O despudor com que o PT tenta reescrever a história do País para edulcorar sua trágica passagem pelo poder rivaliza com o sistemático embuste bolsonarista. Editorial do Estadão:
Desde
que o PT precipitou a maior crise econômica, política e moral da Nova
República, a população esperou em vão por um mísero mea culpa. Após o
impeachment de Dilma Rousseff, a única bandeira a unificar seus
correligionários foi a denúncia ao “golpe”, logo substituída pelo slogan
“Lula Livre”. O PT se opôs a reformas modernizantes como a da
Previdência, opõe-se a outras, como a administrativa, e não oferece
alternativas construtivas aos desmandos que acusa. Em campanha
eleitoral, o partido se mostra incapaz de propor uma agenda positiva
para o futuro, muito menos de reconhecer os erros do passado. Ao
contrário, afirma que vai repeti-los, por exemplo, implodindo o teto de
gastos que estancou a hemorragia fiscal deflagrada no governo Dilma
Rousseff.
Ainda
pior, o PT não só pretende repetir seus erros de gestão, como julga ter
poder de apagar os crimes dos quais foi cúmplice. Em entrevista
coletiva, a sua presidente, Gleisi Hoffmann, afirmou que nunca houve
“corrupção sistêmica”, superfaturamento ou desvio de dinheiro na
Petrobras.
Boa
parte desses delitos foi confessada pelos próprios delinquentes, que
devolveram bilhões desviados à Petrobras. Com base em uma auditoria da
PriceWaterhouseCoopers, a própria Petrobras admitiu no balanço de 2014
que US$ 2,5 bilhões foram pagos a mais a “um conjunto de empresas que,
entre 2004 e abril de 2012, se organizaram em cartel para obter
contratos com a Petrobras, impondo gastos adicionais nestes contratos e
utilizando estes valores adicionais para financiar pagamentos indevidos a
partidos políticos, políticos eleitos ou outros agentes políticos,
empregados de empreiteiras e fornecedores, ex-empregados da Petrobras e
outros envolvidos no esquema de pagamentos indevidos”.
Segundo
Gleisi Hoffmann, a PriceWaterhouse foi obrigada pela Lava Jato a
atestar as perdas. Não há evidências disso. Por outro lado, é notório
que à época o PT pressionou a diretoria da Petrobras comandada por Maria
das Graças Foster, executiva de confiança de Dilma Rousseff, a não
publicar os dados auditados, levando a um impasse e finalmente à
renúncia de Foster e outros diretores. Depois, a Petrobras participou
dos processos judiciais como assistente de acusação do Ministério
Público, recuperando mais de R$ 6 bilhões superfaturados pelos cartéis.
O
Tribunal de Contas da União (TCU), atuando independentemente da Lava
Jato, expôs uma série de ilicitudes nos contratos da Petrobras. Na
construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, o TCU
identificou que o orçamento inicial de US$ 13,4 bilhões foi majorado
para US$ 26,3 bilhões. Ao mesmo tempo que o custo final foi dobrado, a
refinaria produz apenas metade dos 230 mil barris de petróleo
inicialmente previstos. O TCU estimou que as perdas da Petrobras apenas
em Abreu e Lima acumularam US$ 19 bilhões.
Similarmente,
o TCU verificou que a torre Pirituba, em Salvador, inicialmente orçada
em R$ 320 milhões, foi construída pela OAS e a Odebrecht por R$ 1,3
bilhão, e que a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro –
jamais concluída – gerou perdas de US$ 12,5 bilhões.
É
conhecida a candura com que a ex-presidente Dilma Rousseff expôs os
métodos petistas: “Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da
eleição”. Ironicamente, o PT, ciente de que ninguém fez mais do que
Dilma para arruinar o suposto legado de Lula, a incluiu no rol dos erros
a serem esquecidos. O ex-poste de Lula é hoje uma ausência garantida
nos discursos e comícios do demiurgo de Garanhuns.
Lula,
por sinal, afetou melindres em suas redes sociais: “Eu sou de um tempo
onde a disputa era apenas eleitoral. Você não estava numa guerra. Seu
adversário não era um inimigo”. Que o diga a ex-petista Marina Silva,
sordidamente vilanizada pelos marqueteiros do PT nas campanhas de 2014,
ou todos os brasileiros vilipendiados como “fascistas” simplesmente por
recusarem o culto a Lula da Silva.
O
despudor com que o PT tenta reescrever a história do País para
edulcorar sua trágica passagem pelo poder rivaliza com o sistemático
embuste bolsonarista, o que permite prever que a campanha de 2022,
mantido o favoritismo de Lula e Bolsonaro, fará corar o próprio
Pinóquio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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