Bradesco, repita comigo: segunda-feira é dia de as pessoas comerem o que quiserem! Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Elas
ficaram conhecidas como as “Lacradoras do Bradesco”: três moças
vestidas de branco, falando em um tom didático-tatibitate e trazendo no
rosto aquela expressão feliz e confiante de quem se sabe “do bem” e se
sente moralmente superior aos mortais comuns.
Em
um comercial do banco, cancelado às pressas diante da repercussão
negativa, as moças sugerem que as pessoas... deixem de comer carne uma
vez por semana, para reduzirem suas “pegadas de Carbono” – já que os
bois, vejam só, seriam os grandes responsáveis pelo efeito estufa.
Como escrevi em um artigo recente, “Cerveja, churrasco e uma história real de lacração reversa”,
a cervejaria Heineken fez exatamente a mesma coisa e se deu mal. E,
exatamente como no episódio da Heineken, diversas entidades ligadas ao
agronegócio reagiram de forma enfurecida ao comercial, exigindo uma
retratação por parte do banco. Nas redes sociais, vídeos foram postados
convocando os pecuaristas a boicotar o Bradesco. E milhares de clientes
comuns ameaçaram cancelar suas contas no Bradesco e trocar de banco.
Por
medo de perder clientes, o banco voltou atrás, por meio da longa nota
reproduzida abaixo, assinada pelo diretor-presidente e três
vice-presidentes da instituição. Mas, em vez de assumir sua
responsabilidade pelo equívoco, o Bradesco preferiu jogar a culpa nas
costas das três jovens lacradoras, classificando sua mensagem como
“descabida” e prometendo realizar “ações administrativas internas
severas”.
É algo como colocar a culpa no estagiário. Não ficou bonito, mas, de qualquer forma, a nota foi um sinal claro de que o banco sentiu o golpe.
Deixa
eu ver se entendi: o vídeo traz a logo do Bradesco e recomenda o uso do
App lançado pelo Bradesco para medir a emissão de carbono, mas a nota
sugere que o banco não teve nada a ver com o comercial. Quer dizer que
as três jovens fizeram publicidade gratuita e usavam a logo do Bradesco
sem autorização? Se não foi o Bradesco, alguém as patrocinou? Quem?
Ou
seja, ou o comercial foi divulgado à revelia do Bradesco, o que seria
grave, ou fica parecendo que o banco não assume a responsabilidade pelos
seus próprios comerciais, preferindo atirar às feras três jovens
influenciadoras boazinhas, que só estavam preocupadas (ou não) com a
sustentabilidade.
A
proposta da “segunda sem carne” é apenas mais um exemplo da ditadura
das minorias que, ostentando virtude, tentam decretar o que as maiorias
devem fazer. Mas a verdade é que, exceção feita às minorias barulhentas
às quais é dirigido o marketing de lacração, as pessoas comuns, que
constituem a imensa maioria da população, não suportam mais essa
atmosfera doentia de patrulha e lacração em que estamos vivendo.
Até
porque fica cada vez mais claro que, por trás das aparentes boas
intenções do discurso ambiental, escondem-se poderosos interesses
econômicos e uma agenda ideológica oportunista, que ataca de forma cada
vez mais desavergonhada as liberdades individuais – aí incluída a
liberdade de cada um comer o que quiser, no dia que quiser.
Bradesco, repita comigo: segunda-feira é dia de as pessoas comerem o que quiserem!
Mas
isso se puderem, claro. Porque, se depender dos grupos que apoiam esse
tipo de campanha lacradora, em breve muita gente só vai conseguir comer o
que catar no lixo, como já acontece na vizinha Venezuela, onde 94,5% da
população vivem abaixo da linha da pobreza e não sabem o que é um bife
há muitos anos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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