Ela já está no negativo em termos de popularidade, uma surpresa para quem chegou ao cargo com a expectativa de que substituiria o chefe. Vilma Gryzinski:
Joe
Biden já está com seis meses de governo e, obviamente, os políticos só
pensam naquilo: como será a eleição presidencial de 2024.
“Meu
plano é concorrer à reeleição”, já disse ele, desafiando os descrentes
na candidatura de um homem que terá até lá 81 anos, um limite complicado
até para os mais entusiastas dos bidenistas.
Quando
sua primeira candidatura se solidificou, parecia tudo certo. Como
centrista, Biden teria o apoio do Partido Democrata em peso, num
vale-tudo para desbancar Donald Trump. Governaria por apenas um mandato e
abriria caminho a sua vice, Kamala Harris.
Mulher,
meio negra e meio indiana, muito mais progressista do que Biden, bonita
e carismática, ela estaria com o futuro garantido. Só precisaria tomar
cuidado para não ofuscar o chefe, o pecado capital de qualquer vice.
Como
em política a realidade é semovente, está saindo tudo ao contrário. Em
lugar de brilhar, Kamala agora é a pessoa menos popular da era moderna a
ocupar o cargo de vice-presidente.
Segundo
pesquisas recentes, 46% dos americanos aprovam sua atuação, contra 48%
que reprovam. Biden não tem uma aprovação brilhante – 51,3%, na média -,
mas ainda está acima da linha d’água.
E
não adianta Kamala reclamar que o chefe lhe reservou um abacaxi
daqueles, ao colocá-la como principal integrante do governo em matéria
de política fronteiriça.
Quando
foi vice de Barack Obama, Biden recebeu a mesma missão e, como em tudo
mais, não teve uma atuação brilhante. Mas o assunto ainda não tinha as
dimensões que ganharia – tendo se tornado o maior propulsor da eleição
de Donald Trump.
O problema ficou muito pior com a eleição de Biden, lida como uma declaração de porteiras abertas.
Kamala
Harris teve que assumir a postura do governo – “Se você está vindo para
nossa fronteira, será mandado de volta. Não venham”, disse ela em vista
à Guatemala -, o que lhe valeu a antipatia da ala esquerdista do
Partido Democrata, da qual era uma integrante. E não mudou absolutamente
nada na emigração em massa rumo aos Estados Unidos.
Além
disso, criou uma polêmica inútil ao passar meses fisicamente
distanciada do foco do problema, recusando-se a visitar as regiões
fronteiriças.
A
vice-presidente estava acostumada às delícias de ser senadora, onde
podia fazer exatamente o que queria, amparada por um eleitorado, o da
Califórnia, tão progressista quanto ela. Agora, enfrenta a pedreira de
uma posição no executivo, com decisões muito mais difíceis e pouca
autonomia.
Isso
significa que sabotou suas chances para disputar a presidência? É muito
prematuro para cravar. Muito dependerá de questões sobre as quais não
tem nenhum controle. Os dois eixos que definirão o sucesso do governo
Biden, e portanto a imagem da sua vice, são o combate à pandemia e a
recuperação econômica.
No momento, até aliados férreos estão sugerindo que Biden foi precipitado ao declarar ganha a guerra contra a Covid-19.
Num
cenário bom, a barreira dos 170 milhões de vacinados segura a variante
delta, a economia comemora os grandes projetos de infraestrutura que
seriam aprovados com votos de vários republicanos, a inflação causa
apenas desconforto passageiro, as massas de imigrantes irregulares são
absorvidas. Joe Biden, ou quem ele apoiar, está com a eleição garantida.
Caso
nada disso aconteça, o Partido Republicano entra com candidatos fortes
como Ron DeSantis, o governador da Flórida, ou a ex-embaixadora na ONU
Nikki Haley (se ela disputasse com Kamala Harris, seriam duas mulheres
de origem indiana na parada, mais uma prova do excepcionalismo
americano).
Com 56 anos, Kamala também tem tempo suficiente pela frente para esperar sua chance depois de um segundo mandato de Joe Biden.
Só
precisa parar de encolher, recuperar a habilidade argumentativa que
teve como senadora e secretária estadual de Justiça e fazer de conta que
está no controle de um dos problemas mais impossíveis do mundo, o das
massas humanas dispostas a tudo para ter uma vida melhor nos Estados
Unidos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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