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por Nicola Pamplona | Folhapress
Na mira do presidente Jair Bolsonaro (PL) devido aos elevados
dividendos da Petrobras, os acionistas minoritários da estatal são um
grupo pulverizado e heterogêneo, que inclui bancos, aposentados e até
trabalhadores que compraram ações com o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço).
Em abril de 2022, a empresa tinha 718.185 acionistas pessoas físicas,
5.931 pessoas jurídicas e 2.949 investidores institucionais, segundo
formulário de referência arquivado na CVM (Comissão de Valores
Mobiliários).
O maior acionista privado, a gestora de recursos americana BlackRock,
detém apenas 2,15% do capital total da companhia. As ações, porém,
pertencem a investidores individuais ou fundos que investem em seus
produtos.
Os minoritários viraram alvo do presidente da República em meio à
crise provocada pelas conturbadas trocas de comando na Petrobras, que
resiste a segurar os preços dos combustíveis.
"Grande parte dos minoritários [são] empresas de fundo de pensão dos
Estados Unidos que ganham em média R$ 6 bilhões por mês. Dinheiro de
vocês que botam combustível nos carros", afirmou ele, no dia 18. "Virou
Petrobras futebol clube para seu presidente, diretores, conselheiros e
dito minoritários."
O governo tem 28,7% do capital total, mas controla a empresa por ter
50,2% das ações ordinárias, com direito a voto em assembleia de
acionista. Com essa fatia, é o maior recebedor de dividendos e consegue
vencer qualquer votação, mas vem tendo problemas na eleição de
conselheiros.
Recebe dividendos por meio das fatias do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social), que correspondem a 7,94% do
capital. Com isso, ficou com R$ 37 bilhões dos R$ 101 bilhões
distribuídos pela empresa em 2021, ano em que lucro e dividendos foram
recorde.
O restante foi pago aos minoritários. Não é possível calcular quanto
cada investidor privado recebeu, já que os gestores de investimentos têm
uma enorme variedade de clientes, que incluem pessoas físicas, empresas
e fundos de pensão de todo o mundo.
Mesmo com participação pulverizada, eles se mobilizam para participar
da gestão da companhia, que reserva 2 das 11 cadeiras do conselho de
administração a representantes dos minoritários. Uma terceira é
reservada a representante dos trabalhadores.
Maior acionista individual, com 1,84% das ações ordinárias, o
banqueiro João José Abdalla Filho, conhecido como Juca Abdalla, por
exemplo, conseguiu apoio de outros investidores para avançar sobre as
cadeiras antes ocupadas por indicados pelo governo.
Conseguiu a primeira ainda em 2020, com a nomeação do advogado
Leonardo Antonelli. Na mais recente assembleia dos acionistas da
estatal, em abril, conseguiu duas cadeiras, uma para ele próprio e outra
para Marcelo Gasparino.
Sem se referir especificamente ao caso da Petrobras, o presidente da
Amec (Associação dos Investidores do Mercado de Capitais), Fábio Coelho,
diz que os minoritários tentam representação em conselhos para
influenciar o poder decisório em busca de maior geração de valor a longo
prazo.
"O Brasil é um dos países onde é elevado o número de empresas com um
acionista controlador, em geral um grupo familiar ou o próprio governo
federal ou estadual", diz. "Acionistas minoritários representam os
demais sócios nas empresas e que não possuem poder de decidirem sozinhos
os rumos das companhias, mas que podem influenciar o processo
decisório."
Ele diz que vem crescendo no país, nos últimos anos, a participação
de grupos internacionais influenciando empresas para incentivar práticas
modernas de gestão ou revisão de sua função social. "Estamos falando
não só de melhor governança mas também de aprofundamento da pauta
socioambiental."
Na Petrobras, minoritários têm sido um contraponto ao governo, fiscalizando o cumprimento de regras estabelecidas no estatuto da companhia e na Lei das Estatais. Por isso, Bolsonaro propôs a eleição de um conselho mais alinhado, com muitos ocupantes de cargos públicos, na próxima assembleia.
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