É a "esperança de redenção", escreve Vilma Gryzinski em sua coluna na edição impressa de Veja:
Você
está preparado para as platitudes que os candidatos vão falar sobre
educação, se se derem ao trabalho, lá pelo fim dos discursos que
desafiarão nossas paciências neste ano? Um bom treinamento pré-eleitoral
para os brasileiros com senso de honra pode ser colocar como tela de
fundo de seus celulares os resultados do PISA, a pesquisa sobre educação
feita pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
Em termos educacionais, o 66º lugar do Brasil, num total de 77 países, é
o equivalente à “fila dos ossos”, o colar de humanos desvalidos à
espera de restos de açougue que aflorou em cidades brasileiras. A
classificação é de 2018 — o PISA 2021 foi postergado por causa da
pandemia. Nos cinco lugares acima do Brasil estão Peru, Bósnia,
Azerbaijão, Cazaquistão e Colômbia. Para não nos desesperarmos, e
buscarmos lições valiosas, é bom olhar também para vários dos melhores
classificados e lembrar que já foram países miseráveis,
subdesenvolvidos, destroçados por guerras ou esmagadoramente analfabetos
— quando não tudo isso junto.
Singapura,
que aparece ora em primeiro, ora em segundo lugar nos indicadores
mundiais de educação, era um dos lugares mais atrasados do mundo e,
apesar da localização estratégica como porto e entreposto comercial,
desmerecido até pelos colonizadores ingleses. Gradualmente povoada por
agricultores chineses trazidos para trabalhar no cultivo da
pimenta-do-reino, tinha o potencial de conflito com a população
original, de etnia malaia, e recursos zero em um território equivalente à
metade da cidade de São Paulo. Criou um sistema educacional tão
sofisticado, com um currículo voltado para a matemática e a ciência, que
professores de ensino médio ganham o equivalente a 90 000 dólares por
ano — isso depois de passar por um concurso disputadíssimo, reflexo da
valorização reservada aos educadores, típica das sociedades asiáticas
influenciadas pelo pensamento confuciano, onde os detentores do saber
ocupam o topo da escala social.
A
Coreia do Sul é outro país asiático que deu um salto inacreditável,
indo da ocupação japonesa e de uma devastadora guerra desfechada pelos
comunistas do norte para mais de 70% da população entre 25 e 34 anos com
educação superior. Desde 1990, o orçamento para a educação
quintuplicou, mas corresponde a apenas 3,4% do PIB — no Brasil, são 6%. O
incentivo familiar é tão competitivo que o governo proibiu aulas
particulares depois das 10 da noite. Fora da esfera asiática, há
fenômenos como a Estônia, um país báltico de 1,3 milhão de habitantes —
pouco menos que o número de militares russos, cuja invasão os estonianos
passam o tempo todo temendo —, que ficou em quinto lugar no PISA. A
Polônia, em 11º — uma posição à frente do Reino Unido, o país onde mais
de 1,5 milhão de poloneses foram procurar trabalho depois da era
soviética. Aos que os menosprezavam como incultos, podem exibir com
orgulho o salto educacional que deram. Devido às diferenças históricas e
culturais, muitas experiências dos que “viraram” as condições de ensino
são intransferíveis, mas isso não elimina a pergunta principal: se
países que vieram de condições tão desfavoráveis conseguiram, por que
não conseguiremos também? Ou nos resignamos a deixar nossas crianças e
nossos jovens eternamente na fila dos ossos?
Publicado em VEJA de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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