Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
O
presidente Bolsonaro reafirmou sua confiança em Paulo Guedes e prometeu
não fazer aventuras na economia. O presidente da Câmara, Arthur Lira,
disse que o Congresso está comprometido com a solidez fiscal.
*Mas
Bolsonaro mandou Paulo Guedes se virar para que a Bolsa Família seja de
R$ 400. Só não disse quais despesas devem ser cortadas para
providenciar os recursos. Por exemplo, não faz muito tempo o presidente
gastou, para inaugurar uma ponte, dez vezes o custo da ponte.
*Arthur
Lira preside a Câmara, onde uma comissão já aprovou o calote no
pagamento de precatórios – dívidas que o Tesouro foi condenado a honrar
imediatamente, mas pretende dividir em suaves prestações anuais.
*Bolsonaro
disse que não quer correr nenhum risco na economia. Mas seu Governo
pressiona o Congresso para furar o teto de gastos, a “regra de ouro”
que, no Governo Temer, quase zerou a inflação.
*Arthur
Lira apoiou a iniciativa do Congresso de destinar R$ 5,7 bilhões para
que os candidatos gastem na campanha eleitoral. É quase o triplo dos já
escandalosos gastos na campanha de 2020. Essa verba sozinha bastaria
para pagar o Bolsa Família de R$ 400 a mais de 14 milhões de famílias.
*Bolsonaro
reiterou sua confiança total em Paulo Guedes e garantiu que ele fez um
brilhante trabalho. Aqui Bolsonaro tem toda a razão. Em Guedes ele pode
confiar: seus sapatos estarão sempre bem engraxados, brilhando.
A última palavra
Mas
façamos justiça: em toda essa lambança, Paulo Guedes fez questão de ter
as palavras definitivas. São “Sim, senhor” e “Pois não, Excelência”.
Os fatos
Talkey,
como diria o presidente no inglês que deve ter aprendido com seu filho
03, Eduardo Bolsonaro. Mas ele e Arthur Lira disseram essas coisas no
dia em que a equipe do Ministério da Economia foi embora e em que Paulo
Guedes não sabia direito nem o nome de um dos escolhidos para cargos
importantes em sua equipe; em que uma comissão da Câmara deu parecer
favorável a calotear a dívida dos precatórios; em que as empresas
negociadas em Bolsa completaram a perda, em valor de mercado, de R$ 284
bilhões.
O nome das coisas
Por
favor, não critiquem este colunista por chamar o Auxílio Brasil, ou
Bolsa Brasil, de Bolsa Família. Muda o nome, é a mesma coisa. Mas talvez
não seja: o objetivo é menos livrar essas famílias da fome e mais dar
um gás à campanha de Bolsonaro à reeleição. Do jeito que a inflação está
subindo, logo, logo este auxílio será consumido pela alta de preços.
Vem mais
Bolsonaro
prometeu também conseguir uma ajuda de R$ 400 mensais para os
caminhoneiros, que ameaçam entrar em greve no próximo dia 1º contra as
contínuas altas do combustível. Talvez funcione; mas líderes de
caminhoneiros já chamaram essa ajuda de “mel na chupeta” e se declaram
dispostos a paralisar o país. Não se sabe onde o presidente buscará
dinheiro para essa ajuda. Também não se sabe o que pode acontecer: donos
de frotas de caminhões já pararam uma vez, e já prometeram parar
outras, sem cumprir a promessa. Mas, seja greve (dos profissionais) ou
locaute (dos patrões), é como jogar gasolina no fogo. Seria somar a
inflação ao desabastecimento.
Boa notícia – a paz funciona
Israel
e os Emirados Árabes Unidos, que celebraram a paz nos Acordos de
Abrahão, planejam uma missão espacial conjunta, o lançamento de uma nave
à Lua. O acordo foi assinado no dia 19 e pode ser ampliado para outras
missões. O primeiro projeto é o lançamento da Beresheet (palavra
hebraica que inicia o Gênesis: “no princípio”), segunda nave espacial da
SpaceIL. A primeira chegou à Lua, mas se espatifou no pouso. A segunda,
com previsão de lançamento em 2024, seria uma nave-mãe, que lançaria um
satélite lunar e colocaria duas sondas na superfície da Lua. Tanto
satélite quanto sondas serão desenvolvidas em conjunto por estudantes
dos Emirados e de Israel. Há aí uma iniciativa pioneira: ninguém ainda
lançou duas sondas à Lua. Uma deve pousar no lado oculto da Lua, algo
que até hoje só a China conseguiu.
O trabalho dos Emirados
Os
Emirados Árabes Unidos já têm boa tecnologia espacial: em fevereiro,
seu satélite Hope alcançou a órbita de Marte – algo atingido por apenas
cinco países. E planejam pousar uma nave num asteroide entre Marte e
Júpiter.
Mudança no futebol
O
Tribunal Superior do Trabalho decidiu que os direitos de imagem do
jogador Lincoln Cassio de Souza Soares, do Coritiba, eram salário, e que
seu objetivo era apenas fraudar a legislação trabalhista. Ele recebia
R$ 50 mil de salário e R$ 133 mil de direito de imagem – livres de INSS e
sem reflexo em 13º e férias. Para que sejam reconhecidos como
legítimos, os direitos de imagem devem comprovar que a imagem do atleta
seja de fato explorada.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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