BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nova pesquisa revela seca extrema que afetou o império Hitita há mais de 3 mil anos. Civilização rivalizava com os egípcios e mantinha relações comerciais com todo o Oriente Médio. Fernando Reinach para o Estadão:
Por aproximadamente 450 anos, entre 1650 e 1200 A.C. (antes de Cristo), o império Hitita dominou a Anatolia (onde hoje é a Turquia). Os Hititas rivalizavam com o império Egípcio e mantinham relações comerciais com todo o Oriente Médio.
Eles possuíam uma escrita baseada em hieróglifos, dominavam a
agricultura e deixaram lindas construções e obras de arte. Por volta de
1200 A.C., o império colapsou repentinamente e a capital, Hatusa, foi
abandonada.
As
razões para o colapso são um mistério, pois não ocorreram grandes
guerras ou uma invasão. Recentemente foi descoberto que o rei ordenou o
desmonte da capital. Ela foi desocupada de maneira ordenada e abandonada
intacta. Os habitantes se dispersaram e o império desapareceu.
A novidade é que agora foi descoberta uma possível razão para o colapso: uma crise climática.
Faz
alguns anos foram descobertos mais de 20 troncos de Juniper (zimbro) a
230 quilômetros da antiga capital Hatusa. Os troncos são muito antigos,
provenientes de árvores que viveram na época do império Hitita. Usando
técnicas de carbono 14 foi possível demonstrar que a parte mais interna
dos troncos mais antigos são de 1497 A.C. e a parte externa do mais
recente de 797 A.C..
Servidor
anda em armazém do Porto de Santos, onde são estocados grãos, como soja
e milho. Estoque mundial só é suficiente para quatro meses, aponta ONU
Essas
árvores viveram e cresceram durante o período áureo do império Hitita e
sobreviveram ao seu desaparecimento. Como todo tronco de árvore, os
troncos de Juniper são compostos por anéis, e cada anel corresponde a um
ciclo de crescimento da árvore. Sabendo a idade exata (com um erro de
três anos) de alguns dos anéis, é possível saber a que ano corresponde
cada anel.
Sabemos
também que a grossura do anel depende de quanto a árvore cresceu a cada
ano. Nessa região um menor crescimento corresponde a um ano mais seco.
Essa medida pode ser calibrada usando troncos recentes. Assim podemos
correlacionar o quanto choveu em um ano com a grossura do anel nesse
ano. Isso permite aos cientistas deduzir o clima de cada ano,
principalmente a quantidade de chuva, no qual as árvores antigas
viveram.
Usando
esses dados, os cientistas estimaram a abundância de chuva, a cada ano
entre 1497 e 797 A.C.. O que eles observaram é que durante todo esse
período, aproximadamente a cada 10 anos, ocorria um ano de seca muito
forte. Essas secas eram suficientemente fortes para que praticamente
toda a produção de grãos fosse perdida.
A
existência dessas secas periódicas aparecem nos escritos dos Hititas e
faziam parte de seu cotidiano. É por esse motivo que as cidades do
império possuem construções dedicadas ao estoque de grãos. Durante todo o
período estudado (600 anos) não ocorreram dois anos seguidos de seca
forte. Mas, entre os anos 1198 e 1196 A.C., ocorreram três anos seguidos
de seca muito forte. Nesses anos as árvores de Júniper praticamente não
conseguiram crescer e os anéis são muito finos.
Esse
período de seca longa coincide exatamente com a data em que os Hititas
desapareceram. Foi quando o rei ordenou que as cidades fossem
desocupadas e abandonadas. Os cientistas acreditam que esse evento
climático muito raro (uma seca de três anos) talvez não seja a única
razão para o desaparecimento de todo o império, mas a falta de alimento
por um período tão longo pode ter influenciado no desaparecimento dessa
civilização.
Os
Hititas dominaram a região, desenvolveram um sistema alimentar robusto,
capaz de absorver as secas ocasionais, e com esse sistema sobreviveram e
prosperaram por 400 anos. Mas o sistema não era robusto o suficiente
para aguentar três anos sem alimentos.
No
mundo atual, nós vivemos uma realidade semelhante. Os estoques de
alimentos existentes no planeta só são suficientes para alimentar a
humanidade por menos de seis meses caso a produção de grãos seja zerada.
Segundo a FAO, a produção e o consumo de grãos em 2022
foi praticamente igual (2.750 milhões toneladas) e o estoque total é de
850 milhões de toneladas. Ou seja, nosso estoque é suficiente para
quatro meses de consumo. É claro que no mundo moderno a produção de
grãos está espalhada por muitos continentes e um colapso total por um
ano é muito difícil de ocorrer. No caso do Hititas, ocorreu somente uma
vez em 400 anos. Nossa tecnologia ainda não tem 200 anos. Essa é mais
uma razão para nos preocuparmos com as mudanças climáticas.
Postado há Yesterday por Orlando Tambosi
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