O livro de Foucault que escolhi para ler foi A História da Loucura. É um dos primeiros livros, feito antes de ele endoidar. E de fato é pertinente para entender a maluquice das pessoas no trato com a pandemia. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
Uma
das incontáveis confusões ideológicas que a pandemia trouxe foi a dos
foucaultianos pró-passaporte vacinal e indústria farmacêutica. Foucault
não era o filósofo paranoico que via os hospitais como instituições
análogas aos presídios, feitos para vigiar e punir? Aliás, Foucault não
era o patrono dos relativistas epistêmicos, que viviam chamando de
“discurso” tudo o que os cientistas dizem, como se não existisse uma
realidade objetiva? Pois bem: hoje esse povo todo está clamando por
passaporte vacinal e jurando de pés juntos que acredita na Ciência,
personificada pelo Dr. Fauci, alinhada com o filantropo Bill Gates.
Enquanto
isso, eu, que sempre torci o nariz para esse pessoal, comecei a nutrir
um profundo ceticismo quanto ao que diz um sem-número de
“especialistas”, ora tirados da cartola da imprensa (como Luana The
Lioness), ora ocultos sob as profundezas da burocracia (como os técnicos
da Anvisa que fazem questão do anonimato). Burocrata inventa é coisa;
quando cientista e burocrata se fundem numa pessoa só, convém
desconfiar, pois é poder demais. Quando essa figura praticamente ganha
poder de polícia (vide São Paulo prendendo pedestre) e até determina
quem pode tirar documentos ou não (já que o Nordeste implementou
passaporte vacinal para esses serviços), convém rebelar-se. Convém,
portanto, dar uma olhadela no que diz o filósofo paranoico que tanto
subsidiou relativistas malucos. Será que ele não tem uma dose de razão?
Foucault, gay?
Foucault
tem fases e foi ficando maluco com o tempo, até praticamente se
suicidar por meio de orgias sodomitas em plena epidemia de Aids. Pegou a
doença e morreu aos 57 anos.
Antes
que reclamem comigo por falar na prática da sodomia, em vez da
identidade gay, faço isso tendo em mente justo Foucault, que fazia da
identidade homossexual uma invenção moderna. É muito estranho os gays
identitários gostarem tanto de Foucault, já que para ele a identidade
gay não é nada de definido, quanto menos de inato. Luiz Mott é coerente
com seu identitarismo, e por justamente isso escreve contra Foucault,
empenhando-se em mostrar que sempre houve ao longo da História uma
subcultura gay e portanto uma identidade gay. Homens que sentem atração
sexual por homens, mesmo com mulheres à disposição, estariam presentes
em qualquer cultura humana, de modo que a identidade gay é um fato da
natureza subjacente à cultura. Para Mott, se você, pacato leitor
heterossexual, nascesse na Grécia Antiga ou na Arábia Saudita, seria
hetero de qualquer jeito.
Foucaultianos
da velha guarda, por outro lado, prefeririam enfatizar o amor dos
espartanos como prova de que a sodomia é um dado cultural desatrelado de
uma identidade fixa. Se o pacato leitor hetero nascesse em Esparta, não
teria conversa de biologia, de tendências inatas nem nada: iria
integrar a cultura espartana e, portanto, à sodomia. E essa adesão à
sodomia não teria nada a ver com desmunhecar nem abrir salão de beleza; o
pacato leitor seria um guerreiro com sangue nos olhos, pronto para
comer o fígado dos inimigos.
E
aí, qual vai ser? Como diz Douglas Murray, as origens da
homossexualidade são um mistério. Se fosse 100% inata, como pretendem os
identitários, todos os gêmeos univitelinos teriam a mesma orientação
sexual – o que não é o caso. Por outro lado (ao menos da última vez em
que Eli Vieira escreveu sobre o assunto), os gêmeos univitelinos tendem a
ter a mesma orientação sexual e parece haver genes influenciando na
orientação sexual, ainda que não haja uma determinação.
É
provável que, como quase tudo na humanidade, a sexualidade tenha algo
de imponderável, em meio a influências naturais e culturais. Isso
explicaria por que um culturalista (como Foucault) consegue reunir
evidências de que a homossexualidade é um dado cultural e por que um
inatista (como Mott) conseguiria reunir evidências através de culturas
diferentes de que a homossexualidade é um dado da natureza.
Por
isso gosto da ideia de que os autores podem ter uma dose de razão, e
portanto vale ouvi-los, por mais que detestemos os seus seguidores. É
uma imensa bobagem esperar que a razão esteja toda concentrada num único
grupo político.
Pureza política
Também
não adianta torcer o nariz para todos esses pederastas e dizer que seu
pensamento não tem nada a ver com o deles. Se você acha que
homossexualidade é uma escolha de conteúdo político e que essa crença é
essencial a um conservador, sinto informar que esta crença faz parte do
pacote do militante pós-moderno médio. Para o lacrador, a sexualidade é
política; portanto, é arbitrária. O lesbianismo político, que foi moda
lá pelos anos 70, mandava que as mulheres, independentemente de suas
inclinações, só se relacionassem com mulheres para combater o
patriarcado. Nos dias de hoje, o militante gay médio racionaliza o sexo
entre homens dizendo que é um jeito de eles terem prazer sem produzir
mão de obra para o capital. De minha parte, acho ridículo. É muito mais
razoável dizer que eles fazem porque acham gostoso e inventam uma
desculpa política depois. Ora, tem gay de tudo quanto é posição
política. Por outro lado, casar com uma mulher e ter filhos não faz de
Freixo, de Boulos ou de Haddad conservadores. São caras normais em sua
esfera privada, devem achar gostoso sexo com mulheres e nunca devem ter
dito “vou perpetuar as instituições familiares e a espécie humana
casando-me com uma só fêmea da espécie e reproduzindo-me com ela”. É
claro que podemos apontar incoerência entre discurso e conduta para
acusar a hipocrisia, seja no caso de santarrões devassos ou no dos
caretas críticos do patriarcado cisnormativo. Mas explicar a conduta são
outros quinhentos. Não creio que um mau padre precise de motivos
políticos para fazer sexo com beatas, nem que um psolista precise de
motivos políticos para ter uma esposa em casa passando os bifinhos.
É
estranho e irrazoável misturar orientação política com sexualidade. É
presumir que as pessoas têm muito mais deliberação em suas vidas do que a
realidade. Não há espaço para a espontaneidade, para o acaso.
Qual livro de Foucault ler?
O
livro dele que escolhi para ler foi A História da Loucura. É um dos
primeiros livros, feito antes de Foucault endoidar. E de fato é
pertinente para entender a maluquice das pessoas no trato com a
pandemia.
Como
diz o título, o objeto do livro é a loucura. Olhando para a criatura
que taca pedra nos outros, nós não temos problemas em dizer que a
loucura é um dado objetivo da natureza. Temos problemas é com o
foucaultiano antimanicomial que abraça o doido e diz que ele tem de
estar na rua, feliz, tacando pedra nos outros.
Mas,
porém, contudo, todavia, qualquer um de nós, pensando bem, há de achar
estranho o fato de todo mundo hoje poder ter um problema psiquiátrico
para chamar de seu. Basta entrar num consultório que se consegue um
diagnóstico e uma receita para remedinho. Apenas isso já basta para
desconfiar que há muito de cultural naquilo que presumimos ser de ordem
natural, ou seja, a loucura. E o estudo de Foucault foca justamente no
que há de cultural na percepção da loucura.
Depois de ter quase pedido desculpas por falar de Foucault, termino este texto por aqui. Na próxima fica A História da Loucura.
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