Gabriel Ferraz*
A
vida nos traz muito aprendizados especialmente em situações negativas,
que nos deixa mais fortalecidos e resilientes. O problema é como a
pessoa encara esses entraves ao longo de sua existência. Há aprendizados
que ao longo da nossa existência só são valorizados depois que
quebramos a cara, por isso sempre relembro dos conselhos da minha avó.
Com a Dona Linda, aprendi sobre emoções, autoconhecimento e mudanças
gradativas, além de ter recebido também bênçãos herdadas geneticamente
das mulheres da família Ferraz.
O gerenciamento emocional e
o autoconhecimento foram decisivos para que eu não adotasse os mesmos
padrões comportamentais que julgava em meu pai, que não cheguei a
conhecer, e hoje influi extremamente na minha vida social e
principalmente profissional. Estudando Neurociências, aprendi que não
existem emoções ruins, o crucial é aceitar e aprender com elas. Como foi
ensinado pelos meus professores, Carla Tieppo e Daniel Goleman, mudar
não é como um macarrão instantâneo que fica pronto em três minutos e dá
trabalho. Podemos também aprender com nossos perrengues pedagógicos.
Como
mudanças estruturais são gradativas, o caminho do autoconhecimento nos
ajuda a expandir formas de pensar e reavaliar nossos modelos mentais,
tornando-nos mais inteligentes sobre nossas escolhas e gerando melhores
resultados. Sempre costumo dizer em minhas palestras, que se nossos
olhos forem bons, nosso mundo pode ser luz, basta que expandamos nossa
maneira de enxergar as coisas.
Quando mudei para São Paulo
e fui morar na Zona Leste, vivi experiências árduas no dia-a-dia, que
desenvolveram minha inteligência emocional, e colaboraram para moldar
meu caráter e buscar meu sustento, enquanto o sucesso não chegava. É
importante oferecermos aos outros aquilo que mais desejamos ter
recebido.
A especialista em Psicologia Positiva, Renata
Guedes, trouxe uma reflexão de progresso para minha vida, que ajudou a
ressignificar minhas crenças e a maneira de enxergar o mundo. Ela me
perguntou uma vez o quanto de mim há naquilo que odeio. A Lei da
Projeção da Psicologia revela que nossos julgamentos refletem nossas
próprias questões não resolvidas. Por isso, o autoconhecimento pode
salvar as nossas vidas.
A ausência do meu pai biológico,
por exemplo, impactou meu relacionamento com o ‘Dia dos Pais’. Percebi
que escondia a falta, adotando um papel paterno entre amigos e levei
anos para aceitar isso. Um livro decisivo nesse processo foi A coragem
de ser imperfeito, de Brené Brown. A obra questiona sobretudo conceitos
enraizados, e aprendi com ela sobre o poder do exemplo e da
vulnerabilidade como força. Agradeço profundamente a indicação dessa
preciosidade a minha namorada, Lorena Marques.
Sobre o
exemplo é oportuno identificar que tipo pessoa você gostaria que seu
filho se tornasse um dia? O valor real é pegar o que deu certo e
contribuir para um impacto edificante quando passar pelos mesmos
desafios que passamos. Nosso grande propósito existencial é também o
progresso para o benefício de outros ao redor.
A
Psicologia Positiva é uma área de conhecimento que tenho debruçado para
tirar conhecimentos e aplicá-los no cotidiano. No livro O jeito Harvard
de ser feliz, é apresentado um estudo, com 1,6 mil alunos, no qual
aparece lições valiosas sobre como devemos tomar cuidado com nossos
excessos. Ser um pai presente dependerá da negociação entre seu
propósito e prazeres, e gratificações momentâneas.
Há
outros vários dilemas e dúvidas que sempre estão batendo na porta de
nossa consciência. Uma coisa importante é identificar certas questões
centrais como: Será que temos clareza sobre o que realmente nos torna
pessoas mais felizes? A ‘esteira hedônica’, termo utilizado por muitos
psicólogos quando estamos em busca do prazer excessivo, alerta, por
exemplo, sobre os custos negligenciados de se deleitar em excesso. O
portador dessa característica é o tipo de pessoa que é ‘inimiga do fim’,
seja na comida, na bebida e nas baladas... É alguém essencialmente que
não consegue desenvolver uma gestão de si.
