Charles Burke Elbrick: embaixador americano foi sequestrado no Brasil, em 1969, pela ALN e pelo MR-8, mas o governo brasileiro não fala nada Por Irapuan Costa Junior Aristóteles, criador da Ética, entendida como o ramo da filosofia que estuda a ação humana em seu meio social, inspiraria, 2 mil anos depois de sua morte, um célebre sermão do padre Antonio Vieira em Lisboa, na quinta quarta-feira da quaresma de 1669. Falou Vieira das 11 paixões humanas, classificadas por Aristóteles, e não consideradas más pelo filósofo, desde que exercidas na justa medida. Exacerbadas, e ele cita as duas principais — o amor e o ódio — tornavam (ou tornam) o mundo mal governado. E fala: “Se com amor o que não é, tem de ser; se com ódio o que tem que ser e é bem que seja, não é e nem será jamais”. Os exemplos da acertada fala de Vieira pululam. Um deles, e não é de amor: o episódio da reação presidencial à espionagem norte-americana rende até hoje. Cheguei a admitir de início, pelo despropósito da indignação dilmista, que se tratasse de uma racional atitude eleitoral. Estamos às portas de 2014 com suas eleições, em que a presidente é a maior interessada. E sempre rende simpatia, que se traduz em votos, um confronto com um ser poderoso, forte, e porque não dizer, pouco simpático, como o “império” do norte. Com a vinda de mais fatos à luz, convenço-me de que a coisa está mais para o sermão de Vieira. Da alma bipartida da presidente, está falando a parte passional, não a racional. Sua história toda, e nunca se ouviu dela uma pequena retificação retórica, sempre foi de combate ao capitalismo. E os EUA são o símbolo e a encarnação do odioso regime. O embaixador americano Thomas Shannon, recentemente substituído, foi objeto de hostilidade no que seria uma homenagem de despedida no Itamaraty. Algo que a diplomacia brasileira, por si só, jamais faria. Coisa bem hepática e pequena, ao estilo da presidente, acolitada por Marco Aurélio Garcia. Um episódio de espionagem pura e simples, que fazem todos os países, por si só não poderia gerar tantas, e tão prolongadas reações. Noticiou-se, na sequência da indignação governamental, que o Brasil espionava europeus, orientais e até americanos. O bastante para que o governo se calasse. Ao contrário de se calar, veio com o estapafúrdio argumento de que a espionagem brasileira é virtuosa, benéfica, enquanto a americana é maléfica, viciosa. A típica explicação petista para as malfeitorias do partido e dos “companheiros”, sempre justificadas, enquanto os mesmos pecados nos adversários merecem as mais severas admoestações. O governo insiste: reclama desculpas dos EUA pela espionagem. Esse mesmo governo, em sua maioria, consiste de grupos que, no passado recente, sequestraram, espancaram e mantiveram em cárcere privado um embaixador americano, depois de assassinar um de seus seguranças. Descul¬pou-se alguém do governo, alguma vez, pela injustificável violência? Nunca, embora se desculpe muitas vezes com famílias de terroristas sujos de sangue inocente. O episódio do sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick foi apagado da memória dos que, direta ou indiretamente, dele participaram. Diria Vieira: embora acontecido, nunca aconteceu. Fala agora o jornalista Josias de Souza, em seu blog do UOL: em 2004, em pleno governo Lula, órgãos de imprensa, jornalistas e donos de empresas de comunicação eram espionados pelo governo. Embora tenha ocorrido, e é mau que assim tenha sido, para o governo nunca ocorreu, jamais. Lula (e Dilma, seu alter ego) por isso, não precisam se desculpar. Resumindo, espionagem todo governo faz. Até mesmo o super-indignado (por ter sido espionado) governo petista. |
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
- Dilma exige desculpas por espionagem. Mas o Brasil vai pedir desculpas pelo sequestro de um embaixador?
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