
Charge do Sinfronio (twitter.com)
Pedro do Coutto
Em solenidade no final da tarde desta quinta-feira no Palácio do Planalto, em que cumprimentou os oficiais recentemente promovidos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ter certeza do apoio total das Forças Armadas, seguindo a sua linha habitual que confunde a fantasia com a realidade, voltando a frisar que elas constituem o poder moderador. A reportagem da Folha de S. Paulo desta sexta-feira é de Ricardo Della Coletta, Marianna Holanda e Mateus Vargas.
Como acentuei, confundindo o que deseja com o que o está acontecendo de fato, Bolsonaro disse ter certeza “do apoio dos militares nas decisões do presidente para o bem da nação” e que as Forças Armadas são a certeza da garantia da liberdade e da democracia. O conteúdo da fala conduz a uma sensação peculiar do autoritarismo e Bolsonaro se equivocou mais uma vez; o apoio total do Exército, da Marinha e da Aeronáutica dependem do caráter de cada iniciativa formalizada pelo Planalto.
CRÍTICAS – Além disso, Bolsonaro voltou a criticar o ministro Luiz Fux, presidente do STF, pelo fato de ter se solidarizado com o ministro Luís Roberto Barroso. O presidente, porém, não citou a ameaça que fez no início da semana de usar as armas “fora das quatro linhas da Constituição Federal”.
A meu ver, apoio condicional não existe, só em tempos de guerra como a que marcou a luta contra o nazismo de 1939 a 1945. Ninguém pode ter certeza de que alguém ou que alguma entidade pode destinar apoio total sem analisar o conteúdo do que está sendo objeto de apoio. Apoio para golpe contra as instituições, penso eu, Jair Bolsonaro não poderá obter.
TARCÍSIO MEIRA – O grande ator Tarcísio Meira foi mais um personagem que deixou esta vida atingido pela Covid-19. Foi e continua sendo um grande ator, cujo desempenho máximo, na minha opinião, foi viver o personagem do escritor Euclides da Cunha, morto por Dilermando de Assis com quem a sua mulher estava residindo no bairro da Piedade, no Rio.
Foi um desempenho extraordinário. Deu vida e voz a um personagem mais contraditório do que vítima, como um ser humano apaixonado. Conforme digo sempre, ter amor por alguém, como seus filhos e filhas, é essencial à nossa existência. No entanto, Deus nos livre das paixões, sejam de que tipo forem.
MARCA DO TALENTO – São estados febris que abrem caminho às violências físicas, morais e psicológicas. Um dos efeitos da paixão pela mulher é considerá-la um objeto de sua propriedade. Essa questão, Tarcísio Meira interpretou de maneira estupenda na figura do intelectual e autor de “Os Sertões”, Euclides da Cunha. Como os grandes atores, o seu destino é deixar na dramaturgia brasileira a marca do seu talento, a força de suas interpretações e o clima de sua singular personalidade nas histórias que interpretou.
Na realidade, autores como Shakespeare, Nelson Rodrigues, Charles Chaplin são eternos. Mas dependem dos atores que, interpretando seus comportamentos, acentuam a força de uma realidade menos aparente do que parece. Tarcísio Meira, no fim de sua estrada, deixou para sempre imortalizadas as vidas de seus personagens e a vida dele próprio.
O HORROR DE PAULO GUEDES – Brilhante o artigo da grande jornalista Flávia Oliveira na edição de ontem de O Globo sobre o horror que o ministro Paulo Guedes tem em relação aos pobres e que, de forma direta ou indireta, acabou transferindo para a administração Bolsonaro.
São direitos trabalhistas cortados, são reduções do FGTS que favorecem as empresas, são congelamentos salariais sucessivos, enquanto os preços sobem sem parar, como vimos ao longo desta semana. Pobres não têm direito a nada na visão de Paulo Guedes, um escravagista moderno, voz quase isolada do século XXI.
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