O professor da
Universidade da Pensilvânia e ex-presidente da Associação Americana de
Psicologia, o psicólogo, Martin Seligman, admitiu que estava cometendo
um erro que muitos pais praticam devido a muitos projetos e excesso de
trabalho. Como ‘Pai da Psicologia Positiva’ teve que encarar um conflito
pessoal ao confrontar sua própria rabugice, um traço característico seu
apontado por sua filha de 14 anos. O grande dilema era que Martin
estava apresentando uma nova abordagem da Psicologia para o mundo, mas
não estava sendo presente em sua própria casa.
O bem-estar
psicológico colabora para o florescimento humano e ajuda a expandir
nossas habilidades e talentos, tornando-nos mais capazes, com autonomia e
conexões intencionais. Na ciência da felicidade, na transformação da
dor e no trabalho com propósito, podemos criar uma forma de pensar
diferente e evitar excessos. Existe um chamado para além do ganho
monetário. A presença dos pais é muito importante para o desenvolvimento
dos seus filhos e ter um tempo de qualidade com as pessoas que você ama
é fundamental.
A Psicologia Positiva nos apresenta formas
de pensarmos além do ganha-pão. Martin Seligman também escreveu no
livro Florescer que “os sociólogos fazem distinção entre trabalho,
carreira e chamado. Você desenvolve um trabalho por dinheiro, e quando
ele deixa de vir, você para de trabalhar. Você desenvolve uma carreira
pelas promoções, e quando as promoções cessam, depois de chegar ao topo,
você desiste ou se torna um cumpridor de horário. Um chamado, ao
contrário, é cumprido por ele mesmo. Você o faria de qualquer jeito,
mesmo sem pagamento ou promoções. Ninguém pode impedir.”
É
preciso entender o que realmente motiva você. Após os meus 30 anos, a
ética, moral e valores tornaram-se pilares fundamentais para mim. Antes
disso, as vivências na rua foram minha escola, mas a filosofia de vida
ganhou um combustível adicional, uma atualização no aplicativo cognitivo
através de livros, cursos, certificações e muito investimento em me
entender mais e melhor.
Talvez, se eu tivesse tido um pai
presente me acompanhando e orientando ao longo da minha vida, muitos
obstáculos e perrengues poderiam ter sido evitados. Contudo, será que se
não tivesse passado pelo que vivenciei, saberia o que sei hoje? Na
verdade, enfrentamos um viés inconsciente que nos impede de mostrar
medo, insegurança ou pedir ajuda. Esse é um problema que muitos homens
enfrentam.
O ato mais corriqueiro para muitos homens é
pedir um copo de cerveja e engolir suas emoções. Já acompanhei diversos
casos de homens, pais que destruíram suas carreiras e famílias devido ao
consumo excessivo de bebidas alcoólicas para extravasar e se evadir.
Ter um mentor ou uma rede de apoio é fundamental para evitar problemas e
estragos maiores como este.
Nossa mente também pode
evoluir com a chamada neuroplasticidade. Também conhecida como
plasticidade neural ou cerebral, é a capacidade de o cérebro se
reorganizar e remodelar as suas conexões neurais. Imagine, então, sua
mente como um ringue onde cada desafio é uma oportunidade de
aprendizado.
A neuroplasticidade é seu treinador pessoal,
permitindo que seu cérebro se adapte, aprenda e se torne mais forte
encarando os desafios e obstáculos. Assim como um lutador se aprimora a
cada luta, você evolui superando seus próprios obstáculos. Na jornada do
autoconhecimento a pessoa pode também contar também com suporte de um
facilitador ou mentor.
Sobre a questão do pai presente, a espiritualidade me ajudou a compreender que existia alguém, desde o ventre de minha mãe, cuidando de mim, ajudando-me a curar angústias e tristezas profundas. O que é preciso ter em mente são reflexões de progresso para sua vida. Saber que suas maiores cicatrizes podem se tornar suas melhores histórias. Que é preciso tomar cuidado quando às vezes, tentamos negligenciar nossas emoções. E não é porque você aprendeu apanhando, que precisa ensinar batendo. Tudo aquilo que te desafia, também te transforma.
*Gabriel Ferraz é consultor e sua missão é ajudar pessoas e empresas a ter maiores e melhores perspectivas por meio da ciência do caráter comportamental e da Psicologia Positiva. Atua também como podcaster, palestrante, escritor, especialista em desenvolvimento humano e já impactou mais de 3 mil carreiras profissionais nos últimos vinte anos, além de conduzir e facilitar grupos e trilhas de liderança. É graduado em Administração, com MBA em Desenvolvimento Humano para Gestores (FGV), pós-graduado em Neurociências e Comportamentos (PUC – RS) e hoje é estudante de Teologia Bíblica do Trabalho pelo instituto ITEPA-SP (2024)
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