MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 8 de março de 2013

Apesar da qualidade, cacau da Bahia enfrenta importação e preço baixo


Secretário participa de reunião em Brasília para discutir medidas imediatas.
Erro em estatística possibilitou o aumento de importações da África.

Lílian Marques Do G1 BA

cacau bahia (Foto: Reprodução/TV Bahia)Cacau produzido em Ilhéus é considerado de alta
qualidade (Foto: Reprodução/TV Bahia)
Produtores de cacau da Bahia têm reclamado da política de importação do produto para o Brasil. Na última terça-feira (5), alguns deles participaram de uma manifestação no porto de Ilhéus, no sul do estado, e queimaram 20 sacas de cacau. Na ocasião, chegaram cinco mil toneladas da fruta no porto da cidade, importados de Gana, na África.
Nesta sexta-feira (8), o secretário da Agricultura da Bahia (Seagri), Eduardo Salles, participa de uma reunião com o Ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, e representantes de outros estados, para discutir a situação da cacauicultura no país.
Ao G1, o secretário disse que, entre os pontos que serão levados para a discussão, estão as regras de importação do produto no Brasil, a criação do Preço Mínimo para o cacau e a transferência da gestão da estatística da safra do produto para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O produtor de cacau Durval Libânio, que também é presidente do Instituto Cabruca, em Ilhéus, participou da manifestação na terça-feira e considera que a importação de grandes quantidades de cacau para o Brasil tem prejudicado os produtores locais. "A primeira questão que nos afeta hoje é a importação [do cacau]. A produção no Brasil, 2011-2012, deve chegar a 240 toneladas, satisfazendo a necessidade interna, que é de 225 toneladas", disse.
Produtores de cacau queimaram 20 sacas de amêndoas de cacau em manifestação no sul da Bahia (Foto: Reprodução Globo Rural)Produtores de cacau queimaram 20 sacas de
amêndoas de cacau em manifestação no sul da
Bahia. (Foto: Reprodução Globo Rural)
Libânio afirma que o preço do cacau produzido no Brasil está altamente depreciado, por conta da concorrência com o que é importado da África. "Todos os armazéns estão com muito estoque e a indústria continua importando ao invés de enxugar o estoque interno. O arroba [15 kg] do cacau hoje custa entre R$ 58 e R$ 60 e deveria custar R$ 80. Vale registrar que estamos US$ 350 abaixo do preço de mercado. Na verdade, nós estamos com defasagem de US$ 600 a US$ 700. O custo da importação é de R$ 80, não tem lógica isso", completa.
Segundo o secretário da Agricultura da Bahia, uma falha na estatística de safra do cacau do último ano contribuiu para que as importações do produto aumentassem. "Todos os anos a safra brasileira não é suficiente para o processamento. Temos hoje três grandes indústrias e outras pequenas indústrias que são processadoras de cacau. Todos os anos eles precisam importar cacau para suprir a capacidade deles, mas, em 2012, a previsão de safra indicava uma safra menor do que a que houve. As empresas processadoras fizeram contas de quanto importariam em função da estimativa de safra. Como a safra foi maior que a estimativa, eles importaram, fizeram contratos para importar mais do o que realmente seria necessário, em função de uma estimativa de safra errada", afirmou Eduardo Salles.

De acordo com o secretário, o erro na estatística de safra não se deve a nada em específico. Ele explicou que um dos pontos de discussão na reunião com o ministro da Agricultura, em Brasília, é que a Conab assuma a realização da estimativa de safra anual do cacau, como, segundo Salles, já faz com outros produtos, a exemplo dos grãos e do café.
O produtor Durval Libânio reforça que é preciso que a Conab faça essa previsão de safra. "Estamos pressionando o governo para que se crie a previsão de safra [pela Conab] para criar regras claras para a importação. O Brasil é o país que mais cresce no consumo de chocolate no mundo. Estamos em terceiro lugar, só ficamos atrás da Alemanha e dos Estados Unidos. Nosso mercado interno está aquecido. Essa defasagem no preço acaba por impactar ainda mais o caos socioambiental que sofre o sul da Bahia. Inclusive, por substituir a platanção do cacau cabruca, que é feita pelo sistema agroflorestal, por pastagem", disse.
Segundo o secretário Eduardo Salles, a Bahia não passa por uma crise no setor de produção de cacau. No entanto, ele reconhece que há uma defasagem nos preços do produto. "De forma alguma [há crise], estamos em ascensão. Tanto que a safra passada foi maior do que o esperado. O que está em depressão são os preços. Vamos brigar pelo Preço Mínimo (PGPM), do Ministério da Agricultura, para que o cacauicultor consiga, pelo menos, pagar as contas. Do cacau, o que se utiliza é amêndoa, pode até tirar a polpa, mas é igual ao café, não pode comer a fruta", disse, explicando que as reclamações dos produtores estão ligadas à importação da amêndoa.
Eduardo Salles afirmou que as reclamações dos produtores de cacau não envolvem apenas a comercialização da amêndoa do cacau. "São os derivados do cacau, produtos elaborados do cacau, como a manteiga de cacau, por exemplo, que entram no país com uma taxa de importação muito baixa. Podemos trabalhar para garantir a sustentabilidade da indústria do cacau e, consequentemente, dos produtores baianos, aumentando essa taxa. Na reunião com o ministro, vamos colocar todos esses pontos na mesa para discutir", informou.
Salles também comentou sobre a manifestação ocorrida na terça-feira, no porto de Ilhéus. "Eu considero que essa manifestação dos agricultores é legítima, democrática, pacífica. O mercado mundial é aberto e não permite que um país possa proibir importações de qualquer produto. Minha opinião é que podemos fazer com eles [importadores] o que eles fazem conosco, com a carne brasileira, que é uma inspeção sanitária rigorosa. Nosso cacau é de mais alta qualidade. Temos ganhado nos últimos anos os prêmios mundiais de qualidade com produtores de Ilhéus, das amêndoas do cacau em Ilhéus', afirmou.
Cacau cabruca (Foto: Instituto Cabruca/ Divulgação)Cacau cabruca preserva a Mata Atlântica.
(Foto: Instituto Cabruca/ Divulgação)
O produtor de cacau e presidente do Instituto Cabruca, Durval Libânio, afirma que, além de ter um cacau de qualidade melhor do que o africano, o produto concorrente tem características não permitidas na legislação brasileira. "A nossa legislação para importação é que não deveria importar cacau com fumaça, mas o que vem de fora vem assim e o Brasil aceita", disse.

O secretário Eduardo Salles destacou a importância do cultivo do cacau cabruca no sul do estado. Segundo ele, os sistema utilizado para a cultura do cacau cabruca é um dos fatores que contribuem para a preservação da Mata Atlântica na região. Para ele, por esse motivo, o cacau cabruca merece ser comercializado a um preço diferenciado do cultivado no sistema de pastagem. "Vamos lutar também para que o cacau cabruca consiga um preço diferenciado por preservar a Mata Atlântica e fazer o manejo sustentável da mata. Ele é cultivado dentro da mata. Cabruca significa broca, é brocado dentro da mata, faz buraco e planta lá. Para fazer esse cultivo se usa o sistema agroflorestal", concluiu. 

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