O desprezo do grupo Just Stop Oil pelas massas não deveria ser uma surpresa. Brendan O'Neill, da Spiked, para a Oeste:
Algo
parecido com uma guerra de classes irrompeu nas ruas de Londres. De um
lado, estão os trabalhadores lutando pelo direito de fazer seu trabalho,
de cuidar de seus afazeres cotidianos sem empecilhos. E do outro lado
estão os refinados arautos da catástrofe ecológica do movimento verde.
Aquelas figuras de classe média que em geral tiveram acesso ao ensino
privado e acreditam que a Revolução Industrial foi a pior coisa que já
aconteceu e que logo seremos consumidos por um apocalipse climático
provocado pelas massas. Mais uma vez, as classes operárias estão se
manifestando contra esses profetas do fim do mundo nascidos em berço
esplêndido, e eu estou com elas.
Just
Stop Oil, uma ramificação do lunático Extinction Rebellion, está
bloqueando estradas em Londres. E está exigindo que o governo interrompa
toda a produção de energia baseada em combustíveis fósseis. Sim, em
plena crise energética, em que muitas pessoas não sabem se vão conseguir
manter a calefação funcionando durante o inverno, esses ativistas de
classe média alta estão basicamente dizendo: “Vamos produzir menos
energia!”. O que estou ouvindo é: “Deixem os idosos morrerem de frio”.
Como era de esperar, pessoas que têm empregos e vidas não estão felizes
com todos esses bloqueios. E hoje alguns deles tomaram uma atitude. “Não
estou brincando”, disse um motorista, para os agitadores antipetróleo.
A Just Stop Oil fail here. pic.twitter.com/dUPcIV6tmb
— Chris Rose (@ArchRose90) November 14, 2022
Alguns
tomaram os cartazes dos manifestantes. Outros os removeram das
estradas. Enquanto um sujeito furioso arrastava um dos profetas amadores
da rodovia, uma mulher afirmou: “Meu Deus, você vai machucá-lo. Pare”.
Ao que o homem respondeu: “Então saiam das estradas”. Quero uma camiseta
com essa frase. Encontrei um bloqueio do Just Stop Oil na Avenida
Shaftesbury. Mais uma vez, foi uma batalha entre classes. Jovens
trabalhadores com equipamento de construção tentavam conversar com os
histéricos do clima para poder ir para casa. Os manifestantes, com o tom
sofrido e paternalista de uma diretora de escola repreendendo um
estudante indisciplinado, responderam que estavam fazendo o protesto
para o bem deles e pelo bem do planeta. “Fantoches do inferno”, comentou
um dos operários.
O
Just Stop Oil não está incomodando apenas os trabalhadores, pessoas que
são social e economicamente produtivas, eles também estão prejudicando
os doentes e vulneráveis. Hoje eles bloquearam um carro de bombeiros e
uma ambulância. No trecho de um vídeo impressionante, é possível ouvir
um homem dizendo para os manifestantes: “Tem uma pessoa doente, saiam da
via! Alguém está passando mal, vocês são idiotas?” Com extrema
insensibilidade, um manifestante responde: “Se a pessoa está doente, não
deveria estar dirigindo”. Paciente e aflita, a pessoa abordada explica o
óbvio: “Não, a pessoa no banco do passageiro está doente. Você é
idiota?” Imaginem o grau de arrogância — e de desumanidade generalizada —
que alguém precisa ter para bloquear a passagem de uma pessoa doente e
depois zombar do cidadão que se compadece do doente e o deixa passar.
Em
outro vídeo, um homem diz: “Tenho uma consulta no hospital. Sou surdo,
me deixem seguir minha vida e parem de nos atrapalhar”. Depois, ele
apela para a multidão, em que algumas pessoas claramente ainda entendem a
importância da solidariedade e afirma: “Onde está a polícia? Para que
estamos pagando impostos? Para ter nossa vida prejudicada por esses
idiotas? Isso está errado”. Foi um discurso improvisado que tocou a
razão central por que as pessoas estão tão bravas com tudo isso. Elas
sentem que sua vida está sendo perturbada por ricos neuróticos e que as
autoridades não estão fazendo o necessário para resolver o problema. No
domingo, um policial me empurrou para fora da via — eu estava
pacientemente explicando para os manifestantes que eles são uma ameaça
para os direitos e os meios de subsistência dos trabalhadores — e deixou
os ativistas no mesmo lugar. (Claro, muitos foram presos depois de um
tempo.)
De
minha parte, tenho um forte orgulho da revolta contra o Just Stop Oil.
Essa é uma ação direta. Ela ecoa os protestos anteriores contra o
Extinction Rebellion e o Insulate Britain. Quem consegue esquecer o
grito de um dos homens que retiraram um fantoche do Insulate Britain da
rodovia em outubro do ano passado para deixar uma ambulância passar: “É
uma ambulância, seu imbecil de merda. Saia da estrada!”. A linguagem
política em sua forma mais simples e mais universal. As elites — de
policiais à classe política, passando pela maior parte da mídia — podem
se solidarizar com esses grupos do Fim dos Tempos, mas a maioria das
pessoas normais, não.
Manifestantes participam do protesto Extinction Rebellion, para acabar com os combustíveis fósseis, em Londres (9/4/2022)
A
questão é: o mal que os manifestantes fazem às pessoas comuns não é um
subproduto acidental dessa agitação apocalíptica. Até mesmo o desdém que
eles claramente sentem — e às vezes expressam — pelas pessoas que estão
só tentando chegar ao trabalho ou a uma consulta no hospital não é
apenas um desdobramento de seu objetivo principal de “aumentar a
conscientização”. Não, o incômodo é o objetivo. O desprezo mal
disfarçado pelas massas é o principal. O escárnio que eles obviamente
sentem por nós, concorrentes na corrida de ratos, andando pela cidade e
fazendo nossos trabalhos estúpidos, é crucial para o panorama completo. O
ambientalismo é fundamentalmente um movimento contra as pessoas, e é
por isso que o Just Stop Oil — assim como o Extinction Rebellion, em
termos mais amplos — fica tão feliz em irritar as pessoas.
Na
raiz, o ambientalismo é uma ideologia antimassas e antimodernidade. Ele
considera os seres humanos quase uma praga para o planeta. Consumimos
demais, andamos de carro demais, geramos lixo demais. Tudo o que fazemos
é medido não por quanta alegria ou importância isso tem na nossa vida,
mas pela “pegada de carbono” deixada. Ter filhos, sair de férias, ir de
carro para o trabalho — cada atividade nossa é considerada uma festa da
poluição. E, quando você enxerga as pessoas como uma catástrofe, como os
autores do apocalipse enxergam, você acaba sentindo muito desprezo por
suas vidas e suas aspirações. É por isso que o Just Stop Oil não se
importa de impedir que você chegue ao trabalho e até mesmo ao hospital:
porque, de acordo com seu evangelho verde misantropo, todos esses
comportamentos são poluidores e, em consequência, ruins. Logo, eles
precisam ser restritos. Quando você considera a humanidade o problema,
logo você vai começar a odiar os seres humanos.
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