MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 23 de novembro de 2013

Morador de rua do DF que encontrou jovem completa 3 meses em clínica


Ele pediu ajuda à família do estudante para se livrar do vício das drogas.
Rapaz desaparecido foi encontrado dormindo em caixa de papelão.

Isabella Formiga Do G1 DF

O ex-morador de rua Adeilson Carvalho, que em agosto deste ano encontrou o estudante desaparecido Felipe Dourado dormindo em uma caixa de papelão, completa três meses de tratamento em uma clínica de reabilitação no Entorno do Distrito Federal neste sábado (23). A internação para se livrar das drogas foi um pedido de Carvalho à família do rapaz, depois que ele recusou uma recompensa em dinheiro por ter encontrado o jovem.
Adeilson Mota de Carvalho, que encontrou o estudante Felipe Dourado de Paiva, que estava desaperecido desde o último dia 9, dormindo em caixa de papelão (Foto: Isabella Formiga/G1)Adeilson Mota de Carvalho, que encontrou o estudante Felipe Dourado de Paiva, que estava desaperecido desde o último dia 9, dormindo em caixa de papelão (Foto: Isabella Formiga/G1)
O estudante, que sofre de transtornos psicológicos e usa remédios psiquiátricos, desapareceu depois de deixar uma universidade na Asa Norte com uma mochila nas costas. Ele foi encontrado por Carvalho duas semanas depois, dormindo em uma caixa de papelão, próximo à antiga Rodoferroviária.
Segundo Carvalho, ele reconheceu o jovem das centenas de panfletos e placas espalhadas pela cidade com a foto do estudante. Ele disse que após um breve contato com Dourado,  imediatamente descartou a droga que guardava no bolso e partiu em busca do posto de polícia mais próximo para avisar sobre o paradeiro do jovem.

Desde então, o ex-morador de rua foi "adotado" pela família do rapaz. Levado por um tio de Dourado para a casa do estudante no mesmo dia em que o jovem retornou para casa, Carvalho não quis aceitar dinheiro e nem uma passagem de volta para o Pará. Ele pediu ajuda da família de Dourado para se recuperar das drogas.

Tratamento
Segundo o diretor e fundador da clínica Salve a Si, onde Carvalho está internado, José Henrique França diz que a recuperação do ex-sem teto está sendo positiva, em grande parte por causa do apoio da família do estudante.
Pátio de reuniões em clínica de reabilitação (Foto: Salve a Si/Reprodução)Pátio de reuniões em clínica de reabilitação
(Foto: Salve a Si/Reprodução)
"Ele está respondendo bem ao tratamento, está bem legal", disse. "A família do Felipe faz um acompanhamento semanal, a mãe do Felipe e o Felipe participam das terapias familiares. Está bem bacana. Ele é considerado um membro da família do Felipe."

Segundo o diretor, Carvalho acorda todos os dias às 6h, toma café da manhã e participa de uma caminhada ecológica com o grupo. Em seguida, faz alongamento e participa de reuniões, onde o grupo lê o livro dos Narcóticos Anônimos. Como a clínica fica em uma fazenda, os pacientes cuidam dos animais, do galinheiro e do chiqueiro. Carvalho, que é marceneiro, trabalha reformando móveis.

"Ele tem a questão mental bem organizada, é proativo e tem a nobreza bem eminente", disse. "O fato dele ter escondido o cachimbo e a pedra e ter ido chamar a polícia [quando encontrou Felipe] demonstra que ele tem coração."
A família do Felipe faz um acompanhamento semanal, a mãe do Felipe e o Felipe participam das terapias familiares. Está bem bacana. Ele é considerado um membro da família do Felipe"
José Henrique França,
diretor da clínica Salve a Si
França disse não acreditar que Carvalho teria buscado ajuda sozinho se não tivesse encontrado o estudante. "Um elemento motivador como família, ou um evento que faça com que a nobreza interior se ressalte, como foi o evento com o Felipe, ajuda", disse. "Às vezes a pessoa precisa de um choque, um elemento externo, para acordar, para pedir ajuda."
Ele diz que apesar da boa recuperação, Carvalho deve ficar entre seis meses e um ano internado. "É uma doença sem cura, ele vai ter que seguir os passos pelo resto da vida. Se ele não seguir, ele vai usar. É certo como a água é transparente. A gente sabe disso."
Família nova
No início do mês, Carvalho foi autorizado pela clínica a passar um fim de semana na casa da família de Dourado para celebrar o Dia de Ação de Graças. Segundo o ex-morador de rua, ele e o jovem se tornaram próximos.
"Eu e o Felipe somos muito amigos. A gente saiu para a rua, fomos para a igreja, jogar bola. Lá tem um salão de jogos e a gente jogou pingue-pongue a tarde inteira, eu, ele, e um primo dele", disse.
Reprodução de foto de Felipe Paiva e a irmã registrada dentro do carro no dia em que o estudante foi encontrado (Foto: Reprodução)Reprodução de foto de Felipe Paiva e a irmã registrada
dentro do carro no dia em que o estudante foi encontrado
(Foto: Reprodução)
Desde que chegou à clínica Salve a Si, o ex-morador de rua disse ter engordado cerca de 20 kg. "Ninguém me reconhece mais", diz. "Fui na igreja do Felipe e ninguém me reconheceu, sentado no banco. As pessoas só souberam porque o pastor da Igreja falou, e eu me levantei."
Há dois meses, a mãe do ex-morador de rua, que não sabia do paradeiro do filho desde que ele deixou o Pará, também ficou hospedada na casa da família de Dourado. Carvalho diz que pensou na mãe no momento em que encontrou o estudante.
"Eu já passei um ano inteiro sem dar notícia. No dia em que liguei para minha mãe, ela não conseguia nem falar. Ela achou que eu estava morto", disse. "Naquele momento que vi o rapaz, lembrei do sofrimento da mãe dele. Eu estava na rua mas tinha coração. Eu não fui criado assim. Eu estava na droga por uma fatalidade."
A mãe do estudante, Marília Dourado, disse que Carvalho se tornou "outra pessoa". "Ele está muito bem, está bem recuperado, com a postura correta", disse.
"Quem colocou ele naquele caminho foi Deus, tenho certeza", disse ela, sobre o momento em que Carvalho encontrou o filho. "Se não, a vida dele estaria outra."
O ex-morador de rua se emociona ao falar da ‘nova família’, e diz que apesar de ter desejo de trabalhar como marceneiro quando sair da clínica, prefere viver cada dia de uma vez.
"A mãe do Felipe falou para eu continuar sendo a pessoa maravilhosa que sou. Uma pessoa que vivia na rua e hoje está na casa dela", diz ele, com a voz embargada. "Há 24 horas eu era um lixo na rua. Hoje sou uma pessoa totalmente diferente. Se você me ver hoje não vai acreditar. A droga mata a pessoa."

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