Peter Sloterdijk propõe um novo olhar sobre as religiões | Ensaio do filósofo alemão, Fazendo o céu falar chama a atenção para a expressão poética de que as religiões se valem |
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Desvios
são os caminhos mais diretos até o centro. A nova obra de Peter
Sloterdijk prova essa tese: situada fora da atualidade, a teologia
trata, à primeira vista, das tentativas depositadas na biblioteca da
humanidade de fazer falar Deus ou os deuses: ou eles falam diretamente
por si mesmos, ou seu fazer e seu pensar são transmitidos indiretamente
pelos poetas. Assim, para Sloterdijk, é inevitável chegar à seguinte
noção: as religiões se reportam, em seus documentos teopoéticos de
fundação, a operações literárias mais ou menos elaboradas, mesmo que a
dogmática que os acompanha sirva para fazer com que esse fato caia no
esquecimento. Religiões são “produtos literários com os quais os autores
tentavam conquistar […] clientes no acirrado mercado da atenção das
pessoas cultas”. |
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Um
estudo dos recursos estilísticos da poesia, dos quais se servem as
religiões em suas narrativas, exige uma nova avaliação das religiões,
que deixa para trás as teses de Karl Marx. Com sua estupenda erudição,
Sloterdijk reúne, portanto, percorrendo a história, elementos de uma
crítica de formas literárias expositivas enquanto crítica de documentos
tanto dogmáticos quanto teológicos — chegando, assim, ao núcleo
incandescente do presente, no qual narrativas ou fatos se entrechocam
com fatos alternativos.
O AUTOR
Peter Sloterdijk
nasceu em Karlsruhe, Alemanha, em 1947. Vem renovando substancialmente o
pensamento contemporâneo graças a suas análises iconoclastas sobre a
exaustão dos modelos tradicionais tanto na reflexão filosófica quanto
nos processos políticos. Estudou filosofia, história e germanística em
Munique e Hamburgo, de 1968 a 1974. Suas primeiras áreas de interesse
foram a hermenêutica, a teoria crítica, a fenomenologia e a teoria
estrutural da história em Michel Foucault. Viveu na Índia entre 1979 e
1980 – estada que lhe despertou forte interesse pelas sabedorias do
Oriente e o fez relativizar os cânones ocidentais.
Destacou-se em 1983 com a publicação de Crítica da razão cínica (Estação
Liberdade, 2012), que obteve ampla repercussão, tornando-se o livro de
filosofia mais vendido na Alemanha do pós-guerra. Lecionou em Frankfurt e
Viena, antes de ser nomeado professor de filosofia e estética na Escola
Superior de Artes Aplicadas de Karlsruhe, da qual foi reitor de 2001 a
2015. Entre 2002 e 2012 apresentou, ao lado do também escritor Rüdiger
Safranski, o conceituado e popular programa de TV “O quarteto
filosófico”. No Brasil, Sloterdijk publicou Pós-Deus (Editora Vozes), O zelo de Deus: Sobre a luta dos três monoteísmos (Editora Unesp) e, pela Editora Estação Liberdade, publicou ainda No mesmo barco, Regras para o parque humano, O desprezo das massas, Derrida, um egípcio, Ira e tempo e Esferas I: Bolhas. E no prelo, por esta casa, Esferas II: Globos (trad. Nélio Schneider), Você precisa mudar sua vida: Sobre a antropotécnica (trad. Marco Casanova) e O remorso de Prometeu.
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