
Posição de Mourão se choca frontalmente com a de Bolsonaro
Pedro do Coutto
Em declarações contidas na reportagem de Dimitrius Dantas e Daniel Gullino, O Globo desta quinta-feira, o general Hamilton Mourão considerou a rejeição do voto impresso como um assunto encerrado. A Câmara tomou uma decisão soberana a respeito do tema e assim o assunto teve o seu desfecho.
A posição do vice-presidente da República diverge frontalmente do ângulo em que se coloca o presidente Jair Bolsonaro, que na mesma edição de O Globo voltou a afirmar que o que a Câmara decidiu questiona a lisura do pleito. No caso, digo, não do pleito passado, mas daquele que ainda ocorrerá nas urnas em outubro de 2022.
DIVERGÊNCIA – O vice-presidente destacou que a Justiça Eleitoral vai agir, dentro do processo de votação em vigor, para proporcionar mais publicidade e transparência à computação dos votos. Em contraste, o presidente Bolsonaro voltou a dizer que o resultado registrado na Câmara foi obtido com ameaças e pressões indevidas. Portanto, mais esse episódio deixa clara a divergência existente entre Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, e que, como é lógico, se reflete e procede de uma diferença política ainda maior que veio se registrando entre ambos desde a posse do atual governo em janeiro de 2019.
Uma divergência que incluiu também a falta de combate ao desmatamento na Amazônia e das queimadas no Pantanal, fatos em relação aos quais o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles não tomou qualquer providência. Pelo contrário, procurou sempre dar apoio aos responsáveis pela derrubada ilegal das florestas verdes das regiões.
FRAGILIDADE – O afastamento entre o presidente e o vice, no meu ponto de vista, vai se acentuar sobretudo a partir do momento em que concretamente entrar em pauta a substituição de Bolsonaro por Hamilton Mourão. O presidente, extremamente enfraquecido, tornou-se tanto responsável pela sanção da sua candidatura nas urnas de 2018, quanto por sua queda no poder político, processo que ganhou velocidade e se destacou a partir da última semana.
Política é assim, as situações mudam em espaços curtos de tempo. Dizer que o vice-presidente não é o mesmo daquele que compôs a chapa vitoriosa significa ignorar que o presidente da República não é o mesmo daquela figura democrática e ética com que se apresentou ao eleitorado brasileiro.
CUSTO DE VIDA – A reportagem da TV Globo levada ao ar no Jornal Nacional de quarta-feira, deixou claro e destacou o aspecto dramático do aumento do custo de vida diante da explosão dos preços das cestas básicas dos supermercados e do bloqueio do direito popular legítimo de alimentação das famílias. O ministro Paulo Guedes não tem nenhuma solução para o gravíssimo problema.
Por outro lado, são inevitáveis as consequências da queda de popularidade de um governo que, em parte por reflexo das ideias de Paulo Guedes, encontra-se cada vez mais próximo de seu final. Tanto o setor de alimentos é capaz de produzir núcleos muito altos para quem abastece o mercado que as Lojas Americanas compraram o Hortifruti por R$ 2,1 bilhões, conforme revela a reportagem de Bruno Rosa e Glauce Cavalcanti, O Globo de ontem, quinta-feira.
Além disso, o preço da gasolina, também nesta semana, subiu novamente na escala de 3,3%. O que o IBGE e a Fundação Getúlio Vargas podem dizer a Paulo Guedes e, sobretudo, o que podem dizer da atuação do mesmo ministro ?
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