MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 5 de novembro de 2023

“Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto”

 



O desafio de reduzir a corrupção no Brasil | Tema de Redação - Temas de redação | coRedação

Charge do Duke (O Tempo)

Mário Sabino
Metrópoles

Os brasileiros não estão nem aí para o problema da corrupção. Mas não é porque você ignora o problema que o problema deixa de existir. Ao contrário, ele tende a aumentar ao ser ignorado, o que é ótimo só para o corrupto, apesar de dizerem que certa dose de corrupção faz bem, é até vitamina para o crescimento econômico, patati patatá.

A Petrobras, por exemplo, foco do maior escândalo de corrupção da história brasileira e quiçá mundial, voltará a ter políticos e sindicalistas em cargas de direção. Reabre-se a avenida para a gatunagem, de onde se concluiu que o único remédio para impedir que a empresa seja o parque de diversões dos corruptos seria privatizar completamente a joça toda — o que não vai acontecer nunca.

COISA CHATA – Com o desmonte da Lava Jato, denunciante corrupção virou coisa de gente messiânica, chata e até golpista. O discurso de que a operação foi ação orquestrada para aniquilar Lula e o PT colou tanto, parabéns aos spin doctor, que passou a ser repetido sem qualquer sombra de vergonha em salas de aula. Militantes disfarçados de professores ensinam essa mentira aos alunos ignaros como se fosse dado histórico indiscutível.

Posso ter perdido algo, mas aqui nas adjacências não vi ninguém dar muita bola para o relatório sobre o Brasil, divulgado pelo Grupo de Trabalho Antissuborno da OCDE, há duas semanas. É uma tomografia dos retrocessos encorajados nas diversas instâncias do poder para desmanchar o que foi feito em prol da transparência e da honestidade no trato da coisa pública.

Entre os retrocessos, o fim da prisão em segunda instância, o desmonte das forças-tarefas e a anulação dos acordos de leniência.

FAKE NEWS – Em outras freguesias, os suspeitos de fantasia destacaram uma referência rápida à politização da Lava Jato, dando a entender que a operação havia sido condenada até o último grau pelos autores do relatório.

Menos rápida, na verdade, é uma referência às retaliações que os procuradores da Lava Jato sofreram no TCU, aquele monumento à independência funcional, por terem ousado combater a corrupção nas altas esferas.

Ao longo do relatório, a verdade documentada com números é que a operação parece responsável por ter elevado o grau de excelência no combate à corrupção dentro e fora do país.

AUTOCENSURA – O Grupo de Trabalho Antissuborno da OCDE também aborda como a autocensura entrou para o cotidiano do jornalismo investigativo brasileiro, em consequência dos ataques bolsonaristas (mas não só dos bolsonaristas, presume-se) e do fim da Lava Jato:

“Embora exista liberdade de imprensa no Brasil (mais em nível nacional do que regional), os repetidos ataques contra a mídia nos últimos anos tiveram um efeito inibidor sobre a profissão”, diz o relatório acrescentando:

“Na opinião (de jornalistas), esses ataques, combinados com a incerteza geral sobre o compromisso do Brasil no combate à corrupção após o desmantelamento das forças-tarefas da Lava Jato, desenvolveram para um aumento do nível de autocensura na profissão.”

DOU MEU EXEMPLO – Eu já disse, sem qualquer originalidade, que a autocensura é a pior forma de censura. Exemplo: estava para comentar o que registra o relatório da OCDE sobre a atuação de um ministro de corte superior, mas, diante da liberdade de imprensa em vigor, decidiu autocensurar-me.

Os brasileiros não estão nem aí para o problema da corrupção. Aquilo que se viu entre 2015 e 2018 foi momento singular do qual não há plural. Compreendo perfeitamente: “um povo prejudicado não pode tolerar um governo que não seja corrupto”.

A máxima é do Marquês de Maricá, aquele pândego. Máxima de um país mínimo (não estou, não, roubando o título do livro de certo jornalista, porque fui eu a sugerir o título a ele). O brasileiro é bom companheiro, ninguém pode negar.

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