Na foto, Marcus Garvey, admirador de Hitler e de Mussolini que virou guru de Bob Marley e do reggae jamaicano. Paulo Polzonoff para a Gazeta do Povo:
No
mundo civilizado, não há um só líder minimamente relevante que defenda
abertamente a superioridade de uma raça sobre a outra. Tampouco há
qualquer líder atraindo multidões com a promessa de eliminar determinada
raça. Simplesmente não há. Pode haver um ou outro maluco, assim como
pode haver muito racista enrustido. Mas racismo assim declarado,
explícito, usado como plataforma de governo não existe.
Todo
mundo é contra o racismo. Todo mundo. Até aquelas pessoas que insistem
no comentário racista. Na piadinha racista. Até aquela pessoa que acha
que sua empresa não deve contratar pessoas “de cor”. Até quem usa
expressões como “de cor”. Até quem fala “criado mudo”, “nas coxas” e
“denegrir”. Eu o desafio a dar uma voltinha pelo quarteirão e encontrar
uma só pessoa que seja a favor do racismo. Tente. Vá lá. Eu espero. (Mas
tem que ser na vida real, e não na Internet, onde os racistas covardes
se sentem protegidos pra exporem o lado mais vil de seu vil caráter).
Não
encontrou, né? Eu disse! Na pior das hipóteses, se você mora perto de
uma universidade federal, é possível que tenha encontrado um ou outro
maluco pregando a superioridade racial dos negros sobre os brancos,
quando não a necessidade de extermínio dos branquelos a fim de que haja
reparação histórica. Mas são apenas uns jovens lunáticos cheios de gogó e
que não abdicam da mesada do papai. O bom é que esse tipo de discurso é
como acne e desaparece com a idade.
Veja
bem: não estou dizendo que o racismo (verso & reverso) não exista.
Pelo contrário. Há muita gente que ainda acredita que há diferenças
relevantes entre brancos e negros a ponto de justificar o subjugo de uma
raça por outra. Mas ninguém em sã consciência jamais teria coragem de
expor essa ideia ao escrutínio público. E não porque seja contra a lei,
como certamente pensam os positivistas que me leem neste momento.
Ninguém mais bate no peito para se dizer racista porque fazer isso é
social e moralmente inaceitável.
Mas
a esquerda progressista identitária, sabemos, não é conhecida pela
capacidade de reconhecer avanços de quaisquer tipos. Definitivamente
"gratidão" não é uma palavra que faça parte do vocabulário dela. Pelo
contrário. Quanto mais ressentimento houver, melhor para essas pessoas
que vivem do rancor e do desejo de vingança. Daí porque em vez de
ressaltar as mudanças positivas pelas quais o mundo passou nos últimos
cem anos (um negro presidiu os Estados Unidos da América, cara!), a
esquerda progressista identitária prefere chafurdar no passado, a fim de
reparar um dado para o qual simplesmente não há reparo.
Pior:
para a esquerda progressista identitária esse desejo de vingança
mal-disfarçada de reparação só pode se dar por meio das (um Engov antes)
políticas públicas (um Engov depois). Isto é, por meio da ação
abrangente do Estado. Mas não um Estado qualquer. Estamos falando, aqui,
de um Estado policialesco que se considera capaz de entrar na cabecinha
dos racistas residuais, isto é, dos ignorantes, malcriados e
mau-caracteres (a Internet ensina que este é o plural correto e quem sou
eu para discordar?).
Aliás,
aproveitando o assunto que eu mesmo levantei, são muitas as (justas)
pautas da esquerda progressista identitária que avançaram no último
século, sem que essa mesma esquerda progressista identitária tenha sido
capaz de reconhecer tais avanços. No mundo civilizado, ninguém mais
prega que mulheres fiquem em casa ou que não tenham direito a voto ou a
salários iguais aos dos homens. Ninguém mais defende a prisão ou a pena
de morte para homossexuais. Até travestis têm direito a mudar de nome.
A
gritaria, porém, continua. E tem que continuar. Afinal, se não houver
gritaria é porque o mundo lentamente vai tentando encontrar algum tipo
de equilíbrio natural. E isso é inadmissível para a esquerda
progressista identitária, que quer tudo “pra ontem” e da forma mais
artificial e violenta possível. De preferência sob as ordens de um
“déspota de bom coração” que vai mandar aquele seu tio que usou os
pronomes errados para se referir a um trans negro gordo para um campo de
reeducação – de onde ele sairá, oh, transformado. Com sorte,
transformado justamente no trans negro gordo e anão que até outro dia
mesmo feria de morte ao chamá-le de “ele”. Veja só.
No
mais, quero encerrar este texto fazendo uma referência a Antônio
Risério e seu artigo “Racismo de negros contra brancos ganha força com
identitarismo” – uma obra-prima da provocação jornalística. No texto,
que tem gerado histeria entre a esquerda progressista identitária,
Risério faz referência a “Marcus Garvey — admirador de Hitler (seu
antissemitismo chegou a levá-lo a procurar uma parceria desconcertante
com a Ku Klux Klan) e de Mussolini—, que virou guru de Bob Marley e do
reggae jamaicano, fiéis do culto ao ditador Hailé Selassié, o Rás
Tafari, suposto herdeiro do Rei Salomão e da Rainha de Sabá”.
Um
negro antissemita que deu origem a um culto que idealizava um ditador
que se dizia herdeiro do rei Salomão. Uau! Como não há nenhum filme ou
série (de comédia, claro) sobre esse personagem abjeto, mas fascinante
e, na boa, completamente maluco? Aí é que está: em se tratando de
racismo, verso e reverso, a história nos brinda com esses personagens
para que aprendamos com os erros deles – e não para que repitamos os
mesmos erros. Mas há quem prefira derrubar estátuas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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