A
Agência Nacional de Transportes (ANTT) se manifestou contra a
possibilidade de aumento da tarifa de importação de pneus de 16% para
35%. Durante audiência na Comissão de Viação de Transportes na Câmara
dos Deputados, nesta terça-feira, o superintendente de Serviços de
Transporte Rodoviária da agência, José Aires Amaral Filho, disse que a
medida poderia causar sucateamento do setor.
Esta
é a primeira vez que a agência se manifesta sobre o assunto. “Quando a
gente olha a realidade da categoria, vemos que eles vêm sofrendo com o
aumento dos custos dos insumos. O principal fator da greve em 2018 foi
insumos, o óleo diesel”, disse.
De
acordo com a ANTT, 94% dos 747 mil transportadores registrados no país
possuem até três veículos e não conseguiriam transferir os custos de um
eventual aumento dos preços dos pneus para o frete.
Filho
disse que a preocupação da agência é especialmente com os
transportadores autônomos. “Sabemos que cabe ao Parlamento e ao Governo
decidir, mas todos esses fatores devem ser analisados”, disse.
Everaldo
Bastos, representante da Fetrabens (Federação dos Caminhoneiros
Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo) também lembrou da
última greve da categoria.
Ele
disse que o caminhoneiro só consegue comprar pneus novos porque os
valores estão mais baixos com a concorrência dos importados. “Aumentar o
custo para o caminhoneiro é pedir uma nova greve. Os caminhoneiros
pararam por causa de 20 centavos no óleo diesel e nossos associados já
estão pressionando para não haver aumento dos pneus”, disse.
A
ANIP, associação que representa empresas produtoras de pneus, defende o
aumento da tarifa de importação alegando prejuízos com o aumento das
importações nos últimos anos. Caso isso ocorra, o preço dos pneus de
veículos de transporte e de passeio devem subir entre 20% e 25%.
Um
estudo da Guimarães Consultoria aponta também que haverá impacto na
elevação de gastos de 6% para o setor de transporte rodoviário. O
levantamento mostra que haverá redução de 8% na compra de pneus de
passeio e 3,2% no de cargas, causando riscos na segurança de transporte
no país.
A
Associação Brasileira dos Distribuidores e Importadores de Pneus
(Abidip) falou dos prejuízos potenciais à economia brasileira. “O
aumento do imposto de importação para pneus de passeio e de carga
resultará em impactos econômicos negativos significativos. Pressão
inflacionária, aumento nos custos de transporte e efeitos adversos na
economia como um todo são preocupações legítimas que justificam uma
contestação ao pleito apresentado”, afirmou Ricardo Alípio, diretor da
entidade.
Sindicatos
estaduais também participaram da reunião “Cada centavo sobre o custo do
pneu eleva a taxa de transporte no país inteiro. Onera os caminhoneiros
e todo o país inteiro. O objetivo da indústria é aumentar o preço dos
pneus. Pneu mais barato aumenta a segurança e reduz acidentes”, afirmou
Janderson Maçanero, da Associação de Caminhoneiros de Santa Catarina.
“Ninguém
é contra a indústria, mas um pedido absurdo não pode ser atendido. O
setor tem muitas medidas de proteção, como antidumping e fiscalização,
para resolver o problema de competitividade. O Brasil tem hoje uma das
mais altas alíquotas do mundo. Não faz sentido mais um aumento”,
argumentou Rabih Nasser, advogado de vários importadores não filiados à
Abidip.
Segundo
a Abidip, a fala dos produtores nacionais de que estariam tendo
prejuízos com uma suposta concorrência desleal esconde o verdadeiro
motivo. A entidade afirma que está sendo uma prática recorrente as
multinacionais de pneus presentes no Brasil comprarem matéria prima
(SBR) de departamentos globais de compra.
A
Abidip afirma que a prática consiste em superfaturar os preços de
matéria prima para poder remeter seus lucros para o exterior. De acordo
com a associação, a subsidiária da Goodyear do Brasil está praticamente
obrigada a comprar (SBR) da Goodyear Chemical Inc dos EUA e o lucro da
Goodyear do Brasil é trancado a sete chaves.
Além
disso, nos últimos dois anos lucraram entre USD 140 milhões e USD 150
milhões/ano, sendo possível acessar os números apenas dentro de um
P&L dos EUA. A mesma prática observa-se na Bridgestone onde o lucro
ficou entre USD 110 e USD 120 milhões ano.
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