MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 14 de agosto de 2021

Ataques da família Bolsonaro contra China não prejudicaram relações econômicas com o Brasil

 


A deputada(DEM-MS), futura ministra da Agricultura — Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Tereza Cristina criou o Núcleo China e acalmou os ânimos

Deu na BBC

As tensões políticas entre Brasil e China, com declarações repetidas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pessoas do seu entorno contra o gigante asiático, não afetaram as relações econômicas entre os dois países no ano passado — os investimentos chineses devem continuar e miram um “horizonte de longo prazo”, diz um novo relatório do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

E mais: apesar das críticas à China, as ações concretas do governo brasileiro indicaram “mais continuidade do que ruptura na relação bilateral”, acrescenta o documento intitulado “Investimentos chineses no Brasil: histórico, tendências e desafios globais (2007-2020)”, o mais abrangente já realizado sobre o tema.

NO LONGO PRAZO – “Os investimentos chineses no Brasil são de longo prazo e isso é o que orienta a estratégia da China. Governos começam e acabam — o que importa é a relação harmoniosa entre os dois países, que já vem de muito tempo e historicamente sem atritos”, explica Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC e autor do relatório.

Em 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, superando os Estados Unidos. “Existe, portanto, um certo limite que a China aceita em relação às críticas que recebe. Veja o caso da Austrália”, assinala Cariello.

A China é o maior parceiro comercial da Austrália, enquanto a Austrália é uma das principais fontes de recursos para a China. Mas as relações entre os dois países vêm se deteriorando desde 2018. Recentemente, chegaram a novo ponto baixo, com o apelo do governo australiano por uma investigação independente sobre a origem do coronavírus.

COTAÇÃO DO FERRO – As tensões foram a principal causa da disparada no preço do minério de ferro em maio — a Austrália é o maior produtor mundial da matéria-prima, enquanto a China, o maior consumidor.

Nos últimos meses, a China suspendeu um acordo econômico com a Austrália e denunciou o país à Organização Mundial do Comércio (OMC) por concorrência desleal. Já militares australianos insinuaram guerra com a China.

Mas, no caso específico do Brasil, diferentemente da Austrália, há uma dissonância entre a retórica de Bolsonaro e de seus aliados mais próximos, inclusive seus filhos, contra a China, e as ações de sua gestão, ressalva Túlio Cariello.

MOURÃO EM PEQUIM – Em seu relatório, Cariello cita como exemplo a viagem do vice-presidente Hamilton Mourão a Pequim, para participar da reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), o principal mecanismo de diálogo bilateral entre Brasil e China, cinco meses após a posse.

“O gesto significou a reativação das atividades da Cosban, que deveria ter encontros a cada dois anos, mas não se reunia desde 2015. A questão dos investimentos foi um dos pontos da agenda, com indicações de que o governo brasileiro apoiava a entrada de novos aportes chineses no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos”, diz o relatório.

Além disso, no ano passado, lembra Cariello, o Ministério da Agricultura criou um “Núcleo China”, uma unidade especial que cuida das relações com o gigante asiático, principal destino das exportações brasileiras do agronegócio.

IDEIA DA MINISTRA  – Segundo o jornal Valor Econômico noticiou na época, a criação do departamento estratégico foi ideia da ministra Tereza Cristina e “uma surpresa até para quem trabalha na área internacional do ministério”. Cristina buscou na iniciativa privada um nome para chefiar a unidade: Larissa Wachholz, ex-diretora da consultoria de investimentos Vallya e com mestrado em Estudos Contemporâneos da China pela Universidade de Renmin, morou em Pequim por cinco anos e fala mandarim.

De fato, os investimentos chineses confirmados no Brasil caíram drasticamente no ano passado — 74% — atingindo US$ 1,9 bilhão, o menor valor registrado desde 2014. O número de projetos caiu para oito, 68% a menos do que em 2019, “ainda que a soma de aportes totais, incluindo anunciados e confirmados, tenha chegado a 15, ficando na média dos projetos entre 2011 e 2016”, assinala o relatório.

Apesar disso, ressalva o documento, “esse tombo pode ser interpretado mais como um esfriamento dos fluxos de investimentos globais no exterior, que caíram 35% em 2020, do que por atritos políticos bilaterais.

TENDÊNCIA SIMILAR – No Brasil, o cenário não foi diferente, com queda de 61,5% dos aportes estrangeiros de forma geral, tendência similar ao declive de 50% apontado pelo Banco Central”.

O relatório destaca que outros importantes receptores de aportes chineses no exterior passaram por situações semelhantes. Em 2020, houve redução dos investimentos na União Europeia e Reino Unido (-43%) e Austrália (-39%), “regiões onde há quedas contínuas desde 2017”.

Ou seja, apesar de críticas ao gigante asiático pela família Bolsonaro, ações concretas do governo brasileiro indicaram “mais continuidade do que ruptura na relação bilateral”, diz o relatório que faz um raio-x dos investimentos chineses no Brasil.

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