*Simon Zais e Daniel Kerney
O ano de 1602 foi um divisor de águas. Foi quando se lançou a
Companhia Holandesa das Índias Orientais com a emissão de ações
facilmente transferíveis para financiar suas várias aventuras pelo
planeta.
Agora, o mundo está vivendo uma novidade similar: os ativos
digitais. Independentemente das discussões sobre se o valor de um token
é justo, essa nova classe de ativos é uma classe de ativos. É
totalmente diferente dos que existem e guardadas as devidas proporções,
sua adoção pelo setor financeiro convencional é tão inevitável quanto
as ações corporativas do século 17.
Gestores financeiros com visão de futuro estão se perguntando:
“quais opções tenho para oferecer se meu cliente quiser exposição a
criptoativos?”. Atualmente, o mercado tem várias opções por meio de
diferentes caminhos.
O primeiro e mais óbvio é a compra direta de criptomoedas. A
maioria dos grandes gestores de fortunas ainda não começou a oferecer
esse serviço para seus clientes por meio de carteiras de ativos
digitais das próprias instituições. Mas, muitos estão explorando essa
possibilidade. Tirando algumas empresas menores de nicho, a maioria dos
gestores ainda estão construindo, em seus planos financeiros, posições
de criptos mantidas externamente1.
Dessa forma, mesmo perdendo participação no mercado de carteiras para
outras empresas de cripto, os gestores de fortunas podem gerar um valor
expressivo fornecendo informações cuidadosas e completas sobre
fornecedores, além de consultoria sobre os ativos.
O próximo passo é o investimento em fundos de ativos digitais.
Enquanto as muitas instituições evitam a propriedade direta de
criptomoedas, oferecem fundos de criptomoedas a certos tipos de
investidores. O Morgan Stanley2, o Goldman Sachs3 e o JP Morgan4
anunciaram a oferta desses fundos. Todos têm gerenciamento ativo e
podem não ser um substituto para os clientes que buscam exposição beta
em cripto, mas para clientes que estão menos confortáveis com a
perspectiva de gerenciar uma carteira. Esses fundos têm o conforto já
conhecido de subscrição institucional.
Para os clientes e gestores de fortuna interessados em seguir
certas estratégias de negociação, a Bolsa de Mercadorias de Chicago (o
grupo CME) listou contratos futuros nas duas maiores criptomoedas: para
bitcoin e ether – essa última a criptomoeda nativa da rede blockchain
Ethereum. Estratégias de contratos futuros podem ser complexas e
arriscadas, mas para clientes de altíssimo patrimônio com discernimento
e gestores bem-informados, esses produtos podem abrir um mundo de
alavancagem e flexibilidade.
Alguns clientes podem hesitar por conta da complexidade de cada
uma dessas estratégias. Outros podem ter os requisitos para investir em
certos fundos ou contratos futuros. Por sorte, à medida que cresce a
aceitação de ativos digitais em geral e as criptomoedas, em particular,
ganham mercado, há atualmente três produtos familiares disponíveis no
mercado – independentemente da qualificação ou sofisticação.
O mais perene desses produtos para o investidor é ação de
empresas do ecossistema de ativos digitais. Empresas desse grupo vão
daquelas totalmente com foco em cripto, como a Coinbase, maior bolsa de
moedas digitais dos Estados Unidos (EUA), a empresas com exposição ao
ecossistema, como a Nvidia.
Outro produto familiar que os gestores podem oferecer a seus
clientes são os fundos de índice (ETF) de ativos digitais. Esses
existem e têm uma sobreposição significativa. Alguns gestores de ETFs
disfarçam exposições tradicionais em tecnologia sob o marketing de
criptomoedas. Os gestores podem se certificar do valor deles com uma
avaliação das empresas que compõem o fundo para avaliar se há uma
oportunidade.
E por fim, o produto que os investidores e gestores de fortunas estão explorando no horizonte: o ETF de bitcoin5.
Há dois desses ETFs na bolsa brasileira, a B3. Da forma como estão
surgindo, há dois tipos. Um deles é um fundo que detém o ativo, como o
ETF GLD da Bolsa de Nova York (NYSE), que tem lastro em ouro físico
guardado num cofre, ou como o ETF USO, que tem como referência
contratos futuros de petróleo com datas de vencimento próximas. A
Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) já aprovou um ETF de
contratos futuros de bitcoin e há vários outros pedidos pendentes. Os
gestores podem mostrar valor, mais uma vez, explicando as peculiaridades
estruturais de cada um, como seus perfis únicos de risco se encaixam
em portfólios únicos e como a exposição por meio de um ETF é diferente
de ter uma criptomoeda.
Enquanto várias empresas pediram à SEC a aprovação de ETFs que
mantém bitcoin, por enquanto os reguladores não autorizaram ou ainda
não deram respostas a esses pedidos. Os receios da SEC sobre os
mecanismos desses produtos incluindo (mas certamente não se limitado a)
valuation, liquidez/resgate, volatilidade, custódia e potencial
manipulação, não devem ser interpretados como dúvidas de demandas
comerciais e de varejo. O interesse dos investidores e assessores por
exposição a criptomoeda, combinado à popularidade dos ETFs e à demanda
perene por investimentos beta baratos, proverão um vento favorável para
os fluxos dos fundos, se vierem a mercado.
Os gestores de riqueza que são confrontados com demandas por
cripto de clientes se encontram no início de uma trilha. Em campo estão
as opções “gêmeas” de engajamento e recomendação. Exatamente como
acontece com qualquer ativo emergente, da primeira e simples ação
holandesa a produtos estruturados elaborados, os ativos digitais são
uma oportunidade única para os gestores de fortunas capazes de prover
conselho previdente. E conhecer os produtos é o primeiro e certeiro
passo.
* Simon Zais e Daniel Kerney são consultores da Capco.
Sobre a Capco
A Capco, empresa o Grupo Wipro, é uma consultoria global de
gestão e tecnologia dedicada ao setor de serviços financeiros. Nossos
profissionais aliam pensamento inovador e conhecimento incomparável no
setor para oferecer aos nossos clientes expertise em consultoria,
integração de pacotes e tecnologias complexas, entrega de transformação
e gestão de serviços, para o avanço de suas organizações. Com nossa
abordagem eficiente e colaborativa, ajudamos nossos clientes a inovar,
aumentar receitas, gerir riscos e mudanças regulatórias, reduzir custos e
aprimorar métodos de controle. Somos especializados particularmente em
serviços bancários, mercados de capitais, gestão de patrimônio e
investimentos, finanças, seguros, risco e compliance. Nos EUA, também
temos prática em consultoria no setor de energia. Atendemos nossos
clientes de escritórios nos principais centros financeiros das
Américas, Europa e Ásia-Pacífico. Para saber mais, visite nosso site website www.capco.com ou siga-nos no Twitter, Facebook, YouTube, LinkedIn, Instagram e Xing.
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