E quase leva junto o fabricante da bicicleta ergométrica que aparece na sequência da série Sex and the City, numa notável e escandalosa reviravolta. Vilma Gryzinski:
Todo
mundo já sabe (quem prefere manter o suspense, deve parar de ler): logo
no primeiro episódio de And Just Like That, “Mr. Big”, o amante e agora
marido de Carrie Bradshaw, a personagem principal da sequência de Sex
and The City, cai fulminado por um ataque cardíaco depois de uma sessão
de exercício na bicicleta ergométrica da cobiçada marca Peloton.
O
que aconteceu em seguida ultrapassou amplamente a ficção e deixou a
milhões de quilômetros de distância os comentários sobre a segunda
encarnação da série, dominados pela impressão de que os figurinos
extravagantes que fizeram a fama do programa tinham ficado datados.
Primeiro,
as ações da Peloton caíram 11,7% na bolsa por causa da associação entre
o exercício puxado e a morte. A empresa, criada com a brilhante ideia
de vender programas de exercício junto com bicicletas ergométricas e
esteiras que podem custar mais de 20 mil reais, reagiu rapidamente.
O
ator Chris Noth, intérprete de Mr. Big, foi contratado para um vídeo em
que aparece sentado diante da lareira ao lado da instrutora de
ginástica Jess King. Com voz insinuante, o ator, agora com cabelos
elegantemente grisalhos, diz: “Vamos dar mais uma? A vida é muito
curta”. A câmera abre e mostra duas bicicletas ergométricas onde ele
quer dar mais uma sessão de pedaladas, enquanto o ator Ryan Reynolds,
cuja empresa de marketing bolou o vídeo, faz a narração sobre as
vantagens do exercício físico para a saúde cardiovascular.
O
vídeo viralizou e a Peloton parecia ter dado a volta por cima. Foi aí
que o mundo de Chris Noth começou a desabar: o Hollywood Reporter
publicou os relatos feitos por duas mulheres sobre fatos separados
ocorridos em 2004 e 2015. Nenhuma sabia da outra, mas as histórias eram
parecidas.
Por
motivos diferentes, foram ao apartamento do ator, uma em Los Angeles e a
outra em Nova York, e lá ele as dominou fisicamente e fez sexo contra a
vontade delas. Detalhe: em ambas as ocasiões, na frente de um espelho.
A
Peloton tirou o vídeo de circulação, as atrizes da série assinaram uma
declaração dizendo que todas as mulheres devem ser dignas de crédito e a
agência que empresariava Noth o desligou. Ele também foi demitido de
outra série, The Equalizer, onde interpretava um ex-diretor da CIA
próximo à personagem principal, de Queen Latifah.
O
ator disse que tinha feito sexo consensual com ambas, mas é claro que
os casos foram aumentando. Chegaram a cinco esta semana, incluindo a
última, a cantora Lisa Gentile. Ela disse que se cruzavam num
restaurante de Nova York, um dia pegou carona com o ator, ele pediu para
conhecer o apartamento dela onde a agarrou com violência, espremeu seus
seios e só foi embora depois que ela gritou que não queria aquilo. No
dia seguinte, recebeu um telefonema em que Noth a ameaçava de acabar com
sua carreira se falasse a respeito.
Fo
há quase vinte anos. Lisa Gentile estava acompanhada de uma advogada
especialista em acordos vantajosos contra ex-maridos ou homens
abusadores.
É
justo que Chris Noth seja julgado no tribunal da opinião pública,
obviamente sem as proteções garantidas pela justiça, execrado e banido?
Ou é um castigo merecido pelos anos em que tratou mulheres de forma
agressiva ou, no caso dos estupros denunciados, criminosa?
Justo
ou não, é o que acontece. Sem nunca ter sido acusado de penetração
forçada, Andrew Cuomo, o ex-governador de Nova York, teve que renunciar
em agosto, quando uma investigação pedida por ele mesmo anotou uma série
de abusos: passadas de mão, beijos “roubados”, avanços sobre
subordinadas e outros absurdos para um homem em sua posição e nos
Estados Unidos dos últimos tempos, onde um comentário torto ou mal
entendido pode acabar em processo.
Aos
67 anos, Chris Noth dificilmente conseguirá reconstruir sua carreira.
Mr. Big – referência ao 1,88 metro do ator e à fortuna do personagem;
antes, ele havia ficado conhecido no seriado Law and Order – já havia
morrido na ficção. Agora, está enterrado na realidade. Terá tempo de
sobra para se exercitar na Peloton.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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