O 5G é uma política industrial que vai ampliar o horizonte da indústria 4.0 no Brasil
* Por Daniel Vilas
A
indústria 4.0 não é um conceito novo, mas só agora está se
desenvolvendo no Brasil. A crise da covid-19 evidenciou a importância da
robótica, da inteligência artificial, da Internet das coisas,
computação em nuvem, processamento de dados (big data) para a gestão do
trabalho e para a organização das empresas.
O termo 4.0 é uma referência à 4ª Revolução Industrial, pela capacidade que esse conjunto de tecnologias tem de trazer resultados expressivos em competitividade e produtividade para as empresas. E pelo potencial de revolucionar a forma de produção das economias, principalmente a produção industrial.
Para se ter uma ideia de resultados e ganhos práticos, é importante saber que as empresas que adotaram indústria 4.0 lucraram e contrataram mais do que as manufaturas mais tradicionais, segundo pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que ouviu cerca de 500 indústrias, de todos os portes. Entre as que adotaram de uma a três tecnologias digitais na produção, 54% registram hoje um lucro maior que no período pré-pandemia. Esse resultado está 7% acima do registrado pela indústria analógica.
E a importância da automação vai além de garantir competitividade local. Tanto é que alguns países desenvolvidos estão buscando recuperar suas plantas produtivas industriais que haviam sido “emprestadas” para outras regiões. Tamanha é a relevância de uma planta produtiva 4.0 para uma reorganização das cadeias globais de valor.
O Brasil sempre participou na cadeia global de valor por ligações com outros países que utilizam insumos brasileiros em suas exportações, mas vale ressaltar que para o nosso país tirar melhor proveito da cadeia global é preciso participar das etapas de produção com maior valor agregado, estimular investimentos em planejamento e desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Criação de valor com IoT e IA
Quando a inteligência artificial é combinada com a internet das coisas (IoT) - toda e qualquer tecnologia que possibilita que os mais diferentes objetos se conectem à internet e interajam com ela - começamos a ver alguns caminhos que se abrem para a Indústria 4.0, como o monitoramento da produção por sensores IoT totalmente integrados a plataformas Saas e gerenciados em tempo real. Esses dispositivos captam o funcionamento de máquinas, motores, equipamentos de fábrica, sistemas de ar-condicionado, linhas de montagem, e junto com algoritmos podem prever falhas e avisar aos gestores de manutenção antes que a produção precise ser paralisada.
Além disso, podem ser monitoradas diversas variáveis em ambientes industriais e corporativos como: refrigeração (geladeiras e freezers), utilities (água, energia, gás), ambientes (CO₂ / temperatura / umidade / ruído e luminosidade / fluxo de pessoas), localização de equipamentos. Edifícios, lajes corporativas, aeroportos, shoppings, data centers, grandes lojas de varejo, bancos, telecom, saúde hospitalar, são exemplos de áreas que estão se beneficiando dessas tecnologias.
Softwares inteligentes podem também otimizar a programação de ordens de serviço, a gestão de equipes, de nível de serviço, a gestão de inventários, permitindo o gerenciamento automatizado desses ativos, o que reduz o gasto das empresas.
É assim que se cria valor com IoT, aliando manutenção preventiva com redução de custos, aumento da produtividade, diferenciação em produtos e na cadeia de valor, diminuindo a complexidade do produto/serviço para o consumidor final. Tudo isso é vantagem competitiva. Essas tendências devem alimentar o crescimento do mercado mundial da Indústria 4.0, estimado em US$ 90,6 bilhões (aproximadamente R$ 475 bilhões) no ano de 2020, e projetado para atingir a marca de US$ 219,8 bilhões (R$ 1,15 trilhão) até 2026, segundo relatório da Global Industry Analysts Inc. (GIA) publicado em 14 de julho.
Indo um pouco além da internet das coisas na produção industrial, é interessante ver seu uso em diferentes segmentos, com resultados de impacto na organização de cidades, na melhoria da qualidade do ar e da água, na aceleração de tratamentos médicos, na preservação do meio ambiente, sempre condicionada à capacidade humana de analisar os dados que os dispositivos conectados geram.
Gosto de imaginar se quase tudo - ruas, pára-choques de carros, portas, barragens hidrelétricas - tivesse um minúsculo sensor. E se todos esses sensores se conectassem sem fio a data centers, onde milhões de computadores gerenciam e aprendem com todas essas informações. Seria possível que esses servidores enviassem comandos de volta para ajudar os sensores conectados a operar de maneira mais eficaz? Penso que sim. É esperável que a evolução da tecnologia permita uma casa aumentar automaticamente seu aquecimento antes do frio chegar, ou as luzes da rua se comportarem de maneira diferente quando o tráfego ficar ruim.
Ou imagine uma seguradora resolvendo rapidamente quem deve pagar pelo que, um instante depois de uma batida de carro, porque recebeu automaticamente informações sobre o acidente. Penso nisso como um enorme processo no qual as máquinas coletam informações, aprendem e mudam com base no que aprendem. Tudo em segundos. Isso já está acontecendo em projetos de IoT administrados por grandes empresas como General Electric e IBM.
Voltando ao início da reflexão e considerando que as tecnologias 4.0 podem otimizar tanto o varejo, quanto as mais variadas indústrias, podendo reorganizar a cadeia produtiva, a distribuição da produção, reduzir transportes, concluo que elas permitirão também uma trajetória mais sustentável do desenvolvimento industrial. Principalmente porque as inovações ajudam a reduzir o desperdício de recursos naturais, contribuem para diminuir a poluição e problemas como a geração de gases tóxicos. Assim, a Indústria 4.0 é ainda uma aliada no combate às mudanças climáticas.
No Brasil ainda temos muito a evoluir, colocando esse debate na discussão econômica do país. Em países desenvolvidos o debate sobre novas tecnologias começou logo após a crise global de 2008, ou seja, eles desenham políticas para esse fim há mais de dez anos. O 5G é uma política industrial que vai ampliar o horizonte da indústria 4.0 no Brasil. Estamos aguardando ansiosamente o lançamento das redes de quinta geração. No final das contas, será a inovação que definirá o futuro dos países e o futuro das economias dos países.
* Daniel Vilas é diretor geral da Solvian, empresa de tecnologia do grupo ATMA
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Cynthia Trevisani
Diretora de comunicação
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(11) 96575-1595
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