A tentativa destrambelhada de invadir o sistema da Justiça serviu para aumentar a fervura de Zambelli no círculo íntimo de Bolsonaro. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Carla
Zambelli foi deixada à própria sorte. Seu destino provável é ter o
mandato cassado. Reeleita com mais de 946 mil votos, ela se tornou um
estorvo. Não para a esquerda, mas para o próprio Jair Bolsonaro. O
ex-presidente bem sabe que a cena dantesca da deputada correndo nas ruas
de São Paulo com um revólver em punho no encalço de um homem negro pode
ter-lhe tirado uma montanha de votos em 2022. O fato ocorreu na véspera
do 2º turno da disputa presidencial. Na época, Zambelli não apenas
colocou pessoas em perigo e infringiu a legislação eleitoral, como
também pode ter contribuído para a derrota do candidato que ela
defendia.
É
a partir desse episódio que o distanciamento entre Bolsonaro e Zambelli
começa a tomar forma. Agora ele é escancarado pelo próprio
ex-presidente, que admite não ter mais contato com ela. 'Nunca mais
estive com ela, nem atendi telefonema dela. E ela queria falar comigo um
tempo atrás e não respondi', afirmou a jornalistas depois de se
encontrar com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o
prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes. Questionado sobre a
razão de não falar mais com a deputada, Bolsonaro respondeu que se
'recolheu desde o 2º turno das eleições', que não fala com 'quase
ninguém', tendo voltado 'a pouco tempo a quase normalidade da vida
pública'.
Ao
contrário do que afirma o ex-presidente, sua agenda de compromissos
políticos é intensa desde que voltou dos Estados Unidos. Além de
encontros recorrentes com Tarcísio de Freitas e Valdemar da Costa Neto,
Bolsonaro teve tempo até para participar da filiação no PL de seu
ex-desafeto político, o vereador Fernando Holiday, ex-integrante do
Movimento Brasil Livre. Bolsonaro não se encontra com Zambelli porque
decidiu mantê-la bem longe, tanto de forma profilática quanto para, o
quanto possível, reduzir danos.
No
último dia 2 de agosto, a Polícia Federal bateu na porta de Zambelli.
Os agentes cumpriam mandados de busca e apreensão numa operação que
apura invasões ao sistema do Conselho Nacional de Justiça numa tentativa
de inserir documentos falsos, inclusive um mandado de prisão contra o
ministro Alexandre de Moraes, do STF. A investigação levou à prisão do
hacker Walter Delgatti Neto, conhecido pelo seu envolvimento na Vaza
Jato.
No
depoimento que deu à polícia, Delgatti Neto acusou Zambelli de ter
ordenado a invasão e financiá-la. Aos investigadores, ele disse que 'foi
pago para ficar à disposição da deputada'. Citou os assessores que o
teriam pago, e disse que a transferência foi feita via PIX. Também
mencionou o próprio Bolsonaro, revelando que, durante um encontro, o
ex-presidente teria perguntado se 'munido do código fonte, conseguiria
invadir a urna eletrônica'.
A
tentativa destrambelhada de invadir o sistema da Justiça serviu para
aumentar a fervura de Zambelli no círculo íntimo de Bolsonaro. O caso,
afinal, descambou também para afetar o ex-presidente, recentemente
tornado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo a
coluna de Igor Gadelha, no portal Metrópoles, 'ao saber da notícia,
Bolsonaro teria classificado Zambelli como maluca, inconsequente e
tóxica'.
Além
do caso envolvendo o hacker da Vaza Jato, a deputada enfrenta outras 4
investigações no âmbito eleitoral. Isolada dentro do bolsonarismo, é
improvável que seja defendida até mesmo pela integralidade da bancada do
PL, que parece dividida quanto ao seu futuro político. Preservar seu
mandato, afinal, pode significar o prejuízo de ela permanecer em
evidência. O cálculo é que perambulando pelo Congresso, Zambelli possa
representar um risco maior do que correndo armada pela rua."
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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