Agora temos o negacionismo do bem, com Lula aprovando a ozonioterapia. A crônica de Ruy Goiaba para a Crusoé:
Pois
é: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Pouco mais de sete meses
de governo Lula já demonstraram que há um negacionismo do bem, um
negacionismo fofinho, até zen: algo na linha “amigo, para com essa coisa
de querer ‘comprovação científica’ para tudo, só relaxa e deixa a vida
te levar (vida, leva eu)”. Quem acompanha a economia brasileira já sabia
que os governos do PT costumam ter altos teores de negacionismo
econômico: agora mesmo, Lula 3 está cheio de unicampers que acreditam
que a tal “nova matriz econômica” — aquela que na gestão Dilma Rousseff
afundou o Brasil na sua maior recessão em décadas — foi injustiçada e
tem de ser repetida, porque agora, sim, vai dar certo.
O
chato é que a tendência (em português moderno, trend) não se restringe à
economia: aquele grito de guerra do primeiro parágrafo se transformou
em “viva a ciência, mas veja bem, nem sempre, às vezes é preciso partir
para uma abordagem mais holística, respeitando os saberes ancestrais”
etc. O exemplo mais recente, é claro, foi Sua Lulidade sancionando a lei
que autoriza a ozonioterapia, outro “tratamento” que nos rendeu muitas
risadas durante os anos bolsonaristas, apesar da oposição de
especialistas e entidades médicas. E aqui não resisto ao contrafactual:
acredito que, se tivéssemos tido um governo petista durante a pandemia,
ele faria coisas como rejeitar a oferta da Pfizer — Big Pharma,
multinacional, capitalistona e tal — porque “precisamos valorizar a
produção nacional de vacinas” (e a vacina 100% brazuca sairia seis anos
depois).
“E
não é só isso!”, como diria aquela propaganda da Polishop: agora temos
no cardápio negacionismo ambiental também. Presente à recente Cúpula da
Amazônia, Alexandre Silveira, o ministro de Minas e Energia de Lula,
contestou os estudos do IPCC (o painel climático da ONU) que dizem que,
para o mundo ficar dentro da meta de aquecimento global do Acordo de
Paris — no máximo, 1,5°C até o ano 2100 —, é preciso não haver nenhum
novo projeto de exploração de petróleo. Muito atualizado sobre o tema,
Silveira citou um “estudo da Agência Internacional de Energia”, órgão
que na verdade concorda com as conclusões do IPCC. Sabem como é: quando o
pessoal está louquinho para explorar petróleo na foz do Amazonas, esse
negócio de ciência só serve mesmo para encher o saco.
Só
sei que, nos últimos dias, não me sai da cabeça aquela marchinha do
finado Chacrinha que seria canceladaça hoje, “Maria Sapatão”: quando
penso no verso “o sapatão está na moda, o mundo aplaudiu”, substituo
mentalmente o sapatão por “negacionismo”. Não consigo evitar, é mais
forte do que eu. Talvez porque Lula, no fundo, seja um presidente
chacriniano que não veio para explicar, e sim para confundir; talvez
porque o Bananão continue merecendo o Troféu Abacaxi.
***
A GOIABICE DA SEMANA
Eu
achava que, nesta semana, nada conseguiria bater o jornalista
brasileiro que, na Copa do Mundo feminina, perguntou à goleira sueca
Zecira Musovic, craque do jogo em que sua seleção eliminou os EUA, se
ela “conhecia o Ibrahimovic”, o que está no mesmo (e altíssimo) nível de
idiotice de perguntar à Marta se ela conhece o Neymar. Mas a
genialidade bolsonarista chegou atropelando: descobriu-se que assessores
do ex-presidente deixaram na lixeira, sem apagar definitivamente, 17
mil e-mails que a CPMI do 8 de Janeiro resgatou. Foi numa dessas
mensagens que se descobriu a tentativa de Mauro Cid (foto) de vender por
US$ 60 mil o Rolex recebido por Jair Bolsonaro numa viagem à Arábia
Saudita. O bolsonarismo é isso aí — uma espécie de Michael Phelps da
burrice.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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