MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Negacionismo está na moda, o mundo aplaudiu

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

Agora temos o negacionismo do bem, com Lula aprovando a ozonioterapia. A crônica de Ruy Goiaba para a Crusoé:


Pois é: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Pouco mais de sete meses de governo Lula já demonstraram que há um negacionismo do bem, um negacionismo fofinho, até zen: algo na linha “amigo, para com essa coisa de querer ‘comprovação científica’ para tudo, só relaxa e deixa a vida te levar (vida, leva eu)”. Quem acompanha a economia brasileira já sabia que os governos do PT costumam ter altos teores de negacionismo econômico: agora mesmo, Lula 3 está cheio de unicampers que acreditam que a tal “nova matriz econômica” — aquela que na gestão Dilma Rousseff afundou o Brasil na sua maior recessão em décadas — foi injustiçada e tem de ser repetida, porque agora, sim, vai dar certo.

O chato é que a tendência (em português moderno, trend) não se restringe à economia: aquele grito de guerra do primeiro parágrafo se transformou em “viva a ciência, mas veja bem, nem sempre, às vezes é preciso partir para uma abordagem mais holística, respeitando os saberes ancestrais” etc. O exemplo mais recente, é claro, foi Sua Lulidade sancionando a lei que autoriza a ozonioterapia, outro “tratamento” que nos rendeu muitas risadas durante os anos bolsonaristas, apesar da oposição de especialistas e entidades médicas. E aqui não resisto ao contrafactual: acredito que, se tivéssemos tido um governo petista durante a pandemia, ele faria coisas como rejeitar a oferta da Pfizer — Big Pharma, multinacional, capitalistona e tal — porque “precisamos valorizar a produção nacional de vacinas” (e a vacina 100% brazuca sairia seis anos depois).

“E não é só isso!”, como diria aquela propaganda da Polishop: agora temos no cardápio negacionismo ambiental também. Presente à recente Cúpula da Amazônia, Alexandre Silveira, o ministro de Minas e Energia de Lula, contestou os estudos do IPCC (o painel climático da ONU) que dizem que, para o mundo ficar dentro da meta de aquecimento global do Acordo de Paris — no máximo, 1,5°C até o ano 2100 —, é preciso não haver nenhum novo projeto de exploração de petróleo. Muito atualizado sobre o tema, Silveira citou um “estudo da Agência Internacional de Energia”, órgão que na verdade concorda com as conclusões do IPCC. Sabem como é: quando o pessoal está louquinho para explorar petróleo na foz do Amazonas, esse negócio de ciência só serve mesmo para encher o saco.

Só sei que, nos últimos dias, não me sai da cabeça aquela marchinha do finado Chacrinha que seria canceladaça hoje, “Maria Sapatão”: quando penso no verso “o sapatão está na moda, o mundo aplaudiu”, substituo mentalmente o sapatão por “negacionismo”. Não consigo evitar, é mais forte do que eu. Talvez porque Lula, no fundo, seja um presidente chacriniano que não veio para explicar, e sim para confundir; talvez porque o Bananão continue merecendo o Troféu Abacaxi.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Eu achava que, nesta semana, nada conseguiria bater o jornalista brasileiro que, na Copa do Mundo feminina, perguntou à goleira sueca Zecira Musovic, craque do jogo em que sua seleção eliminou os EUA, se ela “conhecia o Ibrahimovic”, o que está no mesmo (e altíssimo) nível de idiotice de perguntar à Marta se ela conhece o Neymar. Mas a genialidade bolsonarista chegou atropelando: descobriu-se que assessores do ex-presidente deixaram na lixeira, sem apagar definitivamente, 17 mil e-mails que a CPMI do 8 de Janeiro resgatou. Foi numa dessas mensagens que se descobriu a tentativa de Mauro Cid (foto) de vender por US$ 60 mil o Rolex recebido por Jair Bolsonaro numa viagem à Arábia Saudita. O bolsonarismo é isso aí — uma espécie de Michael Phelps da burrice.

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