T e a Triumph Bonneville T100 (e sua
versão esportiva, a
Thruxton).
No entanto, o crescente gosto por motocicletas de visual clássico faz
crer que, em breve, mais modelos do segmento sejam oferecidos, já que
esta é uma irrefutável tendência do mercado mundial.
Roberto Agresti escreve sobre motocicletas há três décadas. Nesta coluna no G1, compartilha dicas sobre pilotagem, segurança e as tendências do universo das duas rodas.
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