Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 09 de janeiro:
No
tempo em que duas das palavras deste título jamais seriam publicadas
num jornal, o grande jornalista Ricardo Sérgio Mendes me apresentou à
mais poderosa deputada que passou pela Assembleia paulista, Conceição da
Costa Neves. “Este é o Carlinhos, do Jornal da Tarde. É ladrão, certo?”
Eu fiquei paralisado, Conceição riu muito e explicou: “Dizem que para
mim todo homem é corno, veado ou ladrão. Ele escolheu a palavra mais
suave”.
De
lá para cá a guerra fria acabou, outra guerra fria começou, a Internet
apareceu, telefone fixo que era caríssimo ficou até barato e ninguém
mais o quer, e a política não evoluiu nada. Lula pergunta em público
cadê as mulheres de grelo duro, Bolsonaro fica mudo se não puder falar
palavrões onde quer que seja, de passeata a reunião ministerial. Houve
algum tempo de civilidade, interrompido vez por outra quando perguntavam
por que um candidato não era casado, mas o eleitor rejeitava esse tipo
de abuso. Em debate, um deputado mandou o outro calar a boca: “você é
veado!” O oponente manteve a calma: “E daí? Seu filho também é”.
Tréplica: “Meu filho não é veado. É gilete”.
Agora,
por uma bobagem qualquer, o filho 02 de Bolsonaro afirmou que um aliado
era corno. O aliado estranhou o tom de crítica: devolveu o adjetivo,
deu o nome de quem, garante, tinha posto chifres no agora oponente,
citou o pai do novo desafeto como portador de frondosas galhadas. E o
país? O país que se afogue enquanto os chifres se chocam.
Patropi
Em
outubro próximo estaremos elegendo o presidente da República. E a
campanha está seguindo o ritmo dos insultos, não de caminhos. Terceira
via? Quais as ideias dos candidatos que pretendem barrar o caminho de
Lula e de Bolsonaro? A propósito, quais as propostas de Lula que não se
refiram aos cumpanhêro Maduro, Ortega ou ao poste da família Castro?
Bolsonaro, além de brigar com China, EUA, vizinhos latino-americanos e
União Europeia, tem algo a propor em vez da volta do carvão mineral como
fonte de energia?
Desse
jeito, vamos saber quais candidatos se enquadram nas categorias de
corno, veado, ladrão ou traíra, mas jamais saberemos o que é que pensam.
Maria Moita
Lembra-se
da esplêndida Maria Moita, de Carlos Lyra e Vinícius? “(...) vou pedir a
meu babalorixá/pra fazer uma oração pra Xangô/e por pra trabalhar gente
que nunca trabalhou (...)” Não tem semelhança com alguém que passa
todos os feriados na praia, de jet ski, andando de moto, rodeado de
serviçais e puxa-sacos, ignorando as tempestades que ilharam boa parte
do Nordeste e chamando de maldoso quem diz que ele estava de férias?
Outras palavras
“Fizemos
coisas fantásticas ao longo desses dias que dificilmente outro governo
estaria fazendo. O presidente não tem férias. É maldoso quem fala que
estou de férias. Eu dou minhas fugidas de jet ski. Dou lá uns cavalos de
pau no Beto Carreiro”. Entre aspas, foi o que Bolsonaro disse. Mas, cá
entre nós, se dançar funk no iate de amigo rico, passear de jet-ski, ir
ao parque de diversões, pilotar moto e viajar em avião oficial para ver
artistas sertanejos jogar futebol com o filho 02 não é estar de férias,
qual o nome desse período?
Fatia no bolo
Mais
um expoente do Centrão, com selo de qualidade (o chefe até já está
presa) fechando com a candidatura de Bolsonaro à reeleição: o PTB, de
Roberto Jefferson, se oferece até para alojar parlamentares malvistos na
sua atual legenda, como Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Guiga
Peixoto, todos do PSL paulista. Há uns dois meses, Jefferson acusou
Bolsonaro e seu filho 01, o senador Flávio, de terem se viciado em
dinheiro público.
Não
faz mal: os governantes sabem o tipo de argumentos que convencem o
Centrão da ala mais religiosa (adeptos da Oração de São Francisco de
Assis, “é dando que se recebe”, e que jamais negociam política sem ter
um terço no bolso). Bolsonaro não é exceção. O chefe de outro grande
partido do Centrão, Ciro Nogueira, do PP, não faz muito tempo acusava
Bolsonaro de ser fascista e hoje não só o apoia como é ministro em seu
Governo. E, sejamos justos, não é pela perspectiva de vitória eleitoral
que estão com Bolsonaro. Ganhar não é importante para um político do
grupo. Às vezes é melhor apoiar o perdedor.
A vida real
Às
vezes, o vencedor fica muito seguro de si. Que o digam os generais
descartados pelo Governo Bolsonaro. Ou Bebbiano. Ou Magno Malta. Ou
Moro, ou Mandetta, ou Guedes, que ditava a política econômica e hoje só
pode dizer “Sim, Excelência”, e “Sim, meu Senhor”. Já quem tem menos
chances oferece condições mais substanciosas a quem puder ajudá-lo. Após
receber as prendas, qualquer coisa assim, não se importam em tornar-se
páginas viradas. Pagas as promessas, podem virar oposição ou voltar à
situação, sem problemas.
Voltando ao título desta coluna, lavou, enxugou, está novo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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