Cepa dominante acabou com as rivais e com a esperança de que populações altamente vacinadas poderiam vencer a pandemia. Vilma Gryzinski:
A
batalha das variantes nos Estados Unidos acabou. A delta ganhou”. Assim
o Washington Post resumiu a incrível ascensão da mutação que surgiu na
Índia e eliminou as “concorrentes”.
Em
maio, a delta era responsável por 1% das infecções em território
americano. No fim de julho, o índice batia em 93,4%. Na França, o índice
é de 90,4%
“Em poucas semanas, a variante delta mudou os cálculos sobre o que é necessário para acabar com a pandemia”, disse o Post.
O
virologista Benjamin Neuman fez uma comparação fácil de entender – e de
arrepiar: “É como aquele momento em Jurassic Park em que você entende
que os dinossauros estão todos soltos de novo”.
A propagação da delta hoje se estende mais de 130 países.
“O
vírus em si, da forma como começou, é perigoso e altamente
transmissível. A variante delta é mais ainda. É duas vezes mais
transmissível do que a cepa ancestral e 50% mais transmissível do que a
cepa alfa”, comparou Maria Van Kerkhove, epidemiologista da Organização
Mundial de Saúde.
A alfa emergiu na Inglaterra, onde a delta também se tornou dominante, provocando agora avaliações notavelmente pessimistas.
Andrew
Pollard, diretor do Grupo de Vacina de Oxford, disse que, como a
vacinação não consegue barrar a variante, a ideia de que quando 70% ou
mais da população estivesse coberta, seria atingido o limiar da
imunização coletiva, se tornou “mítica”.
“O
problema com esse vírus é que ele não é o sarampo. Se 95% das pessoas
estão vacinadas contra o sarampo, o vírus não consegue se transmitir.
Mas a variante delta continua a infectar pessoas que foram vacinadas”.
“Não temos nada que realmente consiga interromper esta transmissão”.
A
situação não é inteiramente desesperadora porque as vacinas, se não
conseguem acabar com os contágios, são eficazes para diminuí-los. Um
estudo do Imperial College London indica que, na faixa dos plenamente
vacinados entre 18 e 64 anos, a probabilidade de contágio é quase 50%
menor.
Mas
a queda na proteção é suficientemente acentuada para que alguns
especialistas digam que o mundo vive hoje uma pandemia da variante
delta. Segundo um estudo com mais de 50 mil pacientes da renomada rede
de hospitais Mayo, a eficácia da vacina da Moderna caiu para 76% e a da
Pfizer para 42% (relembrando: a gravidade da doença entre os vacinados é
significativamente amenizada).
A
delta é chamada de “variante múltipla”, misturando mutações da cepa
californiana e da sul-africana, entre outras. Todas elas ajudam o
coronavírus a “grudar” mais nas células e assim se propagar mais
facilmente – o imperativo biológico de todos os vírus.
Estranhamente,
como tantas outras coisas nessa pandemia, na Índia, o berço da delta, a
pandemia está passando por um recuo notável. Do pico de 4.329 mortes em
18 de maio, o número caiu par 617 na sexta-feira passada. Ao todo, o
país já teve 430 mil mortes – um dado que é visto com relutância, mas é o
único que existe.
Antes
que comecem as especulações: no começo de junho, o Ministério da Saúde
indiano retirou a recomendação sobre o uso de ivermectina e doxiciclina
para casos assintomáticos ou brandos da doença – o que não impede que
governos estaduais continuem com a medicação.
A
Índia tem 28 estados e mais de 1,3 bilhão de habitantes, um número
estratosférico que antecipava uma tragédia de proporções dantescas
quando a epidemia tomou o país, considerando-se inclusive a
impossibilidade de que o lockdown decretado no fim de março fosse
inteiramente acatado.
O
caso indiano dá motivos de esperanças na guerra a um inimigo insidioso
como o novo coronavírus, cheio de truques e mutações que causam
desalento quando o momento deveria ser de otimismo, indicando que talvez
estejamos fadados a conviver com ele durante muito tempo.
blog orlando tambosi
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