Quando a arte, mesmo a arte popular, se subordina ao ativismo e a uma agenda ideológica, seja ela qual for, deixa de ser arte. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Na
nova edição da série de quadrinhos da DC Comics “Batman – Urban
Legends”, o personagem Tim Drake, a terceira versão do menino-prodígio
Robin, revela a sua bissexualidade ao aceitar um convite para um
encontro amoroso com outro homem – que ele acabara de salvar de uma
situação de perigo. Como era previsível, as redes sociais entraram em
polvorosa, celebrando mais um triunfo da representatividade LGBTQIA+ na
indústria do entretenimento.
Já há algum tempo as histórias em quadrinhos da DC Comics estão na vanguarda do movimento de celebração e naturalização de sexualidades não-convencionais. Os casos mais recentes são a Arlequina, parceira de crime do Coringa, já retratada como bissexual, e a nova Batwoman, assumidamente lésbica. Mas há muitos outros casos, tantos que já foram catalogados em uma página na internet nas seguintes categorias: assexuais (cinco personagens), bissexuais (125 personagens, incluindo a Mulher-Maravilha e a Mulher-Gato), homossexuais (345 personagens), pansexuais (cinco personagens), agênero (93 personagens), intersex (3 personagens), não-binários (25 personagens) e transgênero (18 personagens).
São
literalmente centenas de personagens não-heterossexuais, 99% dos quais
não incomodam ninguém – em parte porque são desconhecidos do grande
público. Eles aparecem basicamente em revistas voltadas a aficionados,
aquilo que se costumava chamar de produtos de nicho, que desde sempre
existiram: uma ilusão da nova geração de progressistas, aliás, é
acreditar que foram eles que inventaram a homossexualidade, a
bissexualidade etc, práticas correntes desde a Grécia Antiga (vão
estudar História!). Acreditam, também, que foram eles que inventaram o
combate ao preconceito, quando na verdade o preconceito vem diminuindo
década após décadas - sem o clima de guerra atual que pode acabar
acirrando o preconceito.
Isso
não acontece só com a DC Comics: a sua grande rival Marvel também se
rendeu nos últimos anos à militância lacradora e à ideologia de gênero,
como abordei no artigo “Os super-heróis do nosso tempo”, sobre os novos
“New Warriors”. Por sua vez, Estrela Polar, um dos personagens de
“X-Men”, se casou no altar com o seu parceiro Kyle Jinadu.
Voltando ao caso de Batman e Robin: o homem-morcego foi criado em 1939 por Bob Kane (Robin só apareceu 1 ano depois), mas pelo menos desde que a clássica série de televisão (produzida entre 1966 e 1968 e estrelada por Adam West e Burt Ward) popularizou os personagens, boatos sobre a sexualidade de Robin não pararam de circular. Tanto que um internauta teve a reação abaixo diante do recente anúncio da DC:
Ou seja, há quase 60 anos o mundo convive com naturalidade com a hipótese de Robin ser gay. E a série de televisão do final dos anos 60 seguramente contribuiu para alimentar os rumores, em cenas de intimidade física entre Batman e Robin como a da foto abaixo, sem que isso gerasse qualquer polêmica.
Quando a arte, mesmo a arte popular, se subordina ao ativismo e a uma agenda ideológica, seja ela qual for, deixa de ser arte. Seja nos quadrinhos, na televisão ou no cinema, a sexualidade de Batman e Robin nunca foi algo relevante justamente porque o objetivo das suas histórias era entreter, não defender bandeiras. Exceção feita à militância progressista, quem vai assistir a um filme de super-herói, ou uma série de aventura ou suspense, que ver ação e uma trama movimentada, não um manifesto de defesa de minorias.
É
claro que isso nunca impediu espectadores de pensarem que Robin era
gay, mas nunca foi este o foco da história. Agora é. Algo que era
percebido como natural e até divertido sem precisar ser explicitado
agora precisa ser explicitado como o “novo normal”.
E
daí? E daí que tudo isso sinaliza que o alvoroço em torno do Robin
bissexual não foi provocado exatamente pelo fato de ele sair do armário,
mas pelo fato de um certo ativismo de gênero – aquele que que luta não
pela tolerância nem pela harmonia entre diferentes condutas sexuais, mas
pelo conflito e pela imposição hegemônica de determinadas condutas
sobre outras – ter vencido mais uma batalha no front da ideologia de
gênero, em meio à guerra cultural que vem dominando tristemente o
planeta.
Outro
episódio recente nessa guerra – este mais delicado, por se tratar de um
personagem voltado ao público infantil – foi o anúncio da Nickelodeon
de que Bob Esponja é gay, em junho de 2020. Ora, Bob Esponja é assistido
por crianças em idade pré-escolar: transformar o desenho em símbolo da
militância de gênero é adequado? É pedagogicamente recomendável submeter
esse público a uma campanha ligada à sexualidade? Com que objetivo se
faz isso?
Aliás, outros dois personagens da Nickelodeon já fazem oficialmente parte da comunidade Bob Esponja faz parte da comunidade LGBTQIA+: Korra, da animação “Avatar – A lenda de Aang”, bissexual, e Schwartz, da série “Henry Danger” interpretado por um ator trans.
Os
episódios de Robin e Bob Esponja demonstram que, embora a bandeira da
representatividade de minorias seja legítima e precise ser
constantemente debatida, ela vem servindo de escudo para iniciativas
equivocadas, quando não maldosas. Não é preciso ser de direita ou
conservador para estranhar a deliberada exposição de crianças a
campanhas envolvendo sexualidade, até porque parece óbvio que
protagonistas de séries e desenhos infantis funcionam como modelos de
identidade e comportamento para um público em formação.
É
evidente que qualquer forma de intolerância deve ser combatida. Mas por
que pais heterossexuais, que acreditam no modelo tradicional da
família, deveriam achar bonito ver seus filhos expostos desde a mais
tenra idade a conteúdos que partem da premissa de que uma criança não
nasce menino nem menina, e que o sexo é uma construção social? Porque
existe uma diferença bem grande entre uma educação voltada para a
inclusão e o combate ao preconceito e uma educação empenhada em fazer
das crianças cobaias de um experimento social cujas consequências só vão
aparecer bem mais tarde.
Mas,
quando alguém ousa criticar a ideologia de gênero, é imediatamente
desqualificado como reacionário, nazista, homofóbico, genocida etc. Isso
já está provocando uma preocupante espiral de silêncio, na qual a
maioria se cala para não ser perseguida por milícias barulhentas
dedicadas a silenciar qualquer opinião divergente na base da intimidação
e do constrangimento. É o “ódio do bem” em ação. Nada de bom pode vir
daí.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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