O
retorno às aulas presenciais está acompanhado de muitos desafios:
recuperar o possível atraso de conteúdo, ter cuidado para que os
protocolos de saúde sejam seguidos e, principalmente, lidar com as
emoções de alunos, famílias e educadores.
“Sabemos
que a escola que foi fechada total ou parcialmente em março de 2020
será uma nova escola. Alunos, professores e funcionários podem ter
adoecido neste período - física ou emocionalmente -, alguns voltarão
enlutados. Regressaremos para uma escola na qual as pessoas não poderão
se abraçar. Por isso, o nosso trabalho com a comunidade escolar tem sido
despertar a consciência de que precisamos construir novas formas de
demonstrar afeto”, explica Camila Cury, psicóloga e fundadora da Escola
da Inteligência.
Tudo
isso gera muita angústia e medo, mas é possível diminuir o índice de
ansiedade, evitar o pânico e desenvolver a consciência social. Para esse
novo momento, a Escola da Inteligência sugere compreender como os estudantes, famílias e equipes passaram por esse período de isolamento.
“Nos
primeiros dias ou até as primeiras semanas da retomada, é importante
trabalhar práticas de acolhimento. Mais do que nunca, a parceria família
e escola precisa ser fortalecida para que os estudantes passem
por este período com inteligência emocional e levem na bagagem da vida
competências e habilidades essenciais para este novo mundo”, diz Camila Cury.
“Nós vamos ter que lidar com vários desafios, mas os aspectos emocionais vão interferir diretamente na dinâmica cognitiva. Não
basta aumentar as horas de reforço ou empilhar informação no córtex
cerebral, se nós não trabalharmos com o medo e a ansiedade dos alunos.
Enfrentaremos um cenário muito hostil e os transtornos emocionais que
já vinham sendo protagonistas desta geração”, completa Camila.
Dados
recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que 45% dos
jovens, no mundo, apresentam sintomas de depressão, 43% já tiveram
episódios clássicos de ansiedade e que o suicídio já é a segunda maior
causa de morte na faixa etária de 15 a 29 anos, perdendo apenas para
acidentes de carro.
“Antes
da pandemia, já tínhamos que enfrentar uma geração com muitos desafios
emocionais, com famílias desestruturadas, professores angustiados e
deprimidos. Agora, o cenário pede mais atenção pois a educação vai ter
que se deparar com uma juventude desorientada”, afirma Camila.
Confira algumas dicas da Escola da Inteligência para retomar as aulas presenciais de maneira acolhedora:
1. Sugerir uma saudação diferenciada.
Quando as aulas voltarem, os abraços e beijos ainda não serão possíveis
como forma de demonstrar carinho e cumprimento. Que tal trocá-los por
uma saudação diferenciada? Uma reverência, uma música, por exemplo. É
possível trabalhar a empatia e buscar conhecer as variedades de
cumprimentos que existem no mundo e ressaltar as diversidades culturais.
Pode ser um “tchauzinho” com as mãos, autoabraço ou envio de beijos.
Outra ideia é estimular o lado artístico na volta às atividades
presenciais com maior frequência: alunos fazendo “passinhos” como forma
de cumprimento ou sendo recebidos na escola por algum amigo cantando ou
tocando uma música.
2. Atividade expectativa/realidade. Logo
no início da volta às aulas com maior frequência das atividades
presenciais, uma sugestão é fazer uma dinâmica com os alunos para
compreender como se sentem e gerenciar a ansiedade do retorno. Uma
atividade pode ser dobrar a folha ao meio e fazer um traço. De um lado
da folha, na parte superior, os alunos devem escrever a pergunta: como
será a volta às aulas presenciais? Na outra parte da folha: como eu
gostaria que fosse?
Após
a escrita ou desenho, todos podem refletir e dialogar sobre as
expectativas e realidades que poderão encontrar neste retorno, expressar
os sentimentos que surgirem. Trata-se de uma forma de descobrir que os
sentimentos e emoções que foram compartilhados também são divididos
pelos colegas e que não estão sozinhos.
3. É possível também fazer dinâmicas
para criar máscaras com pano de algodão e feltro com desenhos que
expressem sentimentos saudáveis. Nesse cenário da pandemia, não podemos
ver os sorrisos de cada um, pois estão todos de máscaras. Então, os
sorrisos podem ser substituídos por máscaras com desenhos sorridentes.
4. Ou ainda montar moldes de beijos e abraços em palitos de picolé ou churrasco
para despertar a consciência de que neste momento não devemos nos tocar
e que precisamos construir novas formas de demonstrar afeto. Isso
estimula algumas competências socioemocionais, como empatia,
criatividade, autocuidado e consciência social.
5. Há muitas outras atividades que podem ser criadas para tornar essa volta às aulas mais confortável, como um calendário de emoções com desenhos ou descrição dos sentimentos ou brincadeiras em que se explique de forma bem didática sobre os cuidados no dia a dia da rotina escolar.
6. Ajudar a voltar a uma rotina de forma agradável
– Em casa ou na escola, envolva as crianças e os adolescentes no
planejamento e produção da nova rotina. Assim, será possível ganhar a
confiança deles e desenvolver a autonomia. Ainda, conhecendo as
atividades e horários, os estudantes ficam menos ansiosos e mais
cooperativos.
7. Como lidar com o luto
– muitas crianças e profissionais da educação perderam familiares e
amigos para a Covid-19. Diante deste momento de luto e de sofrimento, é
importante que a escola seja esse ambiente de acolhimento e empatia. Que seja um espaço com atividades que propiciem a escuta mútua, como rodas de conversa e produção de textos, desenhos ou outras formas de expressar e validar os sentimentos.
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