O jardim de infância talvez seja dos raros momentos em que a escola se adequa à forma de aprender de uma criança e a ensina a pensar. Custa a entender que não seja obrigatório e gratuito. Eduardo Sá, do Observador, com a minha concordância:
Nunca
entendi porque é que se foi separando o jardim de infância do ensino
obrigatório, já que o jardim de infância cria as condições para o
sucesso do ensino obrigatório. Acresce que o jardim de infância talvez
seja dos raros momentos em que a escola se adequa à forma de aprender de
uma criança e a ensina a pensar. Por isso mesmo, custa a entender que o
jardim de infância não seja obrigatório e gratuito. Não seja ensino
básico.
Entretanto,
há muitas crianças que passaram a ter acesso gratuito à creche. E isso
seria de aplaudir. Mas talvez seja importante conversarmos sobre ela.
Há
creches e creches. Mas faz diferença a um bebé muito pequenino ter de
se levantar a destempo e atravessar uma cidade. Ser confiado a pessoas
que repartem a sua atenção com outros bebés. Ou adequar-se ao modo de
funcionamento de uma creche. Faz diferença se lá passa muitas ou poucas
horas. Se tem contacto regular com o ar livre. Se a creche tem todas as
condições para ele lá estar. Ou se o estimula com método. Acresce que os
bebés aos 6, aos 8, ou aos 12 meses não procuram a relação com outros
bebés, como acontece depois dos 2 anos. Porque o vínculo prevalece sobre
a sociabilidade.
A
qualidade das creches minimiza muitos custos. Mas um bebé ganha com
cuidados adequados aos seus ritmos. Com a criação de rotinas que se
compatibilizem com eles. E com regras que liguem ritmos e rotinas com
competências e sociabilidade. E ganha se, primeiro, tiver um rosto
seguro. Depois, dois. E a seguir, três e quatro. Cresce-se melhor
devagar!
Num
país mais amigo das crianças, em vez das creches gratuitas, talvez
devêssemos estar, já, a debater as condições para instituir os 2 anos
como “baliza” para que as crianças saiam de casa. Mais o alargamento das
licenças de parentalidade. Ou o trabalho dos pais a tempo parcial. Ou o
apoio aos avós nesta tarefa.
Mais
creche não é, por inerência, melhor desenvolvimento. Com muitíssimas
horas de creche e menos jardim de infância, como sucede a muitas
crianças, cavam-se entre elas diferenças muito grandes no acesso a tudo o
que a escola, depois, lhes dá. Guardar os bebés não chega! É preciso
dar-lhes, desde o princípio, todas as condições para que sejam iguais.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